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Apresentação arrasadora do Foo Fighters na primeira noite do Lollapalooza consolida grupo como um dos melhores da atualidade, mas acende alerta para Dave Grohl cuidar da voz. Foto: Marcos Hermes.

foofhighterslolla“Essa é a última chance de vocês”, disse o líder do Foo Fighters, Dave Grohl, antes de repetir pela última vez o refrão de “Everlong”, um dos números mais esperados da noite, duas horas e meia e 26 músicas depois do início do show, o principal da edição de estreia do Lollapalooza, neste sábado (7/4), no Jockey club de São Paulo. As mais de 70 mil vozes tiraram fôlego do fundo de seus pulmões para atender, assim como fizeram a noite toda, ao chamado do rock. Grohl estava visivelmente emocionado, e foi assim durante vários momentos de uma noite que já entrou para a história da banda e dos grandes shows internacionais no Brasil. Fosse no cartaz que indicava o “OH” a ser cantarolado em “Best Of You” (uma folha de papel ofício impressa na casa de cada um), que encerrou o show, antes do bis, ou em gritos de “olê, olê, olê, deivê, deivê” ou de “Foo Fighters! Foo Fighters!”, o público teve um comportamento impecável.

No show deste sábado ficou claro que: a) o Foo Fighters é a maior banda de rock da atualidade; b) A banda consegue ocupar o topo sem colocar salto alto e se diverte a valer tocando como se estivesse na garagem; e c) Não há, na história do rock, grupo que realce tanto uma relação comum com os fãs e com o rock em si. Conclusões que se escancaram quando o quinteto faz questão de improvisar em quase todas as músicas, numa virada de bateria a mais, uma paradinha no andamento da guitarra de Dave Grohl que faz todos os outros colar o olho nele, e na sinceridade com que Grohl se dirige à plateia, usando de uma irresistível gaiatice que há tempos lhe é peculiar. A ideia é tocar, mas sempre com diversão.

O mais exigido é o batera Taylor Hawkins, que, para ocupar o lugar que foi do chefe, tem que ser inventivo, muito inventivo. Em “Cold Day In The Sun”, Grohl não resiste, assume a bateria e coloca Hawkins para cantar. É do batera, também, a voz de “In The Flesh”, do Pink Floyd, mais para o fim do show. A brincadeira que resulta na ida de Grohl para a bateria se dá na apresentação da banda, quando é exigido, - por pura farra – que cada integrante apresentado faça um solo, e cabe ao reintegrado Pat Smear esfregar uma de suas guitarras no retorno. O guitarrista, de desempenho discreto, aliás, usou alguns modelos estranhos de guitarra, incluindo uma de braço anguloso e 12 cordas, e outra com o corpo numa estranha forma de ‘H’.

Apesar do sucesso da turnê sul-americana, a semana não foi fácil para Dave Grohl, que, depois de revelar o diagnóstico de um cisto na garganta (leia matéria aqui), teve o problema realçado por parte da mídia, que destacou falhas em sua voz, sobretudo no primeiro show da Argentina (veja aqui). Em resposta, Grohl subiu ao palco disposto a avacalhar a questão. “Vou gritar o maios alto que puder”, dizia, em várias partes do show, antes de simular uma voz destrambelhada de propósito, só de troça. Noutras partes, disposto a por fim definitivo na voz, gritava como um alucinado, ainda mais em “White Limo”, faixa de vocação death metal do novo álbum, “Wasting Light”. O fato é que a voz dele funcionou na maior parte do show, mas se mostrou rouca, desafinada e fora do tom em trechos de várias músicas, como “Monkey Wrench” e “This is a Call”. Aceso o sinal de alerta para o vocalista se tratar de vez.

Não é, entretanto, isso que vai ficar na memória dos fãs brasileiros, muito menos na de Dave Grohl. Há coisas definitivamente mais importantes, como o pacto firmado segundo qual o Foo Fighters não vai demorar outros 17 anos para voltar à São Paulo; o discurso de agradecimento à Perry Farrel e ao Jane’s Addiction, banda que inspirou o Foo Fighters a ser o que é, segundo Grohl; e a sensacional participação de Joan Jett, não só com “Bad Reputation”, como aconteceu em toda a turnê, mas, também, com “I Love Rock’N’Roll”, num dos grandes momentos do show, já no bis. Isso sem falar em grandes hits como “All My Life”, que abre o show no gás, e “Learn to Fly”; músicas do novo álbum, como a ótima “Rope” e a melódica “Arlandria”; e ainda outras assim, assim, que crescem muito ao vivo, caso de “Stacked Actors” e – de novo - “Monkey Wrench”. Em suma, a apresentação arrasadora do Foo Fighters valeu por cada minuto desses tais 17 anos que São Paulo teve que esperar.

Set list completo:

1- All My Life
2- Times Like These
3- Rope
4- The Pretender
5- My Hero
6- Learn to Fly
7- White Limo
8- Arlandria
9- Breakout
10- Cold Day in the Sun
11- Long Road to Ruin
12- Big Me
13- Stacked Actors
14- Walk
15- Generator
16- Monkey Wrench
17- Hey, Johnny Park!
18- This is a Call
19- In the Flesh?
20- Best of You
Bis
21- Enough Space
22- For All the Cows
23- Dear Rosemary
24- Bad Reputation
25- I Love Rock ‘n’ Roll
26- Everlong

O Lollapalooza continua neste domingo, tendo como atração principal o Arctic Monkeys, e ainda há ingressos disponíveis. Clique aqui para saber absolutamente tudo sobre o festival.

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Comentários enviados

Existem 5 comentários nesse texto.
  1. Izabelle Farias em abril 9, 2012 às 22:06
    #1

    Olá Marcos, venho parabenizá-lo pela ótima crítica que fizestes sobre o show épico do Foo Fighters no Lollapalooza. Sou suspeita por comentar isso, pois sou grande fã da banda e, principalmente, do Dave Grohl. Sempre que posso acesso o Rock Em Geral para ler notícias, (suas) críticas, participar de sorteios etc. As palavras são sempre dosadas e é tudo muito bem escrito e detalhado, além de haver sempre informações verídicas e não boatos baratos. Parabéns! Sucesso hoje e sempre!

  2. Hilton em abril 11, 2012 às 0:59
    #2

    Olá Marcos. Ótima resenha, como sempre! Gostaria de tirar uma dúvida. O Multishow disse que esse era a primeira vez do Foo Figthers no Brasil. Porém, a primeira vez deles não foi no Rock in Rio 3, de 2001?! Tenho certeza disso. Valeu, forte Abraço.

  3. Nathalia em abril 11, 2012 às 12:34
    #3

    Marcos, obrigada pela resenha. Não fico feliz em lê-la somente como fã da banda, mais como admiradora do rock. Você captou exatamente o que foi o show! Seu texto me fez lembrar cada segundo que presenciei no Lolla. PARABÉNS =D

  4. Juliana Lima em abril 13, 2012 às 13:11
    #4

    Foi a primeira vez da banda em SP.

  5. Juliana Lima em abril 13, 2012 às 13:13
    #5

    Show épico, Best of You foi de arrepiar mesmo!!! Valeu demais estar lá!!! Não consigo parar de assistir os videos agora….
    Espero que eles venham para o R&R o ano que vem!!!

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