Bola é Bola Mesmo

Técnico que ganha jogo

No dia em que Higuaín desencanta, Holanda escapa de eliminação com inesperada alteração de Louis van Gaal. Fotos: Divulgação FIFA.

vangaalcostarica2O jogo é decidido no detalhe. Eis aí umas das grandes máximas do futebol, ditas a torto e a direito. Mas ontem, em plena quarta de final da Copa do Mundo no Brasil, o técnico holandês Louis van Gaal, abusou. Depois de um teimoso zero a zero no tempo normal e na prorrogação, ele saca o goleiro titular, Cillessen, e coloca o segundo reserva, Krul, só para pegar pênaltis. O sujeito segura duas cobranças e a Holanda está na semifinal.

Imagine se, no jogo contra o Chile, nas oitavas de final, que também foi decidido nos pênaltis, Felipão fizesse o mesmo. Chamasse o goleiro Vítor, notório pegador de pênaltis na campanha da Libertadores do Atlético Mineiro em 2013, e o colocasse no lugar de Júlio César na hora das cobranças. Como você reagiria? Como o emotivo Júlio César reagiria?

Após o jogo, Krul disse que já estava de sobreaviso, mas Cillessen, o goleiro titular, não. A mexida de Van Gaal iniciou uma correria dos jornalistas para levantar o histórico de Krul como pegador de pênaltis, e veio a surpresa: segundo consta, não é. Van Gaal, além de tê-lo observado nos treinos, certamente intuiu, a partir de uma envergadura de 1,93 metros de altura, a mexida fatal para a Costa Rica. Dizem que técnico não ganha jogo, mas pode perdê-lo. Ontem, Van Gaal ganhou.

Citei o técnico brasileiro ali em cima porque, de certa maneira, Felipão é o nosso Van Gaal. Ambos vivem as turras com a imprensa de cada país e até já se alfinetaram de parte a parte. No Brasil, há o conceito de que Felipão é mais motivador do que estrategista, e que Van Gaal, sim, é o grande mestre da tática; eu mesmo tenho colocado o holandês no rol de melhores técnicos do Mundial.

Mas é preciso ter o grupo nas mãos para mexer com o goleiro justamente na hora dos penais, ou para sacar um Van Persie no final de um jogo para que seu sucessor, Huntelaar, decida a partida, como aconteceu contra o México (veja aqui). Grosso modo, há o técnico que gosta de ter o mesmo time jogando junto para ganhar ritmo e embalar, e há o que escala sua equipe de acordo com o adversário. Felipão está no primeiro grupo, e Van Gaal, no segundo. Nessa Copa, em cinco partidas, ele já usou todos os 20 jogadores de linha e dois dos três goleiros.

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Mas se Van Gaal fosse bom mesmo – sejamos francos – teria derrotado a brava Costa Rica no tempo normal ou na prorrogação. Correu riscos a Holanda, mas foi muito melhor que a valente Costa Rica, que, por sua vez foi longe demais. E os laranjas tiveram a dose de sofrimento extra, assim como os outros três semifinalistas. Com o plus de ter o desafogo com os filhos dentro de campo, ao menos nos casos de Robben e Van Persie, ambos mostrados pela TV. São mesmo especiais esses holandeses.

Mais cedo, quem quase cai para trás é Alejandro Sabella, técnico da Argentina. Ele se prostrava à beira do campo, quando, súbito, como se fosse privado dos sinais vitais por um décimo de segundo, quase cai para trás. O motivo? Uma incrível jogada de Higuaín que inclui uma arrancada, uma bola entre as canetas do zagueirão Kompany e um petardo que explodiu na trave antes de se perder pela linha de fundo.

Higuaín, espécie de Fred deles, havia desencantado no início do jogo contra a Bélgica. Uma jogada daquelas em que a bola gruda no pé de Messi desaguou em um passe cortado por um defensor e foi parar na entrada da área, onde o matador virou e bateu no canto, com tamanha rapidez que não deu tempo para o bom goleiro Courtois defender.

Messi, discreto como de hábito, quase foi decisivo como sempre. Isso porque, assim como aconteceu na temporada espanhola, o Preá também não conseguiu vencer o goleirão, um pelo Barcelona, outro pelo Atlético de Madrid. Dessa vez, teve a bola do jogo, frente a frente com a meta e não fez. Daí Higuaín, pela primeira vez nessa Copa, ficar com o troféu de melhor da partida.

Não, a Argentina não deitou e rolou, mas contou com a preguiça belga, que não muda o jeito de jogar nunca. Os caras têm boa técnica e ficam tocando a bola de lado a outro acreditando que, a qualquer momento, uma oportunidade de gol pode surgir. Mas ela não vem e fica tudo por isso mesmo. A única atitude tomada para esboçar algum tipo de reação foi a de alçar bolas na área, da metade do segundo tempo em diante, mas não funcionou.

Os jogadores da Bélgica são esses mesmos, e são bons. Mas se essa alardeada geração quiser ganhar alguma coisa, tem que achar um modo de jogar mais agressivo. Talvez com um treinador com outras características e que inclusive descubra se o meia Hazard, grande decepção do time, seja realmente só um jogador de clube, como tantos outros.

Até a próxima porque agora é briga de cachorro grande!

Resultados de 5/7/2014
Argentina 1 x 0 Bélgica
Holanda 0 x 0 Costa Rica (4 x 3 nos pênaltis)

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