O Homem Baile

Dose reforçada

Após show fulminante no Rock In Rio, Lamb Of God mantém performance e transforma Circo Voador em panela de pressão sem válvula de escape. Fotos: Daniel Croce.

Aos gritos: o vocalista do Lamb Of God, Randy Blythe, em outra intensa performance no Rio

Aos gritos: o vocalista do Lamb Of God, Randy Blythe, em outra intensa performance no Rio

Imagine a oportunidade de, quase dois anos depois, poder assistir ao mesmo show que foi apontado como um dos melhores do Rock In Rio de 2015. Só que melhor. É mais ou menos isso que acontece na noite deste sábado de São João (24/6), em um Circo Voador cheinho de dar gosto, com o Lamb Of God. No palco, o vocalista Randy Blythe mata a charada. “Essa é a que conta como a nossa primeira vez no Rio!”, brada, ainda na parte inicial do show, fazendo “pouco caso” da apresentação anterior, como se soubesse que no Circo Voador, com os fantasmas do rock incrustados sob a lona, tudo é melhor. Se não sabia, descobriu depois de uma noite apavorante de tão intensa, que ainda teve Carcass e Heaven Shall Burn como shows de abertura (resenhas aqui e aqui).

Melhor numas, porque dificilmente um show do Lamb Of God será melhor do que aquele do Rock In Rio (relembre). Melhor, sim, porque, de certo modo, estética e hipoteticamente falando, é como se pegasse aquele mundaréu de gente lá do Palco Sunset e colocasse em uma panela de pressão gigante, todo mundo amassado, espremido uns contra os outros, compactados sem piedade. Mas, ao mesmo tempo, e surpreendentemente, fazendo do pedacinho de chão um latifúndio em rodas de dança tenebrosas e assustadoras de tão dinâmicas, ao se transformarem, durante cada uma das músicas, numa espécie de espiral dos quintos dos infernos. E – ainda tem mais essa – com todo mundo cantando quase todas as músicas, especialmente os refrães; sim, eles existem. Não é só sopapo, não.

O guitarrista Willie Adler e o tranquilo baixista John Campbell, que parece estar em outro mundo

O guitarrista Willie Adler e o tranquilo baixista John Campbell, que parece estar em outro mundo

E melhor porque são, na avaliação contábil de um set list bem parecido, três músicas a mais em relação a setembro de 2013 - 15 contra 12. Mesmo porque, tocando em tudo o que é canto, a banda não lançou um álbum novo de lá pra cá, só o EP “The Duke”, em novembro do ano passado, com duas inéditas que não foram tocadas. A julgar pela reação do público, nem precisava. “Walk With Me in Hell” tem verso/refrão cantado a plenos pulmões, enquanto a maçaroca de guitarras, com o som já acertado após um início inseguro, penetra no corpo por osmose. Mark Morton, mais agressivo, e Willie Adler mantêm um padrão em cada música de, enquanto um se acaba nos solos, o outro investe em passagens intrincadas que contribuem para cativar o público. Em “512” é o batera Chris Adler, irmão de Willie, que se destaca em uma performance brutal, se superando em comparação à performance em outras músicas, sempre acima da média.

Se não há novidades no repertório, por outro lado, e somando-se a isso o fato de essa formação estar junta há quase 20 anos, o som que o Lamb Of God faz ao vivo hoje tem uma consistência excepcional, reforçada pela boa qualidade do equipamento da casa. É peso, velocidade, agressividade e potência sonora, tudo certinho e explodindo nos tímpanos em um volume cavalar. Em “Now You’ve Got Something to Die For”, que Blythe pede de antemão a cantoria do público e – adivinhem – é atendido, esse entrosamento é flagrante e a interação público/banda, que já é grande ao longo do show, chega a um dos grandes momentos. “The Faded Line”, que guarda certo parentesco com “One”, do Metallica, descamba para um cantarolar com punhos aos céus bonito de se ver.

Randy Blythe, sempre vomitando tijolos, e o guitarrista Mark Morton, o mais agressivo no Lamb Of God

Randy Blythe, sempre vomitando tijolos, e o guitarrista Mark Morton, o mais agressivo no Lamb Of God

A camisa do Bad Brains e os dreadlocks de Randy Blythe não negam a personalidade incomum para o meio do death metal, e a bandagem em um dos joelhos mostra que nem só a voz se desgasta em vinte e poucos anos de banda. Mesmo assim, o vocalista chega ao bis, cerca de hora e vinte minutos depois, ainda com o gogó em dia, a ponto de buscar afinação mais aguda nas partes menos rasgadas de “Blacken The Cursed Sun”. Também, é a hora de “Redneck”, dedicada aos fãs de futebol (soccer?), com Blythe exibindo uma camisa da seleção canarinho. Hora de o Circo Voador ver uma das maiores e mais velozes rodas de pogo desde sempre, e de todo mundo se esgoelar – e de novo – em um dos ótimos refrães do repertório do Lamb Of God. Sabe qual o melhor show deles no Brasil? O próximo, quando voltarem para apresentar as músicas de um disco novo.

Set list completo:

1- Laid to Rest
2- Ruin
3- 512
4- Desolation
5- Walk With Me in Hell
6- Still Echoes
7- Now You’ve Got Something to Die For
8- Hourglass
9- Ghost Walking
10- Engage The Fear Machine
11- Broken Hands
12- The Faded Line
13- Set to Fail
Bis
14- Blacken The Cursed Sun
15- Redneck

Parece fácil: o baterista Chris Adler, em uma noite de exibição cavalar de técnica e agressividade

Parece fácil: o baterista Chris Adler, em uma noite de exibição cavalar de técnica e agressividade

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Rafael em junho 26, 2017 às 8:38
    #1

    Grande show. Ótima resenha. E o Carcass? Fez uma abertura histórica.

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