O Homem Baile

Dilacerante

Doom metal cavernoso do Paradise Lost se mostra renovado e atual, realçando a regularidade de uma profícua carreira, em ótimo show no Rio. Fotos: Daniel Croce.

A boa performance do vocalista Nick Holmes: lembranças do show do Rio no Monstros do Rock de 1995

A boa performance do vocalista Nick Holmes: lembranças do show do Rio no Monstros do Rock de 1995

“Vamos tocar uma música que parece que não tocamos há mil anos. É sobre morrer”. É o que diz o vocalista em um dos melhores momentos de um show absolutamente climático, e, senão o ápice da noite, o ponto nevrálgico para se tentar explicar/entender uma banda cuja obra tem assinatura, coisa cada vez mais rara de acordo com a lei de Lavoisier aplicada à música pop. Ainda mais que, em seguida, o próprio cantor faz uma auto conceituação ao gritar “doom metal!”, e emenda uma peça cavernosa de romper os bloqueios físicos para atingir o fundo da alma do mais incrédulo infiel. É o Paradise Lost de volta ao Rio em mais uma das apresentações daquelas de arrepiar, no Teatro Rival, nesta sexta, 31/8.

A tal peça dos quintos dos infernos é “Beneath Broken Earth”, que nem é de um dos clássicos da banda, mas que já nasceu eterna ao ser gravada no recente “The Plague Within”, de 2015. Lenta, arrastada e pesada ao extremo, com o som da casa bem equalizado e no talo, soa como uma drenagem de todos os males em rito de passagem, sabe-se lá para qual dimensão. Casa certinho com “As I Die”, verdadeira facada no fígado, a tal música sobre morrer que o vocalista Nick Holmes anunciara como não tocada há um tempo, mas que na verdade é uma das mais executadas nos shows da banda. Separadas por quase 25 anos, ambas se completam como em uma espécie de profecia atemporal que simboliza uma carreira generosamente regular em com poucos deslizes para este ou aquele vacilo, algo inevitável para quem tem 30 anos nas costas e, à exceção do batera Waltteri Väyrynen, com a mesma formação.

O ótimo guitarrista Greg Mackintosh, um dos responsáveis pela assinatura do som do Paradise Lost

O ótimo guitarrista Greg Mackintosh, um dos responsáveis pela assinatura do som do Paradise Lost

Banda que não para quieta e que não volta ao Rio não só para visitar o Cristo Redentor ou encher os cornos de caipirinha, mas para mostrar as músicas do disco mais recente, o ótimo “Medusa”, que exatamente neste 1º de setembro completa um ano de lançado. São quatro desse trabalho, amplamente coerente com a carreira do Paradise Lost. A pungente e pesada “From the Gallows”, se desconhecida, abre a noite com as guitarras de Greg Mackintosh, de penteado apocalíptico, por assim dizer, mostrando o que têm de melhor: uma eloquente discrição pós punk. A melhor delas é a faixa-título, assustadoramente sombria, com a base de Aaron Aedy (guitarra) e Stephen Edmondson (baixo) mais pesadas do que chumbo, e Mackintosh reforçando a grande fase.

Antes de “The Longest Winter”, outra das novas, lá no bis, Holmes quer saber quem desta noite esteve no histórico show de 1995 – a gente também não esquece -, dentro do festival Monstros do Rock, tendo Ozzy Osbourne como atração de fundo. “Satisfeito por vocês estarem vivos, foi um grande show”, ele comenta, para então desferir outro tiro na alma, lento, pesado e arrastado – de novo – com um belo solo, dessa vez estendido, de Greg Mackintosh, e com Nick Holmes com vocais limpos e afinados, quase no final do show. O desfecho vem com “Say Just Words”, praticamente um hit, dançante até, com tecladinhos pré-gravados, assim como “Erased”, amplamente identificada com Depeche Mode, em outra ponte inacreditável entre o pós punk e o metal, incluída na parte inicial da noite.

Nick Holmes com o gogó em dia, ao lado do baixista Stephen Edmondson e sua base firme e pesada

Nick Holmes com o gogó em dia, ao lado do baixista Stephen Edmondson e sua base firme e pesada

Mas - alto lá! - como pode a banda ir embora sem tocar músicas como “Enchantment”, “Hallowed Land” e/ou “The Last Time”, todas do excepcional álbum “Draconian Times”, de 1995? Desse disco, contudo, um dos grandes sucessos deles, é sacada “Forever Failure”, uma grata surpresa para não decepcionar os fãs das antigas, que reconhecem a música já na voz de megafone no início. Assim como “Gothic”, dessa vez com os vocais femininos da versão original gravados. No frigir dos ovos, além das músicas novas, o grupo inclui outras três não tocadas nos shows recentes por aqui, no Imperator, em 2016, e no Circo Voador, em 2015: “Requiem”, “Embers Fire”, do ótimo álbum “Icon”, que fecha a primeira parte do show, e a já citada “Forever Failure”. É, não dá pra reclamar, mas que uma turnê com o “Draconian” na íntegra cairia muito bem, também não se pode negar.

Set list completo:

1- From the Gallows
2- Gothic
3- One Second
4- Erased
5- Forever Failure
6- Requiem
7- Medusa
8- An Eternity Of Lies
9- Faith Divides Us - Death Unites Us
10- Blood and Chaos
11- As I Die
12- Beneath Broken Earth
13- Embers Fire
Bis
14- No Hope in Sight
15- The Longest Winter
16- Say Just Words

Da esquerda para a direita: Holmes, Edmondson e o guitarrista Aaron Aedy, todos da formação original

Da esquerda para a direita: Holmes, Edmondson e o guitarrista Aaron Aedy, todos da formação original

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