O rock venceu
Greta Van Fleet é o sopro de ar fresco que faltava e performance no Lollapalooza é simbólica do novo classic rock. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara.
Não é de hoje que o novo classic rock, a despeito de avaliações equivocadas de parte a parte, têm se desenvolvido com força no mercado musical internacional – e apor aqui também -, mas faltava uma banda catalisadora e sem limites para crescer e fazer, a partir de si própria, a expansão da coisa toda. Faltava; agora, não falta mais. Porque em cima de um palco o Greta Van Fleet mostra com quantos solos de guitarra, quantas viradas de bateria, quantas bases de baixo e de teclado e com quantas vozes esganiçadas se faz o rock como ele deve ser. E sem se apegar, ao que parece, a fórmulas atrás de um resultado planejado. A cada música eles – jovens, imberbes – parecem experimentar o que estão fazendo, como se o improviso fizesse parte da diversão. E faz mesmo.
O início do show, com “The Cold Wind”, já parece aquele típico encerramento em que se prolonga ao máximo o desfecho da música, e a cada canção é assim que eles fazem, realçando certa naturalidade juvenil difícil de se ver por aí. E fazem assim porque gostam que seja dessa maneira. A performance já mostra trejeitos que facilitam a identificação de elementos do passado, seja nos figurinos, no modo de tocar ou até na impressionante impostação de voz de Josh Kiszka, mas não se pode esquecer que é da fruta colhida do pé que se extrai o melhor suco. O público se derrete logo de início, cantando quase tudo junto, mas explode pra valer em “Black Smoke Rising”, iniciada com um minissolo de bateria – kit básico, diga-se de passagem -, e tem refrão grudento e fácil de acompanhar/cantar.Em “Flower Power”, o baixista Sam Kiszka inicia a investida em um teclado Hammond que intercede fortemente no modo em que as músicas são tocadas, evidenciando o caráter experimental simultâneo ao modo com que os músicos parecem se divertir sobre o palco. O auge dessa folia rock’n’roll aparece em “Watching Over”, por conta do brilho individual e coletivo, tudo ao mesmo tempo, não só do verdadeiro recital de Jake Kiszka, que chega a tocar com a guitarra nas costas. Mesmo que não haja mais segredos em um mundo excessivamente conectado, o púbico se surpreende com cada passo dado pelo guitarrista, cujo solo parece que encontra o auge, mas melhora cada vez mais, em um sem fim exuberante, como no acompanhamento, com Sam se revezando entre baixo e teclado, e Danny Wagner querendo mais é tambor pra bater.
Um cuidado, contudo, precisa ser tomado para que Josh não caia na armadilha do falsete pelo falsete, afinal banda de rock não é “The Voice” e cantor de rock não é Whitney Houston. Com tantas alternativas em cada uma das músicas, em uma horinha de show só cabem oito números, e a apresentação parece – e é – curta demais, muito embora repleta de ideias musicais que costuma ativar o modo delírio do público, inteiramente conectado com o quarteto, seja cantando a rodo – e muitas das músicas são bem conhecidas -, pelas vestes ou nos gritos e “olê, olâ, olê, olá, gretá, gretá!”, entoado a cada intervalo. O sotaque country dá o tom em “Highway Tune”, guardada para o encerramento, quando os músicos se mandam sem muita despedida, muito menos a enfadonha foto pra rede social.O show, no fim das contas é a prova cabal de que, para se curtir o rock como ele é, sem invencionices, não é preciso de nada, a não ser ficar na frente de um palco em um show como esse e aproveitar. Mas para se entender o Greta Van Fleet, é preciso ter em mente que: a) Eles são o resultado e ao mesmo tempo catalisadores do novo classic rock; b) Os integrantes são muito jovens e tocam para fãs da mesma idade deles, e eis aí um estopim dos bons; c) Trata-se de um sopro de ar fresco em um mercado musical sem valor em tempos pós internet; e d) É uma banda que sabe muito bem o que está fazendo, mas se deixa levar pelo rock propriamente dito, e isso é muito bom. E, ainda, que o altar do rock’n’roll sempre será o palco, daí o congraçamento que se dá simbolicamente neste Lollapalooza menos atento que em outras épocas.
Set list completo:1- The Cold Wind
2- Safari Song
3- Black Smoke Rising
4- Flower Power
5- Watch Me
6- Watching Over
7- Edge of Darkness
8- Highway Tune
Tags desse texto: Greta Van Fleet, Lollapalooza
Nunca consegui ouvir uma música inteira dessa banda. Muito fraca, clichê total. Parece uma banda montada depois de uma sessão de “Escola de Rock”. Tem coisas mais legais na atualidade.