O Homem Baile

Robôa

Com sonoridade alçada dos anos 80, cantora St. Vincent abusa de bases, arranjos e coreografias, mas revela musicalidade rala. Fotos: Daniel Croce.

A cantora St. Vincent com a guitarra à tiracolo: muitos efeitos e bases eletrônicas, mas pouca musicalidade

A cantora St. Vincent com a guitarra à tiracolo: muitos efeitos e bases eletrônicas, mas pouca musicalidade

A cantora St. Vincent não nasceu ontem, tem uma carreira já longa, uma banda bem ensaiada e veio ao Rio nesta terça para fazer a abertura do show de Robert Plant (veja como foi), sendo que os dois tocam no Lollapalooza no próximo final de semana, em São Paulo. Com um público bem pequeno, ela entra no placo mostrando uma coreografia ensaiadinha com a baixista/tecladista Toko Yasuda, tocando “Bring Me Your Lovers”, uma das faixas do álbum mais recente, o quinto, que leva o nome dela, lançado há um ano. De cara percebe-se a tonelada de arranjos eletrônicos despejados na música, o prenúncio de uma apresentação nada orgânica.

O som tem forte inspiração no EBM oitentista, em que pese as incursões de guitarra de Vincent, que em poucas vezes conseguem duelar com a maçaroca sonora imposta pela banda. Por vezes, são dois teclados/sintetizadores e uma bateria eletrônica abafando tudo. O excesso de bases, efeitos e arranjos acabam ofuscando a musicalidade do show em si: quase não se percebe melodias, composições fortes e mesmo a canção. Até a voz da cantora, que deveria ter certo destaque, também recebe generosa capa de efeitos a ponto de não se entender direito o que se passa no palco. De olhos fechados, o incauto no meio da plateia, na maior parte do tempo, imaginaria uma pista de dança, não uma banda em cima de um palco.

A comparsa Toko Yasuda capricha nos botõezinhos do teclado para encorpar ainda mais a sonoridade

A comparsa Toko Yasuda capricha nos botõezinhos do teclado para encorpar ainda mais a sonoridade

Não por acaso o primeiro momento de destaque do show acontece em “Rattlesnake”, na primeira investida de Vincent em um arrojado solo de guitarra. A performance também chama a atenção pela coreografia robótica das meninas, e isso tudo somado rende aplausos de um público com muito boa vontade, mesmo sendo formado, em sua maioria, por fãs do Led Zeppelin. Sabendo disso, a cantara, esperta, praticamente entra muda e sai calada. Mas é em “Huey Newton”, outra das novas, que a fórmula funciona pra valer, até porque a base do tecladista Daniel Mintseris é um achado pop e dessa vez Yasuda dobra a guitarra com St. Vincent, resultando em mais aplausos da plateia.

As coreografias na última música, em que as meninas se alternam na frente e atrás no palco, chamam a atenção e mostram como o show, à sua maneira, tem um crescente planejado que – de fato – dá frutos. É “Birth In Reverse”, o single de sucesso do disco novo, que revela que muita gente já conhece a banda, a julgar pela cantoria ali na fila do gargarejo. Nos menos de 40 minutos de bola rolando, o show convence, sobretudo como peça de entretenimento em um lugar fechado. Para um festival como o Lollapalooza, a cantora vai precisar mostrar mais. No desenrolar de sua carreira, também. Mais conteúdo e musicalidade; menos entorno e efeitos.

Quando quer, St. Vincent esmerilha a guitarra sem dó; só faltam boas músicas e melodias para tal

Quando quer, St. Vincent esmerilha a guitarra sem dó; só faltam boas músicas e melodias para tal

Set list completo:

1- Bring Me Your Loves
2- Digital Witness
3- Cruel
4- Rattlesnake
5- Marrow
6- Cheerleader
7- Huey Newton
8- Regret
9- Birth in Reverse

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Ana em março 28, 2015 às 4:29
    #1

    Troquem o crítico, por favor!
    Atenção: o texto acima possui 98% de opinião pessoal!
    O mundo evoluiu, as coisas mudaram. A música não pára no tempo, sua visão poderia ser mais aberta e informada.
    “Musicalidade rala” - Você está muito equivocado!
    “De cara percebe-se a tonelada de arranjos eletrônicos despejados na música” - Isso é indie rock, vocês espera o que?
    “poucas vezes conseguem duelar com a maçaroca” - mais um grande equívoco! Ela é reconhecida justamente por ser uma excelente guitarrista.
    “Lollapalooza, a cantora vai precisar mostrar mais” - O show dela é um dos mais esperados.
    Você não fez a lição de casa. Coloca sua visão pessoal e desdenha de uma excelente cantora em ascensão.
    Você só está criticando a pessoa que ganhou o Grammy de melhor álbum alternativo desbancando o Jack White! Simples assim…
    Falta de informação e opinião pessoal em críticas me deixam inquieta!

  2. Fabio em março 30, 2015 às 15:18
    #2

    Que esbregue da Ana, hein…
    Não conheço a Santa Vicente, mas tanto você como o Barcinski:

    Já St. Vincent não é a minha praia, mas o show foi bom, apesar de alguns excessos performáticos à Dudu Bertolini (precisa fingir que desmaia e depois se jogar na plateia com bandeira do Brasil? Todo o street cred indie da moça foi pro saco naquele minuto).

    “Fiquei surpreso com o climão retrô tecnopop anos 80, com direito a palco geométrico e a Annie Clark de penteado à Kelly Le Brock em “Mulher Nota Mil”. O som parecia a Bjork cantando no Tears for Fears. E quantas mil vezes será que ela viu “Purple Rain” pra imitar os trejeitos de Prince tocando guitarra?”

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado