Som na Caixa

Pearl Jam

Backspacer
(Universal)

pearljambackspacerNão é exagero afirmar que, após o grandioso estouro do álbum de estreia, “Ten” (1991), o Pearl Jam jamais conseguiu se reencontrar com si próprio. Não é que tenha lançado discos ruins, mas, na maioria dos casos, o grupo simplesmente não conseguia reunir, ao mesmo tempo, boas músicas que se encaixassem num conceito único como um álbum (lembram disso?) deve ter. Não se deve fazer pouco caso de discos como “Binaural” (2000), “Pearl Jam” (2006) e “Vitalogy” (1994), mas só agora o PJ entra nos eixos e colhe os frutos da semente largada em “Ten”.

O falatório é para dizer, de início, que este “Backspacer” é, de fato, o melhor álbum do Pearl Jam desde a estreia, no boom do grunge. É um disco de boas músicas, de músicas urgentes e de outras mais lentas, que, reunidas, uma após a outra, têm um encaixe excepcional. Um ouvinte pode constatar o predomínio de “baladas” que não estará de todo errado, enquanto outro apontará para um disco “nervoso”, acertando igualmente na mosca. E ambos hão de concordar que não há algum elemento de excepcionalidade ou de genial em nenhuma das 11 músicas. A virtude está justamente na simplicidade e na regularidade de gente que não tem muito mais com o que se preocupar, a não ser com seu próprio bem-estar.

Isso não quer dizer que não há boas músicas em “Backspacer”. Ouçam o single “The Fixer”, de conteúdo pra lá de otimista, e tirem as conclusões. Música envolvente de rara empatia pop, é símbolo de uma faixa feita para as paradas: curta, bem arranjada e fechada no conceito que permeia todo o CD. “Unthought Known”, balada clássica como as dos bons tempos do grunge, realça certa dramaticidade e reafirma Eddie Vedder como uma das grandes vozes de sua geração. Ambas representam muito bem as duas facetas do álbum, como se completassem impossíveis duas faces de uma mesma moeda, lados a e b de um vinil que não existe mais.

O disco – repita-se – é tão encaixado em seus interstícios, que se há “Supersonic”, irmã caçula de “The Fixer”, quase um tributo aos Ramones, colada nela a babinha “Speed Of Sound” restabelece uma harmonia que jamais é ameaçada. Ao final melancólico com “The End”, contrapõe-se um início com quatro faixas emendadas no gás, entre elas a ótima “Gonna See My Friend” e a já citada “The Fixer”. A metáfora do conteúdo do CD é ainda bem representada na capa, espécie de quebra cabeças de solução perfeita, como de hábito, de cunho ecologicamente correto, com muito papel e nenhum plástico. O CD também vem com uma senha para baixar a íntegra de dois shows do grupo, na web.

Ressalta-se, por fim, que “Backspacer” é de uma economia atroz, que, no entanto, é convertida em riqueza de detalhes que expõe certo cuidado nas composições e arranjos, de modo a aproveitar o vozeirão de Vedder na mesma medida em que os demais integrantes fazem um feijão com arroz dos mais saborosos – em que pese os solos e evoluções enxutos da dupla de guitarristas. Um disco que, embora pensado com início, meio e fim, pode ser escutado de cor e salteado, que o efeito, no fim das contas, provavelmente será bem parecido. Palmas para o Pearl Jam.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Fanático por Pearl Jam em dezembro 21, 2009 às 23:06
    #1

    Pra mim, “Pearl Jam” e “Backspacer”, apesar da habitual sinceridade, são os piores álbuns da banda.

    De “Vs” à “Riot Act”, temos aulas de competência. E estes, quando escutados com cautela, fazem “Ten” soar imaturo e preliminar.

    É o que eu penso.

    Um abraço.

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