O Homem Baile

Recebendo o respeito

Planet Hemp faz valer a posição de headliner no Lollapalooza com apresentação devastadora que serve de exemplo para outros festivais. Foto: Bruno Eduardo.

planethemplolla13Se a escalação do Planet Hemp como atração principal do Lollapalooza foi comemorada, o efeito prático poderia ser um tiro pela culatra. Explica-se que no quadro de horários dos shows, seguido elogiosamente à risca pela produção, o show do Pearl Jam, a maior banda do festival, estava para começar às 20h45, exatamente no horário do término da apresentação do Planet. No ano passado, por exemplo, a rainha Joan Jett (relembre) viu a debandada do público para o show do Foo Fighters, lá do outro lado (veja como foi). E o Planet Hemp?

Bem, quando o vídeo com o figuraça Away defendendo a legalização da maconha entrou no ar, no telão gigante do Palco Butantã, não dava para ver onde terminava o mar de gente. A volta do Planet foi tratada pelo público de São Paulo e por toda a massa de forasteiros que um festival como o Lollapalooza atrai com a moral de uma das bandas mais importantes do rock nacional dos últimos tempos. E serve de exemplo para outros festivais e para o próprio Lolla, no tratamento a outras bandas locais.

O show é praticamente o último da turnê de reunião, iniciada no Circo Voador, no Rio (veja como foi), em setembro, e foi guardado para o festival. É dividido em três atos (chique), alusivos aos três álbuns lançados pela banda, com alguns ajustes por conta do limite de horário, generosos 90 minutos. Os atos são “O Usuário e a Luta Pela Legalização da Maconha”, “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” e “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça”. Quando o vídeo inicial acaba e grupo manda o hino “Legalize Já!”, o mar de gente fica revolto e o refrão cantado em uníssono revela a tacada certeira do festival em colocar a banda ali, no lugar que é – de verdade – o dela.

O quarteto – Marcelo D2, BNegão, Rafael, Formigão e Pedrinho – parece bem á vontade com o maior show da turnê, e mais entrosado – compreensível – que na estreia, na Lapa Voadora. Mas não é só nos grandes hits, boa parte das músicas tem a letra cantada na ponta da língua pelo público, revelando outra façanha do Planet: levar a marra malemolente do carioca para ser cantada em qualquer sotaque no meio da multidão.

É quando se percebe, também, o caldeirão sonoro da banda, cheio de referências de tudo o que é lado, tendo como único elemento entre as músicas o tema do uso/apreço/legalização da maconha. Talvez seja um raro caso de sucesso de uma banda monotemática, que, por isso mesmo, acabou “na hora certa”, na opinião do próprio Marcelo D2 (leia entrevista aqui). Para o público do festival, que na noite de domingo chegou a 60 mil, o Planet estava mais vivo que nunca, fazendo a multidão cantar, pular, gritar e abrir incríveis rodas de pogo, sobretudo nas músicas mais nervosas. D2 cita Fábio Costa, do Garage, morto esse ano, personagem vital na trajetória do Planet e do próprio D2, relembrando a história toda.

“Eu sei que o hardcore não está muito na moda, mas nos 90 era assim que se fazia hardcore”, diz Marcelo D2, quando o grupo manda “100% Hardcore”, do refrão “quem não gostou vai se fuder!”. “Isso sim é uma roda”, observa Marcelo, enquanto o telão mostra um pega pra capar dos diabos na beirada do palco. Os vídeos, grande sacada, um após o outro, ajudam a embalar o povão com hits como “Última Ponta”, “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Zerovinteum”, “Stab” e tantos outros que continuam “fazendo a cabeça de geral”. No público, isqueiros são erguidos - que mané celular – pela massa, o que torna desnecessário apontar a segunda droga mais consumida no festival; a primeira, sabemos todos, foi o cheiro de estrume.

Set list completo
1o ato
1- Legalize Já
2- Dig Dig Dig (Hempa)
3- Fazendo a Cabeça
4- Phunky Buddha
5- Maryjane
2o ato
6- Zerovinteum
7- Queimando Tudo
8- Quem Tem Seda?
9- Gorilla Grip
10- Seus Amigos
11- Four Track
12- Hip Hop Rio
13- Adoled (The Ocean)
14- 100% Hardcore
3o ato
15- Ex-Quadrilha da Fumaça
16- Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga
17- Stab
18- Contexto
19- Procedência C.D.
20- Samba Makossa
21- Mantenha o Respeito

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