O Homem Baile

Transformação

Apresentação “mais orgânica” do Kasabian agrada geral no sabadão do Lollapalooza. Fotos: Divulgação T4F.

O vocalista Tom Meighan ergue o punho cerrado naquele que seria um dos melhores shows do Lolla 2015

O vocalista Tom Meighan ergue o punho cerrado naquele que seria um dos melhores shows do Lolla 2015

Tinha tudo para dar errado, mas não deu. Isso por que a) Era o show de uma banda excessivamente eletrônica em um palco gigante de festival; b) O disco mais recente, “48:13”, já no título, não é lá essa coca-cola toda; c) Não se trata de um grupo frequentador de paradas radiofônicas no Brasil; d) havia, no sabadão do Lolla, a concorrência da mais nova queridinha indie, St. Vincent (veja como foi no Rio), que tocava no mesmíssimo horário; e e) O show é escalado no Palco Onix, o mais inóspito de todos. Mas deu tudo certo porque o Kasabian, no palco, passa por uma transformação que torna o grupo “mais orgânico”, isto é, sem a interferência de tantos efeitos eletrônicos que prevalecem nos discos. O que resultou, com a ajuda de um público realmente interessado em música (coisa rara no festival), em um showzaço daqueles.

Essencialmente – confirma-se – o Kasabian é uma banda de palco, com um arranque sensacional do vocalista Tom Meighan e uma boa coadjuvação do guitarrista Sergio Pizzorno, que muitas vezes deixa a guitarra de lado – crime dos crimes – para fazer uma de dupla de frontman ou simplesmente ajudar na agitação da plateia. É assim que “Underdog”, logo a terceira a ser tocada, levanta o público de supetão, a custa de um refrão colante cantado sílaba por sílaba. Na retaguarda, o batera Ian Matthews sugere uma batida meio abrasileirada, mas é o guitarrista Tim Carter que se destaca, usando um inusitado efeito slide. Nota-se que o Kasabian tem o seu próprio jeito de tocar guitarras, com timbres, afinações e sonoridade, enfim, bem peculiares. E, ao vivo, isso aparece livre das amarras dos efeitos eletrônicos que aparecem nos álbuns.

O guitarrista Sergio Pizzorno toca com público ao fundo, no palco com a melhor 'vibe' do festival

O guitarrista Sergio Pizzorno toca com público ao fundo, no palco com a melhor 'vibe' do festival

O que não quer dizer que o show não tenha lá seus momentos dançantes, afinal, o rock é que foi criado para esse fim. Em “Days Are Forgotten”, por exemplo, cujo refrão funciona muito bem, o ótimo solo de Carter não tira da música a vocação para as pistas, e é isso que acontece: todo mundo dançando no desfiladeiro do Palco Onix, que, a despeito da localização, é de longe o de melhor vibe do Lolla, vide o show de Johnny Marr no ano passado (saiba mais). Em sequência, vem “I.D.”, talvez a mais perfeita fusão rock eletrônica, apesar de a música em si ser fraquinha, e “eez-eh”, do disco novo, que mais parece baticum de discoteca, salva no final – adivinhem – pelo solo do intrépido Tim Carter. O povão, nem aí, se acaba cantando e dançando.

Música boa mesmo é “Fire”, que, com estrutura simples e letra sintética praticamente se resume a um cantarolar/assovio sensacional, amplificado ao vivo pelo público. Por isso Meighan previu: “vocês vão adorar essa”. Nem precisava a canção (ou o cantarolar) ter sido tema da Premier League, a primeira divisão do campeonato inglês de futebol, na temporada passada, para a música ser adorada no set. Como se sabe, sempre tem mais gente no meio do que no início ou no final de cada apresentação, graças à perversa programação simultânea do festival. Mas o público levanta mesmo é em “Vlad the Impaler”, que não por acaso manda todo mundo “se jogar”, e ainda há tempo para a desnecessária “Praise You”, cover lentinho de Fatboy Slim que faz parte do repertório dos caras há uns três anos. Curiosamente, a banda deixou o palco 10 minutos antes do previsto, sugerindo um inesperado bis que até agora não rolou. Uma pena. Mais Kasabian ao vivo e menos Kasabian em disco, por favor!

O bom guitarrista de shows Tim Carter, Sergio Pizzorno, Tom Meighan e o baixista Chris Edwards

O bom guitarrista de shows Tim Carter, Sergio Pizzorno, Tom Meighan e o baixista Chris Edwards

Set list completo:

1- bumblebeee
2- Shoot the Runner
3- Underdog
4- Days Are Forgotten
5- I.D.
6- eez-eh
7- Club Foot
8- Treat
9- Empire
10- Fire
11- stevie
12- Vlad the Impaler
13- Praise You/L.S.F.

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado