Fazendo História

Com Robert Fripp, G3 vira G2

Cobertura do show do G3. Publicado na Dynamite on line, em dezembro de 2004.

Primeiro uma explicação. Para quem ainda não sabe, G3 é o projeto criado pelo guitarrista Joe Satriani, em que ele e Steve Vai, seu ex-aluno, fazem uma turnê com um terceiro guitarrista. Cada um toca com sua banda, e no final do show, todos tocam com a banda de Satriani. Já passaram pelo G3 Eric Johnson e Yngwie Malmsteen, que inclusive gravaram os dois discos o projeto, entre outros. Ontem o G3 iniciou a turnê pelo Brasil, no Claro Hall, Rio de Janeiro.

Acontece que para esta nova turnê o guitarrista convidado foi o experimentalista Robert Fripp, que fez fama no King Crimson, banda de rock progressivo, teve uma participação patética. A começar pela sua parte solo, na qual ficou durante vinte minutos (os demais tocaram mais de uma hora cada) extraindo ruídos de sua guitarra. Na jam, no final do show, ele se limitou a ficar escondido no fundo do palco, praticamente no escuro, enquanto Vai e Joe dominavam a cena. Só mesmo na música “Red”, do King Crimson, é que ele se destacou em uma ou outra passagem.

Assim que Fripp saiu, Steve Vai entrou com a mesma banda que gravou o DVD “Live In Astoria”, no ano passado, e aí foi covardia. Além dele (chamado de guitarrista solo), estavam lá o guitarrista Tony MacAlpine, que tem uma brilhante carreira solo e que também tocou teclados; numa segunda guitarra (sim, eram três), Dave Weiner; no baixo ninguém menos que Billy Sheehan; e Jeremy Colson na bateria. Com o som altíssimo, eles mostraram que o segundo terço do G3 já era uma superbanda. Quando os três guitarristas e Billy vinham para frente do palco, o público praticamente enlouquecia com mini duelos que eles estabeleciam, sobretudo entre Vai e MacAlpine. Outro momento espetacular foi quando Vai disputou com o batera quem era o mais rápido, e o homem das baquetas não ficou atrás, com um leque de variação formidável. Steve, lépido, saracoteava com sua peculiar vaidade e desenvoltura, garantindo o festa do público. Entre as nove músicas, vale destacar “Whispering A Prayer”, e “For The Love Of God”, o sublime momento que fechou sua parte.

Ficou ruim para Joe Satriani. É sabido que ele é bem mais criativo que Vai, e também trouxe uma bandaça, com Galen Henson (guitarra), Matt Bissonette (baixo) e Jeff Campitelli (bateria). Mas ele próprio não ajudou. Se confundindo com a turnê de sua carreira solo, que acontece quase em paralelo, ele abusou das músicas do novo álbum, “Is There Love In The Space?”, e omitiu clássicos indispensáveis para um projeto desse tipo, como “Summer Song”, “Surfing With The Alien” e “Crystal Planet”. Não que as músicas novas do set (cinco, total) sejam ruins, longe disso, mas, como novas, não tiveram o impacto que outras teriam. O melhor momento foi sem dúvida a arrepiante “Always With Me, Always With You”. Em “Cool # 9”, o público cantarolou cada passagem, e “Flying In a Blue Dream” também agradou geral.

Robet Fripp começou a acompanhar a banda de Satriani nas últimas três músicas, mas pouco foi notado. Quando Steve Vai voltou ao palco é que a jam do G3 começou. E como é bom ver os dois, lado a lado, tocando juntos ou mesmo duelando. Tocaram uma de Satriani (“Ice 9”), a já citada “Red” (King Crimson), “The Murder” (Vai) e o sensacional fechamento com “Rockin’ In The Free World” (Neil Young), com o público todo de pé à beira do palco. Depois de mais de três horas de guitarra, a sensação que ficou foi a de sempre: nada suplanta um bom riff.

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