O Homem Baile

Língua afiada

Mensagens políticas e referências à própria trajetória marcam o ótimo show do Planet Hemp no Lollapalooza. Fotos: Ale Frata/Divulgação T4F.

Marcelo D2: das ruas para a atração principal do Lollapalooza, sempre tendo muito o que falar

Marcelo D2: das ruas para a atração principal do Lollapalooza, sempre tendo muito o que falar

Escalado aos 45 do segundo tempo para substituir Snoop Dogg, o Planet Hemp botou pra quebrar na noite de encerramento do Lollapalooza, no domingo (13/3). Não chegou a ter um público como o de Florence + The Machine (veja como foi no Rio), que tocava no mesmo horário, mas atraiu muita gente, e – mais que isso – gente amplamente familiarizada com o repertório de clássicos do grupo. Como a banda está em uma nova turnê de reunião, e dessa vez diz que não para mais, as músicas seguem bem ensaiadas, com o guitarrista Nobru, revelado no Cabeça, assim como o baterista Pedrinho, bastante seguro e à vontade. Nobru substitui Rafael Crespo, que dessa vez não topou sair em turnê. O show também foi marcado pelo posicionamento político, no dia em que manifestações contra o governo aconteceram em São Paulo.

“Que dia para o nosso país hoje”, disse o vocalista Marcelo D2, antes de “Futuro do País”. “Esquerda ou direita, quem vai roubar mais, quem vai enganar mais a gente?”, completou. A música faz parte da série “escrita há milhões de anos, mas segue atual”, máxima nem sempre verdadeira. Já BNegão, que divide o gogó com D2, citou os “professores e estudantes secundaristas em greve que levam porrada da polícia”, antes de “Contexto”. Com as falas próximas, evidencia-se o posicionamento de esquerda de BNegão ante ao anárquico de D2, e ainda teve a terceira via direitista da produção que manteve a emblemática imagem da Presidente Dilma no telão, no final de “Futuro do País”, depois de um revezamentos de ex-presidentes e outros políticos. Que dia, meus amigos. Que dia.

BNegão, mesmo com uns quilões a mais, mantém o fôlego e a boa performance de sempre

BNegão, mesmo com uns quilões a mais, mantém o fôlego e a boa performance de sempre

Mas era dia também do aniversário de mil e tantos anos de João Gordo, do Ratos de Porão, que subiu no palco para cantar a fantástica “Crise Geral”, essa sim, sempre atual, que já vem sendo tocada nos shows do Planet Hemp nessa turnê (veja fotos do show do Rio). A música faz parte de um bloco hardcore que tem ainda “Seus Amigos”, escrita pelo Serial Killer e com a presença do guitarrista do grupo, Fábio Bolinha, em uma segunda guitarra. Atiçado por BNegão, o público se acaba no meio da chuva fraca, unificando todas as rodas de dança em uma só, e olha que já era a segunda parte do show. A participação da plateia, dançando, pulando ou cantando, apesar da chuva, é boa do início ao fim.

Além de boas tiradas de Marcelo D2, que coloca o Planet como “os maconheiros mais famosos do Brasil”, e em terceiro numa hierarquia hipotética da maconha na música, que tem Bob Marley e Snoop Dogg à frente, o show soa um pouco reflexivo no que tange à trajetória da banda. Antes de “Phunky Buddha”, por exemplo, Marcelo cita o ano de 1993 e o Garage Art Cult, berço do rock brasileiro daqueles tempos, onde o Planet nasceu e onde ele próprio se hospedou em dias menos celebrados. Ele cita ainda o Espaço Cultural Sérgio Porto, abrigo de tantos festivais de rock independentes. É o que, de certo modo, legitima uma carreira que vem literalmente das ruas. Ou seja, os caras sabem do que falam e se engana quem pensa que o papo é só maconha. Que o diga “Zerovinteum”, que mostra outro lado da Cidade Maravilhosa, “Porcos Fardados”, vocês sabem sobre quem, e “A Culpa é de Quem?”.

Marcelo D2 e o guitarrista Nobru, completamente adaptado ao repertório e ao estilo do Planet Hemp

Marcelo D2 e o guitarrista Nobru, completamente adaptado ao repertório e ao estilo do Planet Hemp

O rol de homenagens tem ainda uma a Chico Science, que faria 50 anos por esses dias, com a sempre incluída “Samba Makossa”, já no final do show. O repertório começa com hits peso pesado, com a explosiva dobradinha “Ex-Quadrilha da Fumaça”/“Legalize Já!”, e reserva para o final o mais importante da noite, “Mantenha o Respeito”. O show também serve para evidenciar a boa forma de BNegão, que não perde o fôlego e ainda solta uns beat box incríveis, e de Marcelo D2, muito embora tenha um cadeira de praia no palco para dar uma descansada entre uma e outra música. Não é nada, não é nada, o Planet é o único grupo brasileiro a ser duas vezes headliner de um festival de porte como o Lollapalooza (veja como foi em 2013), e dessa vez no mesmo horário da atração do Palco Principal. Pensando bem, isso é uma conquista e tanto!

Set list completo:

1- Procedência C.D.
2- Ex-Quadrilha da Fumaça
3- Legalize Já!
4- Dig Dig Dig
5- Planet Hemp
6- Fazendo a Cabeça
7- Deisdazseis
8- Phunky Buddha
9- Maryjane
10- Raprockandrollpsicodelia
11- Zerovinteum
12- Porcos Fardados
13- Não Compre, Plante!
14- Crise Geral
15- Seus Amigos
16- Futuro do País
17- Stab
18- Contexto
19- Queimando Tudo
20- Quem Tem Seda?
21- A Culpa é De Quem?
22- Samba Makossa
23- Mantenha o Respeito

A dupla de rappers do Planet Hemp vai ao ataque na direção do público, que responde muito bem

A dupla de rappers do Planet Hemp vai ao ataque na direção do público, que responde muito bem

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