Dose reforçada
Após show fulminante no Rock In Rio, Lamb Of God mantém performance e transforma Circo Voador em panela de pressão sem válvula de escape. Fotos: Daniel Croce.
Melhor numas, porque dificilmente um show do Lamb Of God será melhor do que aquele do Rock In Rio (relembre). Melhor, sim, porque, de certo modo, estética e hipoteticamente falando, é como se pegasse aquele mundaréu de gente lá do Palco Sunset e colocasse em uma panela de pressão gigante, todo mundo amassado, espremido uns contra os outros, compactados sem piedade. Mas, ao mesmo tempo, e surpreendentemente, fazendo do pedacinho de chão um latifúndio em rodas de dança tenebrosas e assustadoras de tão dinâmicas, ao se transformarem, durante cada uma das músicas, numa espécie de espiral dos quintos dos infernos. E – ainda tem mais essa – com todo mundo cantando quase todas as músicas, especialmente os refrães; sim, eles existem. Não é só sopapo, não.
E melhor porque são, na avaliação contábil de um set list bem parecido, três músicas a mais em relação a setembro de 2013 - 15 contra 12. Mesmo porque, tocando em tudo o que é canto, a banda não lançou um álbum novo de lá pra cá, só o EP “The Duke”, em novembro do ano passado, com duas inéditas que não foram tocadas. A julgar pela reação do público, nem precisava. “Walk With Me in Hell” tem verso/refrão cantado a plenos pulmões, enquanto a maçaroca de guitarras, com o som já acertado após um início inseguro, penetra no corpo por osmose. Mark Morton, mais agressivo, e Willie Adler mantêm um padrão em cada música de, enquanto um se acaba nos solos, o outro investe em passagens intrincadas que contribuem para cativar o público. Em “512” é o batera Chris Adler, irmão de Willie, que se destaca em uma performance brutal, se superando em comparação à performance em outras músicas, sempre acima da média.Se não há novidades no repertório, por outro lado, e somando-se a isso o fato de essa formação estar junta há quase 20 anos, o som que o Lamb Of God faz ao vivo hoje tem uma consistência excepcional, reforçada pela boa qualidade do equipamento da casa. É peso, velocidade, agressividade e potência sonora, tudo certinho e explodindo nos tímpanos em um volume cavalar. Em “Now You’ve Got Something to Die For”, que Blythe pede de antemão a cantoria do público e – adivinhem – é atendido, esse entrosamento é flagrante e a interação público/banda, que já é grande ao longo do show, chega a um dos grandes momentos. “The Faded Line”, que guarda certo parentesco com “One”, do Metallica, descamba para um cantarolar com punhos aos céus bonito de se ver.
A camisa do Bad Brains e os dreadlocks de Randy Blythe não negam a personalidade incomum para o meio do death metal, e a bandagem em um dos joelhos mostra que nem só a voz se desgasta em vinte e poucos anos de banda. Mesmo assim, o vocalista chega ao bis, cerca de hora e vinte minutos depois, ainda com o gogó em dia, a ponto de buscar afinação mais aguda nas partes menos rasgadas de “Blacken The Cursed Sun”. Também, é a hora de “Redneck”, dedicada aos fãs de futebol (soccer?), com Blythe exibindo uma camisa da seleção canarinho. Hora de o Circo Voador ver uma das maiores e mais velozes rodas de pogo desde sempre, e de todo mundo se esgoelar – e de novo – em um dos ótimos refrães do repertório do Lamb Of God. Sabe qual o melhor show deles no Brasil? O próximo, quando voltarem para apresentar as músicas de um disco novo.Set list completo:
1- Laid to Rest
2- Ruin
3- 512
4- Desolation
5- Walk With Me in Hell
6- Still Echoes
7- Now You’ve Got Something to Die For
8- Hourglass
9- Ghost Walking
10- Engage The Fear Machine
11- Broken Hands
12- The Faded Line
13- Set to Fail
Bis
14- Blacken The Cursed Sun
15- Redneck
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Grande show. Ótima resenha. E o Carcass? Fez uma abertura histórica.