O Homem Baile

‘Supostamente rock’

Molho Negro mostra a essência sarcástica que lhe é peculiar em ótima performance no Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Mila Maluhy.

O rockstar João Lemos, do Molho Negro, ainda bem composto em um dos shows de abertura do Lolla 19

O rockstar João Lemos, do Molho Negro, ainda bem composto em um dos shows de abertura do Lolla 19

Pouco passa do meio-dia, o Lollapalooza nem começou direito e já tem guitarrista se estrebuchando no palco em meio a um mormaço de céu desprovido de nuvens. Ousado, o tal guitarrista ainda desce do palco para, no meio do público, orquestrar uma “wall of death” ou “divisão do mar vermelho”, como queiram, de modo a colocar os parcos fãs que ainda chegam nesse final de mundo se debaterem uns contra os outros. E depois fica por ali, tocando e cantando no meio da turba, até que se esgote o tempo regulamentar. É o Molho Negro abrindo os trabalhos no Palco Adidas, aquele que fica lá onde o indie perdeu o all star, nesta sexta, dia 5.

O trio sabe usar bem o telão, não com climas ou imagens sensacionais, mas, basicamente, mostrando os títulos das músicas – dez no total – e trechos das letras que se esperam que sejam cantadas. O que faz de um show de rock algo didático e até independente da força das canções, coisa que, diga-se de passagem, sobra no som garageiro inspirado no grunge menos trabalhado, mas igualmente barulhento do trio. Grunge que cede à banda como principal referência o Nirvana, imortalizado em “Fã do Nirvana”, que curiosamente segue querendo saber quem matou Kurt Cobain no exato aniversário de 25 anos da morte do músico. Um tema espinhosos que vira diversão, com o selo Molho Negro de sarcasmo.

Sarcasmo que tirou João Lemos, o tal guitarrista, dos cafundós da periferia de Belém do Pará, terra de música de gosto questionável, para o mundo dos artistas, fato assumido por ele próprio durante o show e descrito em músicas como a ótima “Black Rebel Marambaia Club”, a primeira a inspirar uma mini roda de dança, e na divertida “Mainstrean”, que rende tiradas certeiras como “nesse festival supostamente de rock”, e o primeiro coro antifascista do dia – vocês sabem qual. É nela que Lemos desce do palco para não mais voltar, para desespero dos técnicos de som, logo no primeiro show do dia, enquanto o baixista Raony Pinheiro e o baterista Augusto Júnior seguram a onda lá em cima.

O didatismo do Molho Negro: trechos de letras das músicas para o público aprender a cantar

O didatismo do Molho Negro: trechos de letras das músicas para o público aprender a cantar

Como se não tivesse mais história pra contar em tempo exíguo de banda de abertura, o Molho Negro toca pela primeira vez “Contracheque”, música lançada mais cedo na própria sexta. Oportunidade que João lemos tem para esmerilhar a guitarra que, mais tarde, é desdentada de todas as as cordas no encerramento com “Shangri-la”, ainda no meio do público, não por acaso (ou por acaso, sim) com citações ao Autoramas que já sua a camisa lá no palco do lado para entrar em seguida. Não teve o hit “Aparelhagem de Apartamento”, mas, antes, viu-se a impressionante lucidez de “Gente Chata”, e a ironia patente em “Souza Cruz”, cuja rima com Jesus é uma das coisas mais legais da banda. Em suma, um show de rock como o rock deve ser, mesmo em um “festival supostamente de rock”.

Set list completo:

1- Muito Obrigado aos Patrocinadores
2- Concurso
3- Souza Cruz
4- Black Rebel Marambaia Club
5- Gente Chata
6- Contracheque
7- Fã do Nirvana
8- O Jeito de Errar
9- Mainstrean
10- Shangri-la

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