Ambivalente
Arctic Monkeys renova a dicotomia da nova fase versus sucesso no encerramento da primeira noite do Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara.
Porque em um festival dessas proporções, em que pese os 13 mil do show do Rio não serem nada desprezíveis, a reação do público é também multiplicada, o que realça por demais a dicotomia contemplativo versus participativo que a sequência das músicas proporciona. Acaba funcionando, não pelas escolhas em si, mas porque o público é de fãs dos mais dedicados e também porque, se não fosse assim, o descontentamento é que cederia lugar à atenção pelo desempenho, ao vivo, das músicas recentes – um diferencial de astral para baixo na carreira do grupo, como se sabe -, em meio a intervalos elásticos entre uma música e outra que em nada ajudam na dinâmica de um show de rock. Que daria para melhorar, isso daria.
E é por isso que a simbólica transição, embora mal posicionada, na reta final, entre o hit “505” e a faixa-título do disco novo, espécie de metáfora da conexão entre fases do Arctic Monkeys, segue como o ponto alto do show. Não só pela fusão alquímica entre as duas músicas, mas por salientar o tal comportamento quase ambivalente do público e, num olhar mais amiúde, em como a sequência da músicas até o final da primeira parte encarnam o que o grupo quer dizer. Porque os arranjos da bela “Crying Lightning”, turbinada com evoluções instrumentais e com um belo solo de Jamie Cook, em um palco repleto de teclados adicionais, e de “Four Out of Five”, também encorpada por um ótimo instrumental - e talvez seja esta a melhor das novas tocadas na noite – fornecem uma identidade não só ao espetáculo, mas para esta nova fase da banda como um todo.
Chama a atenção, em um espaço gigante como o de um festival, a renúncia à utilização do telão no fundo do palco, trocado pelas cortinas do tema do disco novo, e que têm como acréscimo a “chegada de um dado gigante” do lado direito do palco no bis. E também realça a reprodução do show, em preto e branco, nos dois telões posicionados um de cada lado do palco, enfim, depois de anos do Lollapalooza, em um formato em sintonia com a produção das imagens. É ali que se vê, com boa nitidez, o tradicional semblante pouco simpático de Turner, a perícia de Cook em nem sempre atuar como solista, a firmeza do baixista Nick O’Malley, a potência do mão de ferro Matt Helders, e, nem com tanta nitidez assim, o entra e sai dos quatro músicos de apoio, somando por vezes o dobro da formação da banda.O público vibra pra valer com as peripécias de Helders, nas paradinhas de “Teddy Picker”; no trecho cantarolado de “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, cujo riff de condução é uma das coisas boas do AM; nos versos chave de “Do I Wanna Know”, escolha obtusa para a abertura, ainda mais com a acelerada “Brianstorm”, que pede o clichê “o show só começa pra valer na segunda música”; tudo fazendo lembrar o momento do tipo auge de carreia dos shows de 2014 - reveja como foi no Rio. Mesmo com o espetáculo de repertório idêntico ao de toda a turnê, o ambiente em um festival de grandes proporções como o Lolla faz toda a diferença, do comportamento dos músicos ao da plateia. De certo modo, o Arctic Monkeys – ponto pra eles - faz tudo funcionar nos dois casos.
Set list completo:
1- Do I Wanna Know?
2- Brianstorm
3- Snap Out of It
4- Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
5- One Point Perspective
6- I Bet You Look Good on the Dancefloor
7- Library Pictures
8- Knee Socks
9- The Ultracheese
10- Teddy Picker
11- Dancing Shoes
12- Why’d You Only Call Me When You’re High?
13- Cornerstone
14- 505
15- Tranquility Base Hotel & Casino
16- Crying Lightning
17- Pretty Visitors
18- Four Out of Five
Bis
19- Star Treatment
20- Arabella
21- R U Mine?
Tags desse texto: Arctic Monkeys, Lollapalooza
Nao conheco a banda direito, mas essa guita de 12 é responsa, nao Vitinho?