O Homem Baile

Zona de desconforto

No Rio, Hatebreed faz de simples abertura para o Five Finger Death Punch uma grande festa do hardcore. Foto: Divulgação.

hatebreed2016Era para ser apenas mais um show de abertura, mas foi um show daqueles, uma abertura com “A” maiúsculo. Primeiro porque os fãs abandonaram o campo da reclamação e chegaram cedo para participar com vontade. Depois, que o som praticado pelo Hatebreed – um hardcore à Nova York amplamente metalizado - não é mesmo feito para ficar parado, e – ainda tem mais essa e repita-se – o vocalista Jamey Jasta sabe como colocar o mais tímido dos infiéis em uma zona de desconforto, de modo que, quando ele se dá conta, já está se estapeando e envolvido em rodas de pogo como se fosse um catedrático pós-graduado no assunto. E, por último, porque faz o som Five Finger Death Punch, tido como a banda principal, e que fez um bom show (veja aqui), parecer canção de ninar.

O cenário no Vivo Rio, na última quarta (10/5), era mais ou menos assim: uma roda de pogo em plena pista premium e outras três na comum, uma de cada lado, espremida na lateral da grade, e outra na parte central. Lá em cima, no mezanino – a casa é chique – adeptos amplamente aloprados pareciam querer se jogar, como num derradeiro mosh suicida. Em “Live For This”, a primeira das mais conhecidas, o riff pesadão inaugura a cantoria com Jasta erguendo o punho cerrado para ser seguido. “This Is Now”, que traz à memória os tempos áureos do Biohazard, patrocina um efeito pula-pula que se repetiria em toda a noite. E “Destroy Everything” clama por um reseat generalizado nesse estranho mundo e cumpre a vocação de quebrar tudo.

No começo, a coisa estava difícil, por conta de inacreditáveis ajustes de última hora no som. Por isso, as músicas do disco mais recente, “The Concrete Confessional”, lançado há exatamente um ano, deixadas para o cabeçalho da noite, não chegaram a funcionar muito bem. Falhava microfone, não se ouvia as guitarras e reinava nos tímpanos a solitária bateria de Matt Byrne. Três delas, ao menos, foram abraçadas pela turba: a) “A.D.”, uma pedrada de velocidade insana; b) “Looking Down the Barrel of Today”, conduzida por um riff metálico mais lento, mas nem por isso menos agressiva; e c) A arrastada e pesada “Seven Enemies”, uma punhalada no peito com direito a giro antes da retirada da ferramenta. É de impressionar que, passados 20 anos, o quinteto siga fazendo música nesse nível de agressividade.

O show é uma derivação do Maximus Festival, que acontece nesse final de semana, em São Paulo, e não parece suficiente (40 e poucos minutos) para quem já teve o Napalm Death como banda de abertura no Circo Voador (relembre), local bem mais apropriado para uma farra dessas. Mesmo assim, ainda que a banda alegue não usar set list e mandar cada show no improviso, deu pra reconhecer/curtir ainda porradas como “Proven”, que alterna momentos de velocidade e outros cadenciados; “I Will Be Heard”, com groove sensacional, já no encerramento; e “As Diehard as They Come”, uma pedrada na cabeça que amacia o couro de quem se acaba no empurra-empurra insano na beirada do palco. Uma prova de que este terceiro show do Hatebreed no Rio ainda não é o bastante; que voltem ano após ano.

Set list incompleto:

1- A.D.
2- Looking Down the Barrel of Today
3- Seven Enemies
4- Live For This
5- Destroy Everything
6-
7- This Is Now
8-
9- Proven
10-
11- Perseverance
12- As Diehard as They Come
13-
14- I Will Be Heard

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