Com alguma preguiça, desleixo e certa marra a banda volta ao palco para o encerramento do show, momento em que, geralmente, se espera um clímax matador com hits – ao menos uns três - não incluídos no corpo da apresentação. Não é exatamente o que acontece, nem por isso há desagravos por parte dos acólitos que passam hora e meia cantando quase todas as músicas do início ao fim. A isolada canção sem título é de uma melancolia atroz e aponta mais para uma tristeza desgraçada do que para algum tipo de euforia que eventualmente tenha restado de um show em que, de um modo gral, todo mundo adora. Com o vocalista e guitarrista agachado e a música se esvaindo lenta e agonizantemente se encerra o show do Interpol, no Vivo Rio, nesta quarta (5/6).

Não que se esperasse da banda alguma novidade quando Paul Banks, o tal vocalista/guitarrista, começa a tocar “Untitled”, a tal música, em um rotineiro desfecho de todos os shows da turnê, iniciada há poucos dias, em que o grupo comemora, de uma vez só, os vinte, vinte e poucos anos - mas já? - dos dois primeiros álbuns, “Turn On the Bright Lights”, de 2002, e “Antics”, de 2004. Nem que haja alguma surpresa em relação a ‘vibe’ de um show que quase nunca muda com o passar do tempo, incluindo as muitas apresentações do grupo, figura razoavelmente presente no Brasil, Rio incluído. De onde se conclui que o rock triste e incialmente decalcado do pós punk britânico, entenda-se Joy Division e adjacências, é o que o povo gosta, é o que o povo quer.

Um público excelente em termos de comparecimento e bastante animado para esse tipo de música sombria e melancólica, em tempos estranhos em que camisas pretas pulam micareta e portadores de abadá batem cabeça freneticamente. A novidade passa a ser a inclusão de músicas pouco tocadas durante a carreira da banda, mesmo na época em que os discos foram lançados, e ainda como o repertório funciona ao vivo, em uma ordem planejada para um álbum, não para um show. Por isso a abertura com “Specialst” (total Joy Division), que, a bem da verdade, é apenas o lado C do EP lançado na época de “Bright Lights”, não deixa de ser surpreendente, embora cause boa reação para uma plateia ensaiadinha. O material dessa época ocupa a primeira parte do show, com nove números, não necessariamente a íntegra do disco. São ou não são um tanto excêntricos?

Ali se destaca a trinca subsequente, só com hits de domínio público além fã: “Say Hello to the Angels”, que impulsiona o clima do show; a boa “Obstacle 1”; e “NYC”, que tem um ótimo trabalho de bateria de Sam Fogarino, um dos diferenciais da banda. Com tanto entorno, não se pode deixar de lado o apuro técnico dos músicos, que defendem boas canções e melodias certeiras em um tipo de música simples, mas nem tão fácil assim de se fazer. As texturas de guitarras da dupla Banks + Daniel Kessler, e as guitarras de fundo de Kassler às vezes são pouco notadas, mas, de ótimo gosto, contribuem de montão para o conjunto da obra do Interpol. E no show se percebe isso em várias músicas, em que pese as linhas de baixo diferenciadas criadas lá atrás por Carlos Dengler e hoje bem honradas por Brandon Curtis, o aniversariante da noite. Nem precisava do tecladista no fundo do palco, pouco ouvido nas caixas.

A segunda parte da noite vem com “Antics”, aí sim, na íntegra, de cabo a rabo, com as músicas na mesma ordem em que foram lançadas no disco. Sobressaem hits do naipe de “Slow Hands”, cantada a plenos pulmões, mas também “Not Even Jail”, coladinha nela, em que se salienta outro ótimo trabalho de guitarras de Daniel Kessler. “C’mere”, agradável e contagiante, é o último momento de certa alegria da fusão banda + público, já que a derradeira “A Time to Be So Small” se enchafurda em uma melancolia que tem o desfecho final no já citado bis com “Untitled”. A inevitável comparação com os shows da banda nesse tempo todo leva a conclusão de que, de certo modo, salvo uma ou outra música preferida no repertório, um show do Interpol, há pelo menos 16 anos, é mais ou menos sempre a mesma coisa. E dado o modo peculiar da banda - podem acreditar - isso é muito bom.

Set list completo:

1- Specialist
2- Say Hello to the Angels
3- Obstacle 1
4- NYC
5- Roland
6- Hands Away
7- Stella Was a Diver and She Was Always Down
8- The New
9- PDA
Intervalo
10- Next Exit
11- Evil
12- Narc
13- Take You on a Cruise
14- Slow Hands
15- Not Even Jail
16- Public Pervert
17- C’mere
18- Length of Love
19- A Time to Be So Small
Bis
20- Untitled

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