Bola é Bola Mesmo

A zebra passeia na Rússia

Croácia despacha Inglaterra de volta pra casa e é a intrusa na final da Copa do Mundo. Fotos: Divulgação FIFA.

croacia11-7-18Os alto-falantes do Estádio Luzhniki tocam dolorosamente “Don’t Look Back In Anger” e os ingleses remoem a eliminação dessa Copa da Rússia. A música, assinada por um dos irmãos Gallagher, do Oasis, entusiastas do futebol, é sempre cantada em jogos no país deles, mas, dessa vez, sugere que a lição é não guardar mágoa de uma seleção que chegou perto demais da final, mas ficou no quase.

Um quase e tanto que já pode ser considerado um dos melhores resultados desde o título do belo ano de 1966, que colocou os inventores do futebol, dali pra frente, no rol dos favoritos a cada Copa do Mundo, quando dela participam. Não é dessa vez que a taça volta pra casa, como diz a canção, de terrível símbolo da eliminação da Euro de 1996, convertida em coqueluche da esperança este ano. Assim são os ingleses.

Mas para quem perdeu a Inglaterra, para um gigante do futebol mundial? Não, para uma esforçada Croácia, um típico time operário daqueles que só brilha se jogar no limite, e, quando não brilha, usa um coletivo enjoado para atrapalhar as ações do adversário. Ou, por outra, uma equipe que não se importa em só vencer nas prorrogações ou mesmo nos pênaltis.

Por isso mesmo, somando-se acréscimos e tempos extras das partidas de oitavas, contra a Dinamarca, quartas, contra a Rússia, e semis, essa contra a Inglaterra, os croatas têm mais do que 90 minutos de jogo a mais do que os franceses, quem chegam a final sem passar por esse martírio. Noventa minutos. Um jogo a mais, fora o terror dos penais, que os croatas superaram em duas oportunidades.

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Não por acaso o chamado craque do time em um time sem craques é justamente aquele cuja função no futebol se dá o nome carinhoso de motorzinho: Luka Modric. É o cara que corre o tempo doto, organizando a equipe, um capataz de luxo que toma conta daquela turma de 11 operários que cuidam de uma mesma comuna. Tem a luxuosa ajuda de outra maquininha, Ivan Rakitic, ambos cerebrais meio-campistas dos timaços de Real Madrid (Modric) e Barcelona (Rakitic).

Mas, porém, contudo, no entanto, todavia, ontem, em um time de dois – vá lá - craques só, quem brilhou foi um terceiro, Perisic. Um tipo de atacante de lado e perseguidor de atacante que estava em seus melhores dias, e tem que ser assim – repita-se - para a Croácia triunfar. Com um golpe de luta marcial – faz quase todo final de semana pela Inter de Milão -, empatou o jogo em lance de hesitação da defesa inglesa, levando o jogo para a prorrogação.

Já na segunda etapa do tempo extra, é assistente involuntário para Mandzukic decretar a vitória croata em falha generalizada – de novo – dos ingleses. Falharam, sim, os ingleses, liderados pelo sempre atrapalhado Walker, mas e o que têm os croatas com isso? Nada, o negócio é bola na rede. E olha que o placar havia sido aberto em ótima cobrança de falta de Trippier, no iniciozinho do jogo.

E, dali em diante, parecia que não teria reviravolta na partida. Porque existe um conceito no futebol contemporâneo de que o jogo está controlado e, para quem olha de fora, parecia mesmo que assim estava. Um time ganhando e tocando a bola pra lá e pra cá. Outro time perdendo e também movimentando a redonda de lado a outro. Um, a Inglaterra, satisfeito com o resultado; outro, a Croácia, aparentemente, depois de duas prorrogações, sem forças.

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Mas acreditem, jogo controlado é jogo ganho, é bola na rede, e os croatas, matreiros, só decidem, sem fazer uma troca sequer, partir para cima na etapa final. E aí desenvolvem um amplo domínio que resultou no empate e quase na virada ainda no tempo regulamentar. Na prorrogação, de novo, os ingleses começam aparentemente melhores, até que os operários croatas definem na falha da defesa adversária.

Uma zebra e tanto essa Croácia. Que deixou pelo caminho dois gigantes, a Argentina, mas em eliminá-la, e a Inglaterra. Que não conseguiu vencer duas equipes muitos ruins, os verdadeiros caneludos dinamarqueses e russos. Que ficou do lado fraco do chaveamento, e se aproveitou das ausências fatais de Alemanha e Espanha, a partir das quartas. E o que têm os operários croatas com isso? Nada. Estão na final.

E com a França favorita, o cenário lhes parece bem à feição. Com menos compromisso, com o status de zebra, com menor pressão. Se vencer, a Croácia será laureada com todas as glórias de um intruso não só na final da Copa, mas o nono entre os oito únicos campeões em 20 edições. Se perder, será também premiada pelo feito de ter chegado a final, sem expectativa alguma, e certamente vendendo caro o título ao adversário.

É muito difícil a França perder essa. Tem melhor time, um dia a mais de descanso e 90 minutos a menos de cansaço, tem jogadores que decidem, um goleiro que tem fechado o gol, e a ressaca de ter perdido a última Eurocopa em casa para Portugal, sem Cristiano Ronaldo. Se perder, ganha de imediato o carimbo de amarelão, com firma reconhecida no Tribunal de Haia e tudo.

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Por isso os croatas felizes recebiam suas crianças no gramado, no estilo holandês 2014 (relembre) e faziam fotos e mais fotos ao som de “Don’t Look Back In Anger”, para guardar esse momento na memória, caso outro maior não venha. E, curiosamente, um dia antes da final, os compadres Inglaterra e Bélgica, que amarraram um jogo decidido pelo desavisado Januzaj na primeira fase (relembre), decidem melancolicamente o terceiro lugar da Copa. Assim é o futebol.

Até a próxima e a França é que se cuide!

Resultado de 11-7-2018:
Croácia 1 (2, ET) x 1 Inglaterra

Top 64 jogos da Copa 2018:
1- França 4 x 3 Argentina
2- Brasil 1 x 2 Bélgica
3- Croácia 1 (2, ET) x 1 Inglaterra
4- Portugal 3 x 3 Espanha
5- Alemanha 2 x 1 Suécia
6- Nigéria 1 x 2 Argentina
7- França 1 x 0 Bélgica
8- Argentina 0 x 3 Croácia
9- Uruguai 2 x 1 Portugal
10- Bélgica 3 x 2 Japão
11- Brasil 2 x 0 México
12- Bélgica 5 x 2 Tunísia
13- Inglaterra 6 x 1 Panamá
14- Argentina 1 x 1 Islândia
15- Alemanha 0 x 1 México
16- Uruguai 0 x 2 França
17- Irã 1 x 1 Portugal
18- Suécia 0 x 2 Inglaterra
19- Polônia 0 x 3 Colômbia
20- Bélgica 3 x 0 Panamá
21- Colômbia 1 x 2 Japão
22- Sérvia 0 x 2 Brasil
23- Brasil 2 x 0 Costa Rica
24- Coréia do Sul 2 x 0 Alemanha
25- Japão 2 x 2 Senegal
26- Espanha 2 x 2 Marrocos
27- França 1 x 0 Peru
28- México 0 x 3 Suécia
29- Uruguai 3 x 0 Rússia
30- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
31- Islândia 1 x 2 Croácia
32- Brasil 1 x 1 Suíça
33- França 2 x 1 Austrália
34- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
35- Rússia 3 x 1 Egito
36- Inglaterra 0 x 1 Bélgica
37- Austrália 0 x 2 Peru
38- Colômbia 1 (3) x 1 (4) Inglaterra
39- Coréia do Sul 1 x 2 México
40- Suíça 2 x 2 Costa Rica
41- Nigéria 2 x 0 Islândia
42- Portugal 1 x 0 Marrocos
43- Rússia 2 (3) x 2 (4) Croácia
44- Dinamarca 1 x 1 Austrália
45- Sérvia 1 x 2 Suíça
46- Suécia 1 x 0 Suíça
47- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
48- Senegal 0 x 1 Colômbia
49- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
50- Polônia 1 x 2 Senegal
51- Croácia 1 (3) x 1 (2) Dinamarca
52- Egito 0 x 1 Uruguai
53- Panamá 1 x 2 Tunísia
54- Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
55- Peru 0 x 1 Dinamarca
56- Irã 0 x 1 Espanha
57- Espanha 1 (3) x 1 (4) Rússia
58- Japão 0 x 1 Polônia
59- Croácia 2 x 0 Nigéria
60- Arábia Saudita 2 x 1 Egito
61- Marrocos 0 x 1 Irã
62- Dinamarca 0 x 0 França

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