No Mundo do Rock

Tor tira a viola do armário e investe em carreira autoral

Vocalista do Zumbis do Espaço deixa de lado os covers e investe em carreira autoral com disco repleto de baladas e referências à mpb. Fotos: Divulgação.

Queria fazer um disco só com músicas de Merle Haggard, um só de Johnny Cash, outro um só de George Jones, e assim por diante, mas o dinheiro e o tempo foram acabando e a brincadeira começou a sair cara

Queria fazer um disco só com músicas de Merle Haggard, um só de Johnny Cash, outro um só de George Jones, e assim por diante, mas o dinheiro e o tempo foram acabando e a brincadeira começou a sair cara

Nos anos 90 ele criou uma das bandas mais improváveis e bem sucedidas do cenário independente brasileiro, o Zumbis do Espaço. Mais tarde desenvolveu um projeto solo de intérprete voltado para o estilo que mais gosta, o country de raiz. O primeiro disco, “Outlaw Country”, de 2002, veio com versões country para músicas cuja autoria vai desde Neil Diamond (“Solitary Man”) até Ramones (“Merry Christmas”). “Forgotten Blues”, o segundo, é todo em homenagem a Hank Williams, precursor da criação do rock’n’roll nos anos 50 e um de seus ídolos. São 18 faixas do cantor, ou músicas que ficaram famosas na voz dele.

Agora Tor mergulha num universo autoral de canções românticas com o terceiro álbum, “Maus Hábitos e Promessas Quebradas”. O Cantor de voz grave, cuja alcunha foi inspirada num atleta de luta livre, se despe da toda a música que andou rondando sua carreira e se lança como compositor de baladas que caminham no limiar do brega e da música interiorana de raiz. É como se o punk brega Wander Wildner visitasse o cenário da novela “Cabocla”, de Benedito Ruy Barbosa.

Nesta entrevista Tor garante que quer começar a carreira do zero, assim como fez com o Zumbis do Espaço no passado. Para isso, guardou as guitarras e sacou a viola do armário, além de discos da mpb tipicamente dos anos 70. Até onde vai essa nova empreitada? Veja você mesmo:

Rock em Geral: Faça um resumo da sua carreira à frente do Zumbis do Espaço:

Tor: Com o Zumbis do Espaço lancei sete álbuns, um DVD e fiz centenas de shows. Criamos um estilo e redefinimos o conceito de banda independente no Brasil. Durante 10 anos não paramos nunca de gravar e excursionar, lançamos várias bandas através da Thirteen Records, e influenciamos outras tantas, não só musicalmente, mas também na atitude e na maneira de como se comportar e sobreviver no mercado da música.

RG: Quando você decidiu partir para uma carreira solo, investindo no lado intérprete?

Tor: Eu sempre fui um grande fã de música de raiz e resolvi gravar algumas músicas de artistas que eu gostava só por diversão, sem pretensão de ter uma carreira. Na época eu tinha algum dinheiro para gastar e alguns amigos para tocar comigo, então porque não se divertir?

RG: Os dois primeiros são discos de intérprete, um é country e outro blues. Como você definiu sua carreira dessa maneira?

Tor: Esses discos foram gravados sem pretensão, mais por diversão e nem conto eles como parte da minha discografia. Não que eu não goste deles, pelo contrário, mas eles são uma parada que eu fiz para os meus amigos e fãs hardcore do Zumbis do Espaço.

RG: No primeiro álbum você interpretou músicas de vários autores, mas no segundo houve um predomínio de músicas de Hank Williams. Foi de propósito fazer essa espécie de tributo?

Tor: Sim, eu estava ouvindo muito Hank Williams naquela época, ele realmente teve um impacto muito grande na minha maneira de compor e escrever, e eu queria gravar e tocar aquelas músicas de qualquer jeito. Também queria fazer um disco só com músicas de Merle Haggard, um só de Johnny Cash, outro um só de George Jones, e assim por diante, mas o dinheiro e o tempo foram acabando e a brincadeira começou a sair cara.

RG: Como você escolheu as músicas e artistas para re-interpretar?

Tor: Basicamente artistas dos quais eu sou fã e ouço em casa, e as músicas deles que eu gostaria de ter escrito. Como compositor eu escolho músicas que eu teria escrito se tivesse talento suficiente.

RG: No disco novo, “Maus Hábitos e Promessas Quebradas”, você compôs as músicas e ainda com letras em português. O que te motivou a fazer esta mudança?

Tor: Se você me perguntar o que eu faço numa banda, eu vou te dizer: eu sou compositor. Não me considero um bom vocalista nem um bom guitarrista, mas eu posso te dizer que eu sei fazer música, então como compositor e obcecado com música, nada mais natural que eu lançar um disco só com músicas minhas.

Quanto às regras de mercado, tanto no Zumbis quanto em minha carreira eu sempre caguei pra elas, nós sempre subvertemos as regras, pelo bem ou pelo mal

Quanto às regras de mercado, tanto no Zumbis quanto em minha carreira eu sempre caguei pra elas, nós sempre subvertemos as regras, pelo bem ou pelo mal

RG: Cantar em português facilita as coisas em termos de mercado? Você vê o Tor desse terceiro disco com maior abertura em relação aos discos anteriores? E em relação ao Zumbis do Espaço?

Tor: Para mim, como compositor não existe outra opção, eu sou brasileiro, falo português, só sei compor e me expressar pela música dessa maneira. Se eu quiser ser convincente, soar verdadeiro e passar alguma credibilidade no que eu faço, eu vou ter que cantar em português, sempre foi assim. Eu posso cantar em inglês, mas por diversão, nunca com a pretensão de ter uma carreira, mesmo porque eu tenho um senso crítico e não quero parecer o que eu não sou. Quanto às regras de mercado, tanto no Zumbis quanto em minha carreira eu sempre caguei pra elas, nós sempre subvertemos as regras, pelo bem ou pelo mal. Eu ainda lanço coisas em vinil, quer um tiro no pé maior?

RG: A sua origem punk e o fato de o disco ter muitas baladas acabam levando ao Wander Wildner como grande referência. Você acha que isso procede?

Tor: Claro, eu sou fã do Wander, acho a carreira solo dele incrível, melhor que a do Replicantes. Tem artistas que te influenciam nem tanto pela música, mas também pela atitude, e você acaba os tendo como referência. Também sou fã do Nervoso.

RG: Há um inevitável flerte com a música brega dos anos 70 (“Noite Passada”) e ainda com o cancioneiro interiorano (“Portos e Aeroportos”). Fale sobre essas referências na sua música:

Tor: Eu não acho Tim Maia brega, e a referência é a “Gostava Tanto de Você”. Eu queria que os timbres soassem como os anos 70, também tem alguma referência a Cassiano e tal, não no ritmo ou estilo, mas sim no clima e na letra. Melodicamente eu acho que as influências nessa música foram Wander Wildner, Flávio Basso, etc.. Quanto a “Portos…” você pode ter razão, mas foi inconsciente. Já em “Quando o Trem Partir” eu realmente peguei muita coisa de Tião Carreiro.

RG: A música “Coroa de Espinhos” por pouco não se converte num cântico evangélico. Você é religioso, no sentido institucional da palavra?

Tor: Sim, sou religioso, mas a música não tem pretensão de ser um gospel ou coisa do tipo, é apenas uma espécie de oração particular. Quando você tá fudido e sabe que a única coisa que você tem é a sua fé. Agora, se você quer saber se eu compactuo com esse povo que usa a religião para se promover ou tirar vantagem disso, e dar testemunhos e negar as merdas que fazem, não. Eu sou religioso e sou muito mais pecador do que virtuoso. Apenas tenho fé em Cristo e isso me basta.

RG: Da última vez em que conversamos você pretendia lançar um álbum com o título “Wild Side Of Life”. O que aconteceu nesse tempo que te levou a mudar de idéia?

Tor: Naquela época eu estava apenas gravando músicas que eu gostava, sem pretensões de ter uma carreira. Se eu tivesse dinheiro e tempo, talvez estivesse gravando mais uns 500 discos daquele tipo.

RG: Você já tem em mente de como será o próximo álbum?

Tor: Sim, já tenho mais de 20 músicas prontas, e vai na mesma linha de “Maus Hábitos…”, pois esse é o meu estilo de compor, e principalmente o que me realiza como músico. Eu consigo visualizar passar o resto da minha vida gravando e tocando essas canções, pois são o tipo de canções que você só consegue escrever se você vive dessa maneira. Passei mais de dez anos em uma banda tocando pelo Brasil e passando por inúmeras situações, tanto na banda quanto na vida pessoal. É o dia a dia que me dá respaldo para escrever dessa maneira.

RG: Você costuma fazer shows com a banda solo? Como é o público, em relação ao do Zumbis?

Tor: Sim, eu tenho uma banda agora e também faço shows só com o violão. Alguns fãs do Zumbis gostam e acompanham, outros não. Na verdade estou começando de novo, como quando eu formei o Zumbis. Na época ninguém tocava no nosso estilo, então com os anos formamos um público grande e fiel. Hoje eu sôo muito country para os fãs de punk/metal, e muito punk para os fãs de country. Então estou formando um público novo, e estou satisfeito de começar a levar fãs de country e sertanejo para shows de rock e vice-versa. Para mim música nunca teve barreiras, ninguém está a salvo.

RG: Essa nova empreitada não está sendo lançada pela sua gravadora, a Thirteen. O que isso muda na carreira do Tor?

Tor: Estou começando uma nova carreira, na verdade esse selo é um selo que eu criei pra cuidar apenas da minha carreira, eu estou começando do zero, quero ter novas motivações e novas energias. A Thirteen e o Zumbis já fizeram sua história, eu quero começar tudo do zero, assim como a minha música, que é uma música original, quero ver até onde isso pode me levar. Como compositor eu sei que estou no caminho certo para minha realização.

Sou fã do Wander (Wildner), acho a carreira solo dele incrível. Tem artistas que te influenciam nem tanto pela música, mas também pela atitude, e você acaba os tendo como referência.

Sou fã do Wander (Wildner), acho a carreira solo dele incrível. Tem artistas que te influenciam nem tanto pela música, mas também pela atitude, e você acaba os tendo como referência.

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