De volta na praça
Com a formação clássica, L7 revive noite em que roubou a cena em grande festival, há 25 anos, e fortalece o público feminino na estreia da turnê pelo Brasil. Fotos: Nem Queiroz.
Não muito distante dali, há pouco mais de 25 anos, cerca de 30, 40 mil pessoas botavam a Praça da Apoteose abaixo, em uma edição das melhores do saudoso Hollywood Rock em que o L7 roubou a cena de um Nirvana desgovernado e de um Red Hot Chili Peppers com bateria de escola de samba no palco. “Nasceram alguns bebês nesse festival”, brinca Jennifer Finch, a tal baixista de cabelo colorido, com sedutores quilinhos a mais, entre uma música e outra. Enquanto a guitarrista e vocalista Donita Sparks provoca: “Ouvimos boatos de que o Rio não é rock’n’roll!”, para receber o apoio do qual desde sempre não duvidava, mas não custa tentar. Afinal é o primeiro show dessa turnê pelo Brasil, que inclui outras quatro capitais e marca o retorno da banda, em 2014, depois de um recesso de 13 anos, e com a formação clássica que ainda tem a guitarrista Suzi Gardner e a baterista Demetra Plakas.
Daí que não há tempo a perder e o início, tal qual em 1993, é com “Deathwish” cujo riff é ensaio para a tonelada de distorções em volume exagerado que se anuncia. A dobradinha “Everglade” e “Monster”, tocada logo na primeira parte, ambas do álbum “Bricks Are Heavy”, cujo vinil era perfurado de tanto ser tocado naqueles tempos, detona o padrão roda de dança e pula-pula que perdura durante toda a noite. A primeira então, que teve clipe de alta rodagem na MTV quando a MTV era MTV, é de uma catarse contagiante. As músicas tocadas no show – 22 no total – são quase as mesmas da época, quando o grupo já havia lançado metade da sua discografia, e tem que ser assim mesmo, afinal e isso que o povo gosta, e isso que o povo quer em uma turnê de reunião.
Que parece não ser só uma reunião, no entanto, com o lançamento dos singles “I Came Back to Bitch” e “Dispatch From Mar-a-Lago”, há menos de um ano. Ambas são tocas, a primeira mais cadenciada e com um bom refrão que, mesmo sem ter sido checada pelo público, agrada. E, a segunda, uma pedrada com pegada Ramones que propõe o envio de uma turba para a residência de férias do presidente americano, e ainda tem mais esse motivo para ser ovacionada no show. Embora associado ao grunge – o grupo sequer é de Seattle -, o som do L7 se estabelece em algum meio do caminho entre o metal barulhento, o punk básico de Ramones e afins, e o riff de guitarra do classic rock, com muita – e pode por mais um pouco – distorção envolvida e quase nenhum solo de guitarra.Outros destaques na noite são “Must Have More”, cujo riff com o volume da mesa nas alturas parece que vai se materializar fisicamente no peito de cada um no meio do salão, e que ainda tem o melhor solo de Gardner; “Freak Magnet”, cantada pela mesma Suzi Gardner (as três de frente cantam, e muito bem), que desencadeia mais agitação por parte do público; e a não menos saltitante “Shitlist”, quando Sparks força a voz como nos velhos tempos. Faltou “I Use to Love Him”, a infame resposta ao machão Axl Rose, mas teve o bis arrasa quarteirão com “Pretend We’re Dead”, o maior hit delas, precedido – quem sabe – pela fonte “American Society” de Eddie and the Subtitles, e a acelerada, já no título, “Fast and Frightening”. Belo acerto de contas com a história, um quarto de século depois.
A inclusão das bandas Indiscipline e Lâmmia acabou por converter o show do L7 em um mini festival riot girl, por assim dizer. Isso porque o Indiscipline é um trio hard rock/heavy rock só com garotas, e o Lâmmia tem a boa vocalista Carmen Cunha à frente. Com mais rodagem, o Indiscipline mostrou músicas do álbum “Sanguinea”, e contou com boa reação da plateia, até pela postura de palco das meninas, e ainda que a guitarrista Maria Cals sofresse um bocado com o volume baixo durante quase todo o show. Já o Lâmmia, quem tem os Matanza Dony Escobar na guitarra e Jonas Cáffaro na bateria, vai na linha do stoner/metal, mas com sonoridade bem contemporânea. Entre as músicas, “Predador” e a nova “Pulling Chain” deram cabo de bastante peso. Carmen Cunha, contudo, precisa estreitar a relação com o palco, há espaço para melhorar.
Set list completo L7:1- Deathwish
2- Andres
3- Everglade
4- Monster
5- Scrap
6- Fuel My Fire
7- One More Thing
8- Off the Wagon
9- I Need
10- Slide
11- Crackpot Baby
12- Must Have More
13- Drama
14- I Came Back to Bitch
15- Shove
16- Freak Magnet
17- (Righ On) Thru
18- Dispatch From Mar-a-Lago
19- Shitlist
Bis
20- American Society
21- Pretend We’re Dead
22- Fast and Frightening
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