O Homem Baile

Classicou

Em show animado no Rio, L7 mostra poucas novidades e brilha com clássicos do auge da carreira. Fotos: Daniel Croce.

A vocalista e guitarrista do L7, Donita Sparks, comanda o show da banda em ótima forma física e vocal

A vocalista e guitarrista do L7, Donita Sparks, comanda o show da banda em ótima forma física e vocal

Já passa da metade de um animado show quando, do nada, um incauto surge no meio da multidão de posse de um daqueles galhardetes de vendedores de tíquetes de cerveja, agitando como não fazia antes nem faria depois. A turba entende a mensagem e rapidamente o sujeito é erguido em prolongado body surfing sobre os demais, com vigorosa interação instantânea, até que a música se acabe e ele, por sua vez, desapareça para sempre em meio ao povaréu. É o que acontece durante a execução da singela “Wargasm”, pelo furioso L7, na noite deste domingo (29/10), no Sacadura 184, no Rio. Encravada entre as lendas do hardcore mundial Black Flag e local Mukeka di Rato, a banda brilha intensamente em noite marcada pela diversão generalizada.

Impossível não lembrar da clássica roubada de cena do L7 diante de um Nirvana mal das pernas e de um outro Red Hot Chili Peppers em noite ruim no Hollywood Rock de 1993, e lá se vão 30 anos! Mas, agora que banda volta com um novo álbum debaixo do braço, o satisfatório “Scatter the Rats”, lançado em 2019, a expectativa é por um espírito de renovação que dê fôlego para uma carreira contínua (a banda ficou uns 14 anos fora de cena e só voltou em 2015), certo? Qual nada. Como um grupo de classic rock, e já se pode chamar o grunge assim, o repertório é basicamente o mesmo da turnê de cinco anos atrás, que arrebatou um Circo Voador lotado (veja como foi), com a inclusão de apenas duas faixas do disco novo, além uma meia dúzia de outras músicas das antigas não tocadas no show de 2018.

Sempre a mais animada, a baixista descalça e com cabelos de fogo Jennifer Finch também canta

Sempre a mais animada, a baixista descalça e com cabelos de fogo Jennifer Finch também canta

Das novas, é “Stadium West” que levanta o público com aquele pula-pula generalizado e até braços erguidos em coreografia na beirada do palco, mantendo a vibe de um início matador que tem nada menos que “Andres” e “Everglade”, uma das melhores músicas do quarteto, embora não figure entre os principais sucessos comerciais. A outra é “Fighting The Crave”, riffônica e suja, que, mais lenta, ajuda a compor o elenco. “Mr. Integrity”, com bom riff e uma batida surf music ultra dançante, e “Can I Run”, embora menos empolgante do ponto de vista da participação do público, são outras duas boas novidades no set, que não por acaso privilegia o álbum “Bricks Are Heavy”, de 1992. O disco é o que melhor capta o sucesso e o auge da banda, e por isso mesmo cede nada menos que nove das suas 11 faixas ao show.

Além da boa presença de palco e da flagrante expressão de satisfação de cada uma, impressiona a boa forma da banda, de um modo geral. A magérrima Donita Sparks que o diga, cantando muito bem entre trocas de guitarra flying V e um e outro gole de cerveja. Todas, aliás, contribuem com vocais em quase todas as músicas, outra característica do quarteto, sendo a descalça baixista Jennifer Finch, como de hábito, a mais animada da turma. Suzi Gardner, a outra guitarrista, se reveza entre solos e ritmo com Sparks e vai muito bem cantado em “Slide” e “Shove”, enquanto a batera Demetra Plakas não está em aí para as 63 primaveras que irá completar em poucos dias e segura muito bem a onda durante os 90 minutos de bola rolando com pressão total.

A guitarrista Suzi Gardner, que assume os vocais principais em algumas músicas, e Donita Sparks

A guitarrista Suzi Gardner, que assume os vocais principais em algumas músicas, e Donita Sparks

O que contribui decisivamente para a participação do público, sobretudo nas músicas menos conhecidas, lembrando que, incialmente, esta seria uma noite de ode ao hardcore com a estreia do Black Flag no Rio. Mas o que o povaréu quer mesmo são os clássicos da época em que o L7 não saía da telinha da MTV, e é assim que todo mudo se esbalda em “Pretend We’re Dead”, o maior delas que, vamos e venhamos, nem tem vocação pra hit; “Monster”, associado por Donita Sparks às comemorações do Halloween americano, e que a turba curte de montão; “Shitlist”, que encerra a noite até com maior penetração do que prometia; e, por razões óbvias, a boa “Fuel My Fire”. Ainda que não tenha mostrado muito material novo (ou seria por isso mesmo?) outra vez o L7 convence com um ótimo espetáculo de rock. Que sigam assim!

Set list completo

1- Deathwish
2- Andres
3- Everglade
4- Scrap
5- Stadium West
6- Shove
7- Can I Run
8- Human
9- Bad Things
10- One More Thing
11- Mr. Integrity
12- Slide
13- Fighting the Crave
14- Drama
15- Non-Existent Patricia
16- Wargasm
17- Monster
18- Fuel My Fire
19- Dispatch From Mar-a-Lago
20- Pretend We’re Dead
21- Shitlist
Bis
22- American Society
23- Fast and Frightening

No fundo, a batera Demetra Plakas mostra bom vigor físico, com Donita Sparks tocando na frente

No fundo, a batera Demetra Plakas mostra bom vigor físico, com Donita Sparks tocando na frente

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado