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Muito além do Iron Maiden

Bruce Dickinson desfila novidades e grandes sucessos de sua consistente carreira solo, em ótimo show no Rio. Fotos: Daniel Croce.

Em ótima forma aos 65 anos, Bruce Dickinson agrada geral ao priorizar músicas da carreia solo

Em ótima forma aos 65 anos, Bruce Dickinson agrada geral ao priorizar músicas da carreia solo

Já passa da metade do show, quando, do nada, uma espécie de improvisação instrumental começa a envolver toda a banda. Súbito, o frontman, um dos maiores de todas as épocas, se aboleta atrás de um kit de percussão lá no fundo do palco e desanda a bater tambores, duelando inclusive com o baterista. Com a concentração de um principiante, ainda vai se aventurar em um teremim, aquele instrumento de origem russa cuja antena emite sons sem que seja sequer tocada. E a banda mandando ver. É o que apronta Bruce Dickinson fora do Iron Maiden, em apresentação solo, revivendo um clássico lisérgico-setentista de Edgar Winter, mais de 50 anos depois, deixando incrédula a boa quantidade de fãs no Qualistage, no Rio, na noite desta terça (30/4).

A música, intitulada apropriadamente de “Frankenstein”, é, para o bem ou para o mal, apenas uma alegoria em um show solo de Bruce quase sem erro em termos de repertório. Quatro músicas do álbum novo, o razoável “The Mandrake Project”, que saiu esse ano, seis de seu melhor trabalho, “The Chemical Wedding”, de 1998, e as demais para compor o elenco, sem passar pelo estranho “Skunkworks (1996) e pela boa estreia de “Tattooed Millionaire” (1990); a faixa-título bem que merecia ser tocada. E não é só isso, a ordem em que as músicas são concatenadas funciona muitíssimo bem, fazendo o público participar do início ao fim. Não tem olhar contemplativo, é pula-pula, punhos erguidos em coreografia ensaiada e cantoria afinada quase o tempo todo. E – ainda bem, cada coisa no seu lugar – nada de Iron Maiden.

Bruce, o arrojado guitarrista canhoto Chris Declercq e a baixista Tanya O'Callaghan no cantinho

Bruce, o arrojado guitarrista canhoto Chris Declercq e a baixista Tanya O'Callaghan no cantinho

Para se ter uma ideia, a noite abre com cinco pedradas emendas umas nas outras até que o vocalista dê uma pausa para cumprimentar o público. Bloco inicial que começa e termina com músicas marcantes da carreia solo: “Accident of Birth” e “Chemical Wedding”, ambas faixa-título de álbuns que recolocaram Bruce no caminho do heavy metal depois de uma ressaca geral pós saída do Maiden. A primeira desfilando um refrão pegajoso para levantar a plateia, e, a segunda, que se revela realmente uma da preferidas ali no meio da multidão, e na qual começa a realçar o bom trabalho dos guitarristas Philip Naslund e Chris Declercq, um canhotinho arrojado que não se intimida. A banda toda apresenta, aliás, um ótimo nível de entrosamento, com destaque para o batera Dave Moreno (Puddle of Mudd).

Entre as novas o que se percebe logo de cara é que elas ganham uma força impercebível no álbum, o que reforça a performance da banda como um todo e ainda o carisma de Bruce, em boa forma, física e vocal, aos 65 anos de idade. Ao mesmo tempo, produz um olhar mais generoso parar o disco, do ponto de vista de que tem muita nitroglicerina armazenada ali esperando para ser detonada. A melhor delas é justamente “Afterglow of Ragnarok” que abre o disco e aparece no bloco inicial com o riff que lhe conduz muito mais denso, pesado e cativante, no melhor estilo da carreia solo do vocalista. Outra é “Resurrection Men”, com sotaque surf music/faroeste, algo de exceção, assim como a percussão na trajetória de Bruce, que ao vivo se converte em animada canção festiva, em que pese algum estranhamento aqui e acolá no meio do público.

O baterista Dave Moreno (Puddle O Mudd), destaque da boa banda solo de Bruce Dickinson

O baterista Dave Moreno (Puddle O Mudd), destaque da boa banda solo de Bruce Dickinson

“Rain on the Graves” é outra tensa, mas bem recebida e com outro solo de chamar a atenção de Declercq, e “Many Doors to Hell”, com sotaque mais pop, por assim dizer, mesmo desconhecida extrai alguma cantoria e alguns punhos cerrados no meio do público. Que se refestela mesmo com números como “Darkside of Aquarius”, pesada pra cacete, com lindas guitarras melódicas no final e um “ôôô” da plateia; com a “novidade” “Jerusalem”, que só havia sido tocada duas vezes nessa turnê, no início do bis, um tanto mais arrastada, mas pesada mesmo assim, cheia das guitarras melódicas de novo; e no desfecho final com “The Tower”, total “volta dos filhos pródigos” Adrian Smith e Bruce Dickinson ao Iron Maiden.

Não falta a baladaça “Tears O The Dragon”, segundo o próprio Bruce “a música que não pode deixar de ser tocada no Brasil’, e que é realmente um dos grandes momentos da noite. Uma noite daquelas de almanaque mesmo. O que nos leva ao show de Bruce “com orquestra tocando Deep Purple” há um ano quase certinho (relembre). Foi bom, mas pra que fazer isso e não trazer esse showzaço solo? Coisas do show business sem muita explicação. Assim como colocar, às pressas, segundo consta, o Noturnall pra fazer o show de abertura. Mal ensaiada, a banda se destaca mais pelo vocalista falastrão do que pelas músicas em si. A plateia tem postura apática, mas, ao final, aplaude calorosamente. Bendito seja o público do heavy metal!

Guitarras melódicas: o outro guitarrista, o sueco Philip Naslund, que faz ótima dupla com Declercq

Guitarras melódicas: o outro guitarrista, o sueco Philip Naslund, que faz ótima dupla com Declercq

Set list completo

1- Accident of Birth
2- Abduction
3- Laughing in the Hiding Bush
4- Afterglow of Ragnarok
5- Chemical Wedding
6- Many Doors to Hell
7- Gates of Urizen
8- Resurrection Men
9- Rain on the Graves
10- Frankenstein
11- The Alchemist
12- Tears of the Dragon
13- Darkside of Aquarius
Bis
14- Jerusalem
15- Book of Thel
16- The Tower

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