O Homem Baile

Poderoso

No Rio pela primeira vez, Carcass recupera o tempo perdido e aponta para a frente em show repleto de intensidade. Fotos: Daniel Croce.

O líder do Carcass, Jeff Walker, na clássica pose com o baixo empunhado sobre a perna

O líder do Carcass, Jeff Walker, na clássica pose com o baixo empunhado sobre a perna

Não é que a espera por um show do Carcass no Rio de Janeiro tenha durado muitos anos. Atravessa gerações a ansiedade para ver a banda chave do chamado splatter death metal, e, no meio do salão do Circo Voador, no sábado (24/6), antes mesmo de dizer um “oi, tudo bem?”, os fãs das antigas já se defendiam, com um fecho de alegria no canto as boca: “eu só vim para ver o Carcass!”. Como se Lamb of God, a banda principal, que fez o melhor show da noite (veja como foi) e o Heaven Shall Burn (resenha aqui), a de abertura, pouco valessem o ingresso. As três foram escaladas como uma versão carioca do Liberation Festival, que aconteceu no dia seguinte, em São Paulo, tendo ainda King Diamond como atração de fundo.

Por isso a tradicional imagem do vocalista Jeff Walker, com o baixo empunhado quase na vertical sobre a perna dá a sensação de “agora, sim!”, ao mesmo tempo em que os riffs pesados de “316L Grade Surgical Steel” impulsionam o público a se bater uns contra os outros. Se há ao menos uma unanimidade na noite ela se chama Carcass, que se impõe como clássico ante a qualquer tipo de sensação do ramo. A música é espécie de faixa-título do ótimo álbum “Surgical Steel”, de 2013, que marca o retorno do grupo e cede outras três ao show, com uma horinha só de duração. Serve, logo de cara, para mostrar que tá todo mundo inteirado com essa nova fase, mais elaborada e até, por assim dizer, atualizada ao metal contemporâneo, que além de Walker tem o guitarrista Bill Steer como integrante original.

O guitarrista Ben Ash, o caçula da atual formação, que demostra bom entrosamento com os demais

O guitarrista Ben Ash, o caçula da atual formação, que demostra bom entrosamento com os demais

Walker já esteve no Rio outras vezes disfarçado de latino como integrante do Brujeria, e é isso que ele se lembra ao cumprimentar o público antes de “Unfit for Human Consumption”, outra das novas, muito embora o inglês carregado da periferia de Liverpool pouco contribua para o diálogo. É na linguagem do esporro e da distorção que banda e público se entendem, com as músicas praticamente emendadas umas nas outras, ou em medleys que juntam, por exemplo, “Exhume to Consume” e “Reek of Putrefaction”, e todo mundo percebe aos berros e aumentando a potências das onipresentes rodas de pogo. A peça ainda reservaria aquela coreografia ensaiada com os punhos cerrados que só o heavy metal, ainda que em uma de suas facções mais extremas, pode proporcionar.

Chama a atenção, contudo, que nenhuma faixa de “Reek of Putrefaction” (o álbum, não a música) tenha sido incluída no repertório. Seria uma tentativa de colocar uma pedra sobre o considerado símbolo maior do splatter, do grindcore e adjacências? Uma reflexão que seguramente não passa pelas cabeças sacolejantes no meio do salão, enquanto a dupla de guitarristas esmerilham as cordas sem dó. Os dois desenvolvem um modo de tocar segundo o qual quase sempre é Bill Steer que começa a solar, para que Ben Ash venha em seguida. Funciona na maior parte do tempo, especialmente em “Edge of Darkness”, com a sinistra introdução reconhecida de antemão, e na própria “316L Grade Surgical Steel”, cujas evoluções melódicas – o Carcass também contribuiu e muito para a criação do death metal melódico - realçam a tal atualização no som da banda.

O guitarrista Bill Steer e Jeff Walker, os únicos remanescentes da formação original do Carcass

O guitarrista Bill Steer e Jeff Walker, os únicos remanescentes da formação original do Carcass

Sem um vocalista que apenas cante, a performance do grupo perde – não só por isso, diga-se – para a do Lamb Of God, e, de certo modo, até para a do Heaven Shall Burn, mas a mistura do público das duas bandas maiores, com o Circo Voador bem cheio, abre caminho para que o Carcass volte para uma apresentação solo, maior, em outra oportunidade. Quem sabe aí possa fazer ou um show só com o material antigo – dá até para imaginar um pano de fundo no palco com as imagens suculentas das capas da fase inicial -, ou o lançamento de um novo álbum, ou mesmo as duas coisas juntas, com mais tempo para tocar. Que não demore tanto como essa primeira vez.

Set list completo:

1- 316L Grade Surgical Steel
2- Buried Dreams
3- Incarnated Solvent Abuse
4- Carnal Forge
5- No Love Lost
6- Unfit for Human Consumption
7- Cadaver Pouch Conveyor System
8- Captive Bolt Pistol
9- Edge of Darkness/This Mortal Coil
10- Exhume to Consume/Reek of Putrefaction
11- Corporal Jigsore Quandary/Heartwork

Carcass versão 2017: Beill Steer, Jeff Walker e Ben Ash, com o baterista Daniel Wilding no fundo

Carcass versão 2017: Beill Steer, Jeff Walker e Ben Ash, com o baterista Daniel Wilding no fundo

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Rafael em junho 26, 2017 às 21:23
    #1

    Melhor show da noite!!!! Heartwork é um clássico do metal!

  2. Porão em junho 27, 2017 às 10:28
    #2

    Tomara que venham logo, pois essa eu desfalquei e confesso que, se pudesse ir, Carcass seria meu estímulo!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado