O Homem Baile

Retorno certeiro

Paradise Lost reafirma a atualização de sua fase mais marcante nos discos recentes em ótimo show no Rio. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Paradise Lost, Nick Holmes, não abre mão de suas grandes variações vocais

O vocalista do Paradise Lost, Nick Holmes, não abre mão de suas grandes variações vocais

Poucas vezes uma banda com tanta estrada acerta tão em cheio ao iniciar um show com uma música nova. Ou, por outra, quando a música nem é tão nova assim, mas aparece no álbum mais recente, na praça há um ano. Mas é o que acontece na noite desta segunda (17/10) misturada com feriado que não cola no Imperator, no Rio. A música é “No Hope In Sight” e o Paradise Lost está no palco mais ou menos um ano depois da última visita à cidade, destilando, já para começo de conversa, toda a densidade musical acoplada às texturas de guitarras que só Greg Mackintosh consegue extrair, ano após ano, sem que tal procedimento soe repetitivo. A canção – registre-se – fez parte daquela noite mágica em um soturno Circo Voador (relembre) e reaparece muito mais sedutora que antes.

Do tal álbum novo, “The Plague Within”, são quatro faixas incluídas no repertório, sendo duas não tocadas no ano passado. E que músicas. “Beneath Broken Earth”, pesada, arrastada e repleta de guitarras que são base e solo ao mesmo tempo, resgata os melhores momentos (sim, houve os ruins) da longa carreira do Paradise Lost. A voz de Nick Holmes parece salva das profundezas de onde vagam as almas, e o público compreende e participa como se fosse conhecida de longa data; de certo modo, é. Em “Return to the Sun”, cuja introdução aterroriza pela vocação sombria, o andamento chega a ser angustiante ante a beleza envolvida, e brilha o trabalho conjunto dos guitarristas, em especial as bases de Aaron Aedy, mas os verdadeiros delírios viajandões de Mackintosh é que estão afiados. O que ajuda a realçar a opção certeira do quinteto pela volta ás raízes estampada nos últimos trabalhos.

O guitarrista Greg Mackintosh, cujos timbres e texturas de guitarra marcam o o Paradise Lost

O guitarrista Greg Mackintosh, cujos timbres e texturas de guitarra marcam o Paradise Lost

Experiente e relaxado, Nick Holmes está soltinho no palco, e como o público decepciona em quantidade, o show reserva momentos de celebração intimista, em que pese a turma da grade passar boa parte do tempo pedindo músicas que há anos não são tocadas; faz parte, não custa tentar. Em um deles, justamente antes de “Beneath Broken Earth”, ele brinca ao dar o pito: “Do que vocês estão rindo? Isso aqui era para ser sério!”, referindo-se ao Mal contido em uma banda como o Paradise Lost. No começo, relembra os shows do Rio e chama de velho um incauto que ergue o braço para afirmar que estava no de 1995, naquele inesquecível Monstros do Rock (fotos aqui e aqui). Menos intérprete de vocalista de banda de metal pesado e mais relaxado como líder de uma banda – podemos dizer assim - associada ao classic rock, Holmes tem impecável performance usando vários timbres e tons de voz.

Com o sistema de som da casa funcionando que é uma beleza e o volume alto, sem ser estridente, o show se desenrola com ampla participação da plateia, do tipo pequena – repita-se -, mas bastante participativa. Por isso, as duas únicas músicas do álbum “Draconian Times”, de 1995, um dos grandes sucessos da banda, sobretudo no Brasil, soam a esses ouvidos acostumados como se fosse música pop de rádio oportunista. Primeiro, “Enchantment” abre o bis e é reconhecida já pela introdução (todos os teclados no show são gravados), antes de desencadear aquele bater de cabeça associado à cantoria que só o heavy metal pode proporcionar. E a dupla de guitarras segue dilacerando sem dó. Que música! Que arranjos! Depois, o show termina com “The Last Time”, equivocadamente omitida no ano passado, em clima de bailão doom metal, se é que isso é possível, e reforçando o laço indesatável com o pós punk inglês, o começo de tudo. Mais curta e deliciosamente acessível, trata-se de uma das canções mais colantes da música pesada em todas as épocas, daí a importância de sempre estar presente nos shows.

Mackintosh, Holmes, o guitarrista Aaron Aedy e o baixista Steve Edmondson: todos da formação original

Mackintosh, Holmes, o guitarrista Aaron Aedy e o baixista Steve Edmondson: todos da formação original

Mas aquela que nunca falta, segundo Nick Holmes, é “Eternal”, que o vocalista acredita ser a primeira música a ser identificada como gothic metal, após ser lançada, em 1991, dentro do álbum intitulado nada insuspeitamente como “Gothic”. Nessa época, chamava-se o som do Paradise Lost de death/doom metal. De fato, a música é ainda um tanto conservadora se levarmos em conta pulos sobre a cerca como “Erased”, incluída com certa desatenção por parte do público, e o próprio material pós “Draconian Times”. Análises poucos eficientes nos cerca de 90 minutos de bola rolando que incluem ainda “Dead Emotion”, encorpada e com ótimas evoluções instrumentais no desfecho; “An Eternity Of Lies”, com Greg Mackintosh em intensa exploração das texturas que adora conceber para depois desenvolver ao vivo; e “The Enemy”, outra daquelas com que cativa os ouvidos sem fazer muita força. Numa palavra? Showzaço.

A abertura coube a um reformado Imago Mortis, veterana banda da década de 1990, apresentando a nova formação para 2016. Em cerca de 45 minutos, o grupo, que seguramente ressuscitou para aproveitar essa oportunidade, não fez feio, tocando sete músicas. As melhores são “The Silent King”, com interessantes mudanças de andamento; a baladaça pesada “Across The Desert”, com destaque para o ótimo solo do guitarrista Rafael Rassan; e a nova “The Black Widow”, que deve fazer parte do novo álbum, segundo o bom vocalista Alex Voohees, mais atrasado que o “Chinese Democracy”, do Guns N’ Roses, que levou 14 anos para ser lançado. O grupo mantém a tradição de usar teclados em igualdade de condições com as guitarras no metal nacional, e o desfecho com a bela “Bring Out Your Dead”, é nostalgia pura. Que voltem pra valer.

O reformado Imago Mortis não fez feio na abertura e pretende tirar da gaveta um novo álbum

O reformado Imago Mortis não fez feio na abertura e pretende tirar da gaveta um novo álbum

Set list completo Paradise Lost:

1- No Hope In Sight
2- Pity the Sadness
3- One Second
4- Dead Emotion
5- As I Die
6- Return to the Sun
7- Erased
8- The Enemy
9- Embers Fire
10- Eternal
11- Beneath Broken Earth
12- Say Just Words
Bis
13- Enchantment
14- Faith Divides Us - Death Unites Us
15- An Eternity Of Lies
16- The Last Time

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Dilacerante

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado