Acolhida generosa
Plateia entusiasmada faz o metal de baixo impacto do Five Finger Death Punch parecer melhor do que é. Foto: Divulgação.
O vocalista aparece trajado com uma camiseta do Soulfly verde e amarela, na qual faz questão de mostrar o nome da banda do ex-Sepultura Max Cavalera. No rosto, a mão espalmada que faz referência aos cinco dedos citados no nome do grupo, que, se pronunciado ritmicamente, pode se converter em um verso por si só. A mão colada em vermelho é a mesma que alguns fãs daqueles com pouca noção, ali na grade, têm, e isso lhes garante, mais tarde, o acesso ao palco para fazer sabe-se lá o quê. Começa bem o show do Five Finger Death Punch no Rio, a custa de uma plateia entusiasmada que, de tanto vibrar e apoiar o grupo americano, faz parecer que o metal de baixo impacto que vem do palco é melhor do que realmente é.
O show é um pequeno braço do Maximus Festival, que acontece no próximo sábado, em São Paulo. E, se começa na pressão e com boas músicas, daquelas com refrães colantes, sofre com uma atroz falta de continuidade. Ademais, dura pouco mais de uma hora, muito pouco para quem estreia no País e tem seis álbuns no currículo, com bons hits e muita badalação em torno de si próprio. Também pudera. É difícil um show de metal fluir quando o peso inerente ao gênero é subtraído para dar lugar a coisas como: a) Músicas no formato acústico para barbados cantarem no melhor estilo emo; b) Um solo de bateria cheio de sons pré-gravados que descamba para uma inacreditável e desoladora micareta metálica; e c) o vocalista fazendo – um após outro - o nefasto coraçãozinho com as mãos, além de um patético sinal da cruz. Se tivesse acompanhado o show do Hatebreed, na abertura, teria aprendido com punhos cerrados e com o Moloch que Dio introduziu no gênero.
Ele se chama Ivan Moody, canta muito bem e tem ótima presença de palco, até quando precisa encarar problemas técnicos que contribuem para o clima de interrupção do show; e registre-se que só após duas ou três músicas o sujeito que opera a mesa de som consegue arrumar as coisas. Mesmo assim, se percebe a boa pegada já no início, em músicas como “Wash It All Away”, quase um hard rock, com ótimo refrão, e uma das que o público mais vibra; e “Never Enough”, impulsionadora de um daqueles momentos pula-pula, e seriam muitos. Inicialmente tímido, o guitarrista Jason Hook logo assume a responsabilidade e desanda a mandar ótimos solos, em que pese a falta de pegada do show em si. Na versão de “Bad Company” (vocês sabem de quem), curiosamente consagrada com o 5FDP, ele tem um dos melhores momentos da noite, e nem precisava enumerar citações a Ozzy + Pantera + Deep Purple no início.
A tal camisa do Soulfly não é por acaso nem só para fazer média com o público, mas faz todo o sentido no groove empostado pelo baixista Chris Kael em “Jekyll and Hyde”. Kael é um figuraça com mais barba que cabelo que ajuda um bocado nos vocais, às vezes até como gogó principal. O outro guitarrista, Zoltan Bathory, cumpre a missão de ser discreto no palco, embora use um abadá personalizado parecido com o de Hook, e o baterista Jeremy Spencer, fantasiado de super-herói dos infernos, com máscara e tudo, fica marcado por jogar o solo no lixo, ao usar sons pré-gravados de gosto pra lá de duvidoso. Mesmo curto, o show tem um bis sem muita demora com “The Bleeding”, num ótimo arremate por parte – de novo – do público (umas mil e poucas pessoas) que se não lotou o Vivo Rio, aparelhado com aquelas cortinas pretas no fundo para dar a sensação de tamanho menor, se mostra muito melhor que o show propriamente dito.
Set list completo:
1- Lift Me Up
2- Never Enough
3- Wash It All Away
4- Got Your Six
5- Bad Company
6- Jekyll and Hyde
7- Solo de bateria
8- Burn MF
9- Wrong Side of Heaven
10- Remember Everything
11- Coming Down
12- Under and Over It
Bis
13- The Bleeding
Tags desse texto: Five Finger Death Punch
O show foi bom, mas poderiam ter tocado mais hits como The Pride, Hard to See e até algumas músicas do primeiro álbum: Salvation, Ashes, A Place to Die…