O Homem Baile

Rodo passado

Show do Lamb Of God no Rock In Rio é de longe o mais agressivo e pesado, a custa de uma perfeita equalização do som. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Victor Nomoto (1) e Fernando Schlaepfer (2 e 3).

Randy Blythe, o bom vocalista do Lamb Of God com uma das expressões de quem sente aquilo que faz

Randy Blythe, o bom vocalista do Lamb Of God com uma das expressões de quem sente aquilo que faz

Não teve pra ninguém no Rock In Rio. Não teve Palco Mundo, nem Metallica, Slipknot ou System Of A Down. A banda de metal mais porrada de todas, que fez o show mais extremo de todos os dias, aterrorizando o mais incrédulo dos que adentraram a Cidade do Rock deu expediente na tarde/noite da quinta, dia 24, no Palco Sunset. Era o Lamb Of God, que, honra seja feita, nem é um nomão no gênero, e tem aparecido nas manchetes internacionais mais por conta de histórias de fora dos palcos, como a prisão do vocalista Randy Blythe na República Tcheca. Mas uma horinha só foi o bastante para o grupo desencadear uma avalanche sonoro-esporrenta em um volume abissal que enlouqueceu a todos, vivos ou mortos, que passavam por aquela região. O grupo passou o rodo sem dó.

Mas é preciso esclarecer que o show do Lamb Of God, na verdade, começou meses antes do dia 24. Começou quando o Presidente do Rock In Rio, Roberto Medina, determinou que a casa do PA fosse retirada do meio do público, como aconteceu até a edição de 2013, e colocada lá no fundo, e quando os técnicos do Palco Sunset, por causa disso, receberam uma mesa de som novinha em folha. Porque, sem uma boa qualidade de som, o volume generoso que sai das caixas jamais seria ouvido com tanta nitidez para cada um dos instrumentos. E - senso comum - quanto mais complexo o som de um gênero como o death metal, mais importante ouvir tudo o que se toca debaixo daquela avalanche sonora desenfreada, de modo a se atingir a plena compreensão.

Assim, é inevitável que rodas de dança se abram seguidamente e ao mesmo tempo, por vezes resultando em interseções gigantes. Em “512”, uma das melhores da noite, e que faz parte do trabalho mais recente deles, “VII: Sturm und Drang”, o peso da música mais lenta e arrastada é de torturar o ouvinte na alma. Antes dela, uma sessão de porradas ajuda a esclarecer o porquê de o baterista Chris Adler ter sido escolhido por Dave Mustaine para integrar o Megadeth (saiba mais). O sujeito é técnico, preciso e veloz, seguramente um dos melhores bateristas da música extrema da atualidade. O início avassalador tem no telão imagens de implosões, cenas de guerra e outros artifícios típicos do death metal que contribuem para um contexto apocalíptico dos mais interessantes.

O baixista John Campbell, que acompanha certinho, com precisão, o estilo do baterista Chris Adler

O baixista John Campbell, que acompanha certinho, com precisão, o estilo do baterista Chris Adler

Entretanto, em vez de tocar mais material desse disco novo, o LOG opta por dar uma geral na carreira e as 12 músicas contemplam cada um dos discos lançados até agora. Em “Hourglass”, um riff daqueles inspirados em clássicos do Slayer abre a música, mas o arranjo é notoriamente mais pesado que a versão gravada em disco, em que pese a disposição de Blythe para ser ouvido de qualquer jeito, a despeito do volume altíssimo das guitarras. É assim que a duplinha Willie Adler e Mark Morton se revezam a serviço do esporro, sobretudo Morton, que desenrola um solo de arrepiar em “Set to Fail”, a seguinte. Já na dramática “Vigil”, que começa como quem não quer nada e andamento lento, o que marca é a transição “nível Hypocrisy” para uma segunda parte incrivelmente matadora, com destaque outra vez para a condução precisa de Adler.

Embora nascido no seio do death metal americano, hoje, cerca de 20 anos depois, o Lamb Of God flerta com vários subgêneros da música pesada, tendo definido um jeito de ser fazer som extremo que lhe é peculiar. O groove dos riffs pesados e bem marcados de “Ruin”, por exemplo, são um plus que o quinteto adquiriu com o tempo. Randy Blythe também, honra seja feita, vomita os vocais rasgados sem muita dificuldade, mesmo com boa movimentação de palco e impagáveis expressões de quem está realmente possesso pelo som que pratica. Perto do fim, é a conhecida “Laid To Rest” o estopim para que o sprint final do público se inicie, e até um Jesus Cristo, em carne, osso, barba e túnica branca é erguido no meio do povaréu. Na última, a grooveada “Black Label”, é questão de vida ou morte e a entrega em múltiplas rodas de dança é fenomenal. A partir de agora, gaste seus dinheiro todo em shows como este do Lamb Of God.

Set list completo:

1- Walk with Me in Hell
2- Now You’ve Got Something to Die For
3- Still Echoes
4- 512
5- Ghost Walking
6- Ruin
7- Hourglass
8- Set to Fail
9- Vigil
10- Laid to Rest
11- Redneck
12- Black Label

Em família: Randy Blythe e o guitarrista Willie Adler, irmão mais novo do baterista Chris Adler

Em família: Randy Blythe e o guitarrista Willie Adler, irmão mais novo do baterista Chris Adler

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