Retorno certeiro
Paradise Lost reafirma a atualização de sua fase mais marcante nos discos recentes em ótimo show no Rio. Fotos: Nem Queiroz.
Do tal álbum novo, “The Plague Within”, são quatro faixas incluídas no repertório, sendo duas não tocadas no ano passado. E que músicas. “Beneath Broken Earth”, pesada, arrastada e repleta de guitarras que são base e solo ao mesmo tempo, resgata os melhores momentos (sim, houve os ruins) da longa carreira do Paradise Lost. A voz de Nick Holmes parece salva das profundezas de onde vagam as almas, e o público compreende e participa como se fosse conhecida de longa data; de certo modo, é. Em “Return to the Sun”, cuja introdução aterroriza pela vocação sombria, o andamento chega a ser angustiante ante a beleza envolvida, e brilha o trabalho conjunto dos guitarristas, em especial as bases de Aaron Aedy, mas os verdadeiros delírios viajandões de Mackintosh é que estão afiados. O que ajuda a realçar a opção certeira do quinteto pela volta ás raízes estampada nos últimos trabalhos.
Experiente e relaxado, Nick Holmes está soltinho no palco, e como o público decepciona em quantidade, o show reserva momentos de celebração intimista, em que pese a turma da grade passar boa parte do tempo pedindo músicas que há anos não são tocadas; faz parte, não custa tentar. Em um deles, justamente antes de “Beneath Broken Earth”, ele brinca ao dar o pito: “Do que vocês estão rindo? Isso aqui era para ser sério!”, referindo-se ao Mal contido em uma banda como o Paradise Lost. No começo, relembra os shows do Rio e chama de velho um incauto que ergue o braço para afirmar que estava no de 1995, naquele inesquecível Monstros do Rock (fotos aqui e aqui). Menos intérprete de vocalista de banda de metal pesado e mais relaxado como líder de uma banda – podemos dizer assim - associada ao classic rock, Holmes tem impecável performance usando vários timbres e tons de voz.Com o sistema de som da casa funcionando que é uma beleza e o volume alto, sem ser estridente, o show se desenrola com ampla participação da plateia, do tipo pequena – repita-se -, mas bastante participativa. Por isso, as duas únicas músicas do álbum “Draconian Times”, de 1995, um dos grandes sucessos da banda, sobretudo no Brasil, soam a esses ouvidos acostumados como se fosse música pop de rádio oportunista. Primeiro, “Enchantment” abre o bis e é reconhecida já pela introdução (todos os teclados no show são gravados), antes de desencadear aquele bater de cabeça associado à cantoria que só o heavy metal pode proporcionar. E a dupla de guitarras segue dilacerando sem dó. Que música! Que arranjos! Depois, o show termina com “The Last Time”, equivocadamente omitida no ano passado, em clima de bailão doom metal, se é que isso é possível, e reforçando o laço indesatável com o pós punk inglês, o começo de tudo. Mais curta e deliciosamente acessível, trata-se de uma das canções mais colantes da música pesada em todas as épocas, daí a importância de sempre estar presente nos shows.
Mas aquela que nunca falta, segundo Nick Holmes, é “Eternal”, que o vocalista acredita ser a primeira música a ser identificada como gothic metal, após ser lançada, em 1991, dentro do álbum intitulado nada insuspeitamente como “Gothic”. Nessa época, chamava-se o som do Paradise Lost de death/doom metal. De fato, a música é ainda um tanto conservadora se levarmos em conta pulos sobre a cerca como “Erased”, incluída com certa desatenção por parte do público, e o próprio material pós “Draconian Times”. Análises poucos eficientes nos cerca de 90 minutos de bola rolando que incluem ainda “Dead Emotion”, encorpada e com ótimas evoluções instrumentais no desfecho; “An Eternity Of Lies”, com Greg Mackintosh em intensa exploração das texturas que adora conceber para depois desenvolver ao vivo; e “The Enemy”, outra daquelas com que cativa os ouvidos sem fazer muita força. Numa palavra? Showzaço.A abertura coube a um reformado Imago Mortis, veterana banda da década de 1990, apresentando a nova formação para 2016. Em cerca de 45 minutos, o grupo, que seguramente ressuscitou para aproveitar essa oportunidade, não fez feio, tocando sete músicas. As melhores são “The Silent King”, com interessantes mudanças de andamento; a baladaça pesada “Across The Desert”, com destaque para o ótimo solo do guitarrista Rafael Rassan; e a nova “The Black Widow”, que deve fazer parte do novo álbum, segundo o bom vocalista Alex Voohees, mais atrasado que o “Chinese Democracy”, do Guns N’ Roses, que levou 14 anos para ser lançado. O grupo mantém a tradição de usar teclados em igualdade de condições com as guitarras no metal nacional, e o desfecho com a bela “Bring Out Your Dead”, é nostalgia pura. Que voltem pra valer.
Set list completo Paradise Lost:1- No Hope In Sight
2- Pity the Sadness
3- One Second
4- Dead Emotion
5- As I Die
6- Return to the Sun
7- Erased
8- The Enemy
9- Embers Fire
10- Eternal
11- Beneath Broken Earth
12- Say Just Words
Bis
13- Enchantment
14- Faith Divides Us - Death Unites Us
15- An Eternity Of Lies
16- The Last Time
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