Som na Caixa

Lobão

81-91
(Sony Music)

lobao8191As diferenças entre Lobão e as gravadoras começaram cedo, desde a época em que ele se mandou da Blitz e foi atrás de lançar seu primeiro disco (boicotado em seguida pela própria empresa que o contratou) e teve o auge quando o músico trilhou uma bem-sucedida carreira independente. Resultado de um acordo que trouxe o artista de volta ao mainstream via “Acústico MTV”, esta caixa com os principais sucessos de Lobão gravados pela BMG (depois incorporada à Sony) soa como um armistício entre as partes. Pela qualidade e relevância de boa parte do material, lançado originalmente no auge do rock dos anos 80, Lobão merecia o relançamento da íntegra dos discos, como ocorreu no final do ano passado com a discografia da Legião Urbana, muito embora esta tenha um imbatível sucesso comercial.

A caixa tem luxuosa embalagem e as músicas foram remasterizadas pelo cascudo Roy Cicala, produtor americano radicado em São Paulo que já trabalhou em discos de Jimi Hendrix, John Lennon e Aerosmith. O material é dividido em quatro partes. Nos dois primeiros CDs, os principais sucessos do período, incluindo “Me Chama”, “Vida Bandida” e “Blá, Blá, Blá… Eu Te Amo (Rádio Blá)”; no terceiro, uma espécie de coletânea de b-sides com preciosidades como “Mal Nenhum” (parceria com Cazuza que só havia saído em compacto) e “Glória (Junkie Bacana); e o quarto disquinho é a reprodução do DVD “Acústico MTV”, reinserido no mercado como bônus, na tentativa de chegar a mais gente que conseguiu no lançamento original, que, segundo Lobão, “foi recorde negativo de vendas”.

A coletânea peca, no entanto, por falta de informação. É omitido, por exemplo, quais músicos gravaram cada faixa. Isso priva o ouvinte de saber que a “guitarra Andy Summers” inserida nas músicas do álbum “Cena de Cinema”, de 1982, é de Lulu Santos. O disco, verdadeira raridade, comparece com seis faixas na coletânea, o que o coloca no mesmo patamar de sucessos comerciais como “Vida Bandida” (1987) e “Ronaldo Foi Pra Guerra” (1984). Aqui, também falta dizer que Lobão tocava com os Ronaldos, e que a voz feminina que aparece é de Alice Pink Punk, que pertencia à Gang 90. E vale o registro da ausência da faixa-título e da excelente “Canos Silenciosos”, de “O Rock Errou” (1986) – ambas não devem fazer parte do bloco das preferidas de Lobão, já que ele próprio foi o responsável pela seleção.

Na fase, digamos “mais madura”, depois da ressaca do sucesso, Lobão se distancia da new wave e até do rock e passa a apontar sua verve em temas mais “sérios”, sem perder o deboche jamais. É o caso de “O Eleito”, do fraco disco “Cuidado” (1988), fruto de uma parceria pouco desenvolvida com Ivo Meirelles, que rendeu ainda a premonitória “É Tudo Pose”; “Quem Quer Votar”, do subestimado “Sob o Sol de Parador” (1989); e a ótima “Presidente Mauricinho”, de “O Inferno é Fogo” (1991), que encerra o período. É importante dizer, porém, que nessa fase, mais que em outras, Lobão não se fixa nesse ou naquele subgênero do rock, avançando o sinal de acordo com o que lhe vinha à telha, o que resulta em flertes com o metal, com punk, com o samba e a mpb. Talvez isso tenha lhe custado a queda de popularidade, muito embora a época (início dos anos 90) já não fosse tão boa para o rock nacional.

É preciso destacar – por fim – que a qualidade das faixas dessa coletânea é inquestionável. Mesmo os pouco afeitos a requintes técnicos vão perceber a diferença dessa versão em relação às originais ou ainda as que foram relançadas sem alarde ou em coletâneas. Ou seja, ainda que não na íntegra, Lobão enfim tem o resgate de parte significativa de sua obra, e com ele próprio no comando. Ele pode ter demorado, mas chegou lá.

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