O Homem Baile

O rock venceu

Greta Van Fleet é o sopro de ar fresco que faltava e performance no Lollapalooza é simbólica do novo classic rock. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara.

O vocalista do Greta Van Fleet, Josh Kiszka, rege o rebanho do rock com incrível perícia vocal

O vocalista do Greta Van Fleet, Josh Kiszka, rege o rebanho do rock com incrível perícia vocal

A imagem da silhueta enfumaçada de um guitarrista esmerilhando seu instrumento sem dó nem piedade é a mais simbólica em todas as épocas. Na beira do palco principal de um festival indie como este Lolla contemporâneo e que dá as costas a si próprio, é ainda mais emblemática e fica ainda mais forte quando, ali embaixo, uma incrível multidão enlouquece em sinal de alegria, regozijo e admiração. Tudo junto de uma vez só, em espécie de aprovação coletiva àquilo que há anos vem sendo defenestrado nesses tempos estranhos. A silhueta é a de Jake Kiszka, a banda se chama Greta Van Fleet e a música é a incrível “Watching Over”, que, ao vivo, dura mais de 11 minutos, uns quatro só para o solo de guitarra que mistura técnica, bom gosto, arrojo e uma ingenuidade atroz. E assim se faz vida nesse domingão (7/4) de Lollapalooza.

Não é de hoje que o novo classic rock, a despeito de avaliações equivocadas de parte a parte, têm se desenvolvido com força no mercado musical internacional – e apor aqui também -, mas faltava uma banda catalisadora e sem limites para crescer e fazer, a partir de si própria, a expansão da coisa toda. Faltava; agora, não falta mais. Porque em cima de um palco o Greta Van Fleet mostra com quantos solos de guitarra, quantas viradas de bateria, quantas bases de baixo e de teclado e com quantas vozes esganiçadas se faz o rock como ele deve ser. E sem se apegar, ao que parece, a fórmulas atrás de um resultado planejado. A cada música eles – jovens, imberbes – parecem experimentar o que estão fazendo, como se o improviso fizesse parte da diversão. E faz mesmo.

O guitarrista Jake Kiszka, que desdobra solos sobre solos e encanta plateia do Lollapalooza no domingo

O guitarrista Jake Kiszka, que desdobra solos sobre solos e encanta plateia do Lollapalooza no domingo

O início do show, com “The Cold Wind”, já parece aquele típico encerramento em que se prolonga ao máximo o desfecho da música, e a cada canção é assim que eles fazem, realçando certa naturalidade juvenil difícil de se ver por aí. E fazem assim porque gostam que seja dessa maneira. A performance já mostra trejeitos que facilitam a identificação de elementos do passado, seja nos figurinos, no modo de tocar ou até na impressionante impostação de voz de Josh Kiszka, mas não se pode esquecer que é da fruta colhida do pé que se extrai o melhor suco. O público se derrete logo de início, cantando quase tudo junto, mas explode pra valer em “Black Smoke Rising”, iniciada com um minissolo de bateria – kit básico, diga-se de passagem -, e tem refrão grudento e fácil de acompanhar/cantar.

Em “Flower Power”, o baixista Sam Kiszka inicia a investida em um teclado Hammond que intercede fortemente no modo em que as músicas são tocadas, evidenciando o caráter experimental simultâneo ao modo com que os músicos parecem se divertir sobre o palco. O auge dessa folia rock’n’roll aparece em “Watching Over”, por conta do brilho individual e coletivo, tudo ao mesmo tempo, não só do verdadeiro recital de Jake Kiszka, que chega a tocar com a guitarra nas costas. Mesmo que não haja mais segredos em um mundo excessivamente conectado, o púbico se surpreende com cada passo dado pelo guitarrista, cujo solo parece que encontra o auge, mas melhora cada vez mais, em um sem fim exuberante, como no acompanhamento, com Sam se revezando entre baixo e teclado, e Danny Wagner querendo mais é tambor pra bater.

Josh e Jake coladinhos e o baixista Sam Kiszka atrás deles; agitação no palco do Greta Van Fleet

Josh e Jake coladinhos e o baixista Sam Kiszka atrás deles; agitação no palco do Greta Van Fleet

Um cuidado, contudo, precisa ser tomado para que Josh não caia na armadilha do falsete pelo falsete, afinal banda de rock não é “The Voice” e cantor de rock não é Whitney Houston. Com tantas alternativas em cada uma das músicas, em uma horinha de show só cabem oito números, e a apresentação parece – e é – curta demais, muito embora repleta de ideias musicais que costuma ativar o modo delírio do público, inteiramente conectado com o quarteto, seja cantando a rodo – e muitas das músicas são bem conhecidas -, pelas vestes ou nos gritos e “olê, olâ, olê, olá, gretá, gretá!”, entoado a cada intervalo. O sotaque country dá o tom em “Highway Tune”, guardada para o encerramento, quando os músicos se mandam sem muita despedida, muito menos a enfadonha foto pra rede social.

O show, no fim das contas é a prova cabal de que, para se curtir o rock como ele é, sem invencionices, não é preciso de nada, a não ser ficar na frente de um palco em um show como esse e aproveitar. Mas para se entender o Greta Van Fleet, é preciso ter em mente que: a) Eles são o resultado e ao mesmo tempo catalisadores do novo classic rock; b) Os integrantes são muito jovens e tocam para fãs da mesma idade deles, e eis aí um estopim dos bons; c) Trata-se de um sopro de ar fresco em um mercado musical sem valor em tempos pós internet; e d) É uma banda que sabe muito bem o que está fazendo, mas se deixa levar pelo rock propriamente dito, e isso é muito bom. E, ainda, que o altar do rock’n’roll sempre será o palco, daí o congraçamento que se dá simbolicamente neste Lollapalooza menos atento que em outras épocas.

Danny Wagner e o detalhe da bateria com a bandeira do Brasil estilizada com flores e o logotipo

Danny Wagner e o detalhe da bateria com a bandeira do Brasil estilizada com flores e o logotipo

Set list completo:

1- The Cold Wind
2- Safari Song
3- Black Smoke Rising
4- Flower Power
5- Watch Me
6- Watching Over
7- Edge of Darkness
8- Highway Tune

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Beto Aquino Rego em abril 8, 2019 às 21:23
    #1

    Nunca consegui ouvir uma música inteira dessa banda. Muito fraca, clichê total. Parece uma banda montada depois de uma sessão de “Escola de Rock”. Tem coisas mais legais na atualidade.

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