O Homem Baile

Palanque

Em apresentação panfletária, Planet Hemp mostra vigor, segue desafiando o estabelecido e vê novas gerações de fãs cantando antigos refrões; show marcou início da turnê de reunião. Fotos: Felipe Diniz/Divulgação.

Como nos velhos tempos: Marcelo D2, BNegão e Rafael agitando sob a lona de um Circo Voador lotado

Como nos velhos tempos: Marcelo D2, BNegão e Rafael agitando sob a lona de um Circo Voador lotado

Nenhum ato, passeata ou marcha a favor da legalização da maconha jamais terá o impacto do show que o Planet Hemp fez ontem, no Circo Voador. A apresentação marcou o início de uma turnê der retorno que já tem uma dúzia de datas confirmadas e, a julgar pelos investimentos e pelo entusiasmo de público e banda, pode se estender ainda mais. Com o Circo jorrando público pelo ladrão – os ingressos se esgotaram em questão de horas – o grupo deu uma geral no repertório de seus três álbuns, cantando à frente de um telão que não parava de exibir imagens favoráveis à cultura da maldita – para dizer o mínimo. Nunca o Planet, emergido dos porões do underground carioca nos anos 1990, teve um palco tão bem produzido.

Embora o chamariz tenha sido a apresentação da íntegra do álbum de estreia, o sintomático “Usuário”, de 1995, o show foi dividido em três “atos”, numa referência também aos outros dois discos, “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” (1997) e “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça” (2000). O trecho de abertura desencadeou o enlouquecimento geral do público, mostrando a força da emblemática “Legalize Já”, com o refrão cantando a plenos pulmões como se fosse palavra de ordem (e era); e de “Dig Dig Dig (Hempa)”, um dos grandes hits do grupo. No vídeo de apresentação, o elegante Away de Petrópolis clamou pela descriminalização da maconha com o tom que lhe é peculiar, instigando ainda mais o público.

O grupo pareceu bem entrosado – “nunca ensaiamos tanto: cinco ensaios”, disse Marcelo D2, em tom de galhofa – e se saiu bem melhor do que da última vez em que se reuniu para um show inteiro, em 2004, no festival Humaitá Pra Peixe. O falante D2 fez vários brindes com uma tulipa de chope, incluindo saudações ao Circo Voador, de onde partiu a idéia do show que desencadeou a turnê, e a “todos os integrantes das 250 formações do Planet”. Embora se saiba que não há diálogo com alguns, soou como um aceno de bandeira branca. No palco, o olímpico BNegão, que caiu de pára-quedas direto de um show de sua banda em São Paulo, o guitarrista Rafael Crespo, o baixista Formigão e o baterista Pedro Garcia – o único dessa formação que não gravou os dois primeiros álbuns – deram conta do recado.

Ainda no gás: BNegão e D2, cantando no fundo

Ainda no gás: BNegão e D2, cantando no fundo

Curiosamente, o público não era formado por veteranos do rock, como acontece em apresentações de retorno como essa. Novas gerações que provavelmente só conheciam o Planet Hemp de disco, rádio ou TV, estavam lá para se enfumaçar vendo o grupo tocando ao vivaço. E não se decepcionaram com o volume do som do quinteto. Em músicas como “Queimando Tudo”, “Mantenha o Respeito”, no final da noite, e “Stab”, o bicho pegou pra valer sob a lona voadora. Nessa última – tranquila até - todo o público levou o refrão à capela, num dos momentos mais emocionantes do show. Outro instante de reflexão aconteceu quando o grupo tocou “Samba Makossa”, da Nação Zumbi, com a imagem do contemporâneo Chico Science estampada no telão.

O hardcore, uma das facetas do Planet, não ficou de fora e desencadeou rodas e mais rodas de pogo e até alguns moshs ousados. Num dos vídeos, inclusive, uma aeromoça safadinha dava dicas de como se divertir nos shows. “Maryjane”, “Seus Amigos” e “100% Hardcore”, do singelo refrão “quem não gostou vai se fuder!”, salpicadas durante o show, surpreenderam àqueles que não se lembravam que o Planet não é só rap e hip hop. Ou como diz a letra de outro hit, é “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”. A música, uma das poucas que foge do monotema canábico, também levantou o público.

Num bis improvisado – “até agora foi organizado, agora é o lucro”, disse D2 -, os músicos levaram trechos de músicas tocadas ao longo das quase duas horas que a apresentação durou. No fim das contas, em meio á tanta fumaça, fica a dúvida: será que os caras tocaram todas do “Usuário” mesmo? Se isso realmente faz diferença, recomenda-se conferir num dos próximos shows da turnê.

Hoje, sábado, dia 29, o Planet toca em Porto Alegre, e depois passa por Florianópolis (3/11); Fortaleza (9/11); Recife (10/11); Curitiba (11/11); São Bernardo do Campo (14/11); Salvador (1/12); Rio de Janeiro (4/12); Manaus (7/12); Belo Horizonte (8/12) e São Gonçalo (15/12). Os ingressos estão sendo vendidos no www.ingressorapido.com.br. Novas datas devem ser anunciadas. Mais informações na página oficial do Facebook (clique aqui).

Da arquibancada: o Circo lotado vibra com os três atos retrospectivos apresentados pelo Planet Hemp

Da arquibancada: o Circo lotado vibra com os três atos retrospectivos apresentados pelo Planet Hemp

Set list (mais ou menos) completo

1o ato
1- Não Compre Plante!
2- Legalize Já
3- Deisdazseis
4- Dig Dig Dig (Hempa)
5- Planet Hemp
6- Fazendo a Cabeça
7- Futuro do País
8- Maryjane
9- Bala Perdida
2o ato
10- Zerovinteum
11- Queimando Tudo
12- Quem Tem Seda?
13- Gorilla Grip
14- Seus Amigos
15- Nega do Cabelo Duro
16- Hip Hop Rio
17- Adoled (The Ocean)
18- 100% Hardcore
3o ato
19- Ex-Quadrilha da Fumaça
20- Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga
21- Stab
22- Contexto
23- Procedência C.D.
24- A Culpa é de Quem?
25- Samba Makossa
26- Mantenha o Respeito

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Thiago Paranhos Freires em outubro 1, 2012 às 13:23
    #1

    Sem palavras, nota 1000! Planet Hemp foi e sempre será a lenda.

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