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Ambivalente

Arctic Monkeys renova a dicotomia da nova fase versus sucesso no encerramento da primeira noite do Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara.

Alex Turner e o visual mais Elvis que cantor de churrascaria usado na noite de estreia do Lollapalooza

Alex Turner e o visual mais Elvis que cantor de churrascaria usado na noite de estreia do Lollapalooza

Dê-me a armadura certa que o enfrentamento da batalha é total. Com um casaco de couro despojadão que remete muito mais à Elvis do que ao crooner de churrascaria que passou pelo Rio durante a semana (veja como foi), óculos escuros e o tradicional topete engomado à “Selvagem da Motocicleta”, Alex Turner lidera seus asseclas do Arctic Monkeys com o show do álbum “Tranquility Base Hotel & Casino”, lançado há um ano, montado no palco principal do Lollapalooza. É o encerramento da primeira noite da oitava edição brasileira do festival, que acontece nesse final de semana no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. E o engajamento da multidão é amplo, total e irrestrito, ao menos quando as músicas já estabelecidas, sobretudo do álbum “AM”, são tocadas.

Porque em um festival dessas proporções, em que pese os 13 mil do show do Rio não serem nada desprezíveis, a reação do público é também multiplicada, o que realça por demais a dicotomia contemplativo versus participativo que a sequência das músicas proporciona. Acaba funcionando, não pelas escolhas em si, mas porque o público é de fãs dos mais dedicados e também porque, se não fosse assim, o descontentamento é que cederia lugar à atenção pelo desempenho, ao vivo, das músicas recentes – um diferencial de astral para baixo na carreira do grupo, como se sabe -, em meio a intervalos elásticos entre uma música e outra que em nada ajudam na dinâmica de um show de rock. Que daria para melhorar, isso daria.

E é por isso que a simbólica transição, embora mal posicionada, na reta final, entre o hit “505” e a faixa-título do disco novo, espécie de metáfora da conexão entre fases do Arctic Monkeys, segue como o ponto alto do show. Não só pela fusão alquímica entre as duas músicas, mas por salientar o tal comportamento quase ambivalente do público e, num olhar mais amiúde, em como a sequência da músicas até o final da primeira parte encarnam o que o grupo quer dizer. Porque os arranjos da bela “Crying Lightning”, turbinada com evoluções instrumentais e com um belo solo de Jamie Cook, em um palco repleto de teclados adicionais, e de “Four Out of Five”, também encorpada por um ótimo instrumental - e talvez seja esta a melhor das novas tocadas na noite – fornecem uma identidade não só ao espetáculo, mas para esta nova fase da banda como um todo.

O baixista Nick O'Malley, Alex Turner e um dos músicos de apoio tocando teclados no fundo

O baixista Nick O'Malley, Alex Turner e um dos músicos de apoio tocando teclados no fundo

Chama a atenção, em um espaço gigante como o de um festival, a renúncia à utilização do telão no fundo do palco, trocado pelas cortinas do tema do disco novo, e que têm como acréscimo a “chegada de um dado gigante” do lado direito do palco no bis. E também realça a reprodução do show, em preto e branco, nos dois telões posicionados um de cada lado do palco, enfim, depois de anos do Lollapalooza, em um formato em sintonia com a produção das imagens. É ali que se vê, com boa nitidez, o tradicional semblante pouco simpático de Turner, a perícia de Cook em nem sempre atuar como solista, a firmeza do baixista Nick O’Malley, a potência do mão de ferro Matt Helders, e, nem com tanta nitidez assim, o entra e sai dos quatro músicos de apoio, somando por vezes o dobro da formação da banda.

O público vibra pra valer com as peripécias de Helders, nas paradinhas de “Teddy Picker”; no trecho cantarolado de “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, cujo riff de condução é uma das coisas boas do AM; nos versos chave de “Do I Wanna Know”, escolha obtusa para a abertura, ainda mais com a acelerada “Brianstorm”, que pede o clichê “o show só começa pra valer na segunda música”; tudo fazendo lembrar o momento do tipo auge de carreia dos shows de 2014 - reveja como foi no Rio. Mesmo com o espetáculo de repertório idêntico ao de toda a turnê, o ambiente em um festival de grandes proporções como o Lolla faz toda a diferença, do comportamento dos músicos ao da plateia. De certo modo, o Arctic Monkeys – ponto pra eles - faz tudo funcionar nos dois casos.

Set list completo:

1- Do I Wanna Know?
2- Brianstorm
3- Snap Out of It
4- Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
5- One Point Perspective
6- I Bet You Look Good on the Dancefloor
7- Library Pictures
8- Knee Socks
9- The Ultracheese
10- Teddy Picker
11- Dancing Shoes
12- Why’d You Only Call Me When You’re High?
13- Cornerstone
14- 505
15- Tranquility Base Hotel & Casino
16- Crying Lightning
17- Pretty Visitors
18- Four Out of Five
Bis
19- Star Treatment
20- Arabella
21- R U Mine?

Músicos em dobro: vista geral do palco do Lollapalooza com o Arctic Monkeys em ação, na sexta

Músicos em dobro: vista geral do palco do Lollapalooza com o Arctic Monkeys em ação, na sexta

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Beto Aquino Rego em abril 8, 2019 às 21:31
    #1

    Nao conheco a banda direito, mas essa guita de 12 é responsa, nao Vitinho?

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