Som na Caixa

Pearl Jam

Pearl Jam
(Sony-BMG)

pearljam06O primeiro problema que o ouvinte encara ao se deparar com um novo álbum do Pearl Jam é o dilema de esperar para sempre um novo “Ten”, ou aceitar novas possibilidades, considerando inclusive os discos mais recentes. Um outro é ver se a banda consegue se diferenciar dos clones criados naquilo que os americanos chamam de pós grunge. Ou seja, em conteúdo e forma, eis aqui uma banda que precisa se superar a cada disco.

Deixando de lado a lógica dessas premissas, não se pode negar que estamos diante de um bom disco. A primeira parte expõe um lado rock e até sujo para os padrões do Pearl Jam. “World Wide Suicide”, por exemplo, tem uma bela melodia envolta num clima quase underground, com vocais gritados “em off” mandando na cara o título/tema principal. “Comatose” é outra que persegue essa estética quase hardcore. Ainda na seara do peso, algumas músicas trilham o caminho do hard rock moderno, caso de “Big Wave” e seu belo riff. Nada, entretanto de megalomanias instrumentais; está na simplicidade a principal virtude desse disco, além de uma capacidade de síntese incomum quando há músicos desse quilate.

A partir de certo ponto o disco alinha uma série de músicas de andamento menos velozes que vão desaguar em baladas de fazer inveja a um clube da esquina da vida. No primeiro grupo vale destacar o bom riff de “Severed Hand” e seus solos enxutos e desajustados, e “Army Reserve”, cujo modesto trabalho de guitarras resulta num crescente de impressionar. “Parachutes” é quase acústica, e junto com a bela “Unemployable” representam a porção Neil Young do álbum. No final a bela dupla “Come Back” e “Inside Job” fecham muito bem o disco, a última num clima intimista patrocinado por teclados sutis que crescem para um grande encerramento. Mesmo nas músicas mais lentas prevalece a tal simplicidade, e o disco carrega treze músicas em 50 minutos.

É fácil reconhecer que toda a banda está muito bem, tanto na composições, nas quais todos, exceto o batera Matt Cameron, participam, como na interpretação sucinta, porém rica em arranjos e detalhes. Mas é Eddie Vedder quem sobra. Mostrando uma versatilidade de dar gosto, ele se encaixa em todos os flancos: sabe gritar, cantar, cantarolar, ser sério, desleixado, romântico até, num domínio vocal dos melhores. Até as letras divagam menos que antes, e tratam de universos mais palpáveis, encontrados em noticiários.

Para completar, apesar de o Pearl Jam sempre ter se preocupado com o acabamento gráfico de seus discos, neste aqui eles se superaram. E enfim conseguiram editar um livrinho de letras num formato de gibi de bolso prático para manusear. Olhando o disco do final para o começo, nada de “Ten” ou pós grunge surge na memória. Sinal e que os caras fizeram – de novo – um bom trabalho.

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