O Homem Baile

De volta na praça

Com a formação clássica, L7 revive noite em que roubou a cena em grande festival, há 25 anos, e fortalece o público feminino na estreia da turnê pelo Brasil. Fotos: Nem Queiroz.

A provocadora vocalista e guitarrista do L7, Donita Sparks, em ótima forma, como há 25 anos

A provocadora vocalista e guitarrista do L7, Donita Sparks, em ótima forma, como há 25 anos

A entrada no palco já mostra quatro garotas dispostas a aprontar para um público encorpado e sedento por diversão da mais pura e sem posicionamentos quaisquer que sejam. A de cabelo encarnado é a mais animada com um baixo arrojado, e, junto com a que se posiciona no centro, vai bater cabeça e implementar aquela coreografia ensaiada que funciona que é uma beleza durante toda a noite. Porque elas têm um bom punhado de músicas que se tornaram conhecidas há certo tempo, e outras nem tanto assim, mas que têm o poder de convencimento instantâneo inerente ao rock em todas as épocas. Elas são o L7, o quarteto genuinamente feminino que, em turnê de reunião, capta um excelente público neste sábado (1/12) no Circo Voador, sobretudo por outras moças, de tantas origens, que se sentem bem representadas. Aí, sim!

Não muito distante dali, há pouco mais de 25 anos, cerca de 30, 40 mil pessoas botavam a Praça da Apoteose abaixo, em uma edição das melhores do saudoso Hollywood Rock em que o L7 roubou a cena de um Nirvana desgovernado e de um Red Hot Chili Peppers com bateria de escola de samba no palco. “Nasceram alguns bebês nesse festival”, brinca Jennifer Finch, a tal baixista de cabelo colorido, com sedutores quilinhos a mais, entre uma música e outra. Enquanto a guitarrista e vocalista Donita Sparks provoca: “Ouvimos boatos de que o Rio não é rock’n’roll!”, para receber o apoio do qual desde sempre não duvidava, mas não custa tentar. Afinal é o primeiro show dessa turnê pelo Brasil, que inclui outras quatro capitais e marca o retorno da banda, em 2014, depois de um recesso de 13 anos, e com a formação clássica que ainda tem a guitarrista Suzi Gardner e a baterista Demetra Plakas.

Daí que não há tempo a perder e o início, tal qual em 1993, é com “Deathwish” cujo riff é ensaio para a tonelada de distorções em volume exagerado que se anuncia. A dobradinha “Everglade” e “Monster”, tocada logo na primeira parte, ambas do álbum “Bricks Are Heavy”, cujo vinil era perfurado de tanto ser tocado naqueles tempos, detona o padrão roda de dança e pula-pula que perdura durante toda a noite. A primeira então, que teve clipe de alta rodagem na MTV quando a MTV era MTV, é de uma catarse contagiante. As músicas tocadas no show – 22 no total – são quase as mesmas da época, quando o grupo já havia lançado metade da sua discografia, e tem que ser assim mesmo, afinal e isso que o povo gosta, e isso que o povo quer em uma turnê de reunião.

Mais animada na turma, a baixista de cabelos coloridos Jennifer Finch toca na beirada do palco

Mais animada na turma, a baixista de cabelo coloridos Jennifer Finch toca na beirada do palco

Que parece não ser só uma reunião, no entanto, com o lançamento dos singles “I Came Back to Bitch” e “Dispatch From Mar-a-Lago”, há menos de um ano. Ambas são tocas, a primeira mais cadenciada e com um bom refrão que, mesmo sem ter sido checada pelo público, agrada. E, a segunda, uma pedrada com pegada Ramones que propõe o envio de uma turba para a residência de férias do presidente americano, e ainda tem mais esse motivo para ser ovacionada no show. Embora associado ao grunge – o grupo sequer é de Seattle -, o som do L7 se estabelece em algum meio do caminho entre o metal barulhento, o punk básico de Ramones e afins, e o riff de guitarra do classic rock, com muita – e pode por mais um pouco – distorção envolvida e quase nenhum solo de guitarra.

Outros destaques na noite são “Must Have More”, cujo riff com o volume da mesa nas alturas parece que vai se materializar fisicamente no peito de cada um no meio do salão, e que ainda tem o melhor solo de Gardner; “Freak Magnet”, cantada pela mesma Suzi Gardner (as três de frente cantam, e muito bem), que desencadeia mais agitação por parte do público; e a não menos saltitante “Shitlist”, quando Sparks força a voz como nos velhos tempos. Faltou “I Use to Love Him”, a infame resposta ao machão Axl Rose, mas teve o bis arrasa quarteirão com “Pretend We’re Dead”, o maior hit delas, precedido – quem sabe – pela fonte “American Society” de Eddie and the Subtitles, e a acelerada, já no título, “Fast and Frightening”. Belo acerto de contas com a história, um quarto de século depois.

A inclusão das bandas Indiscipline e Lâmmia acabou por converter o show do L7 em um mini festival riot girl, por assim dizer. Isso porque o Indiscipline é um trio hard rock/heavy rock só com garotas, e o Lâmmia tem a boa vocalista Carmen Cunha à frente. Com mais rodagem, o Indiscipline mostrou músicas do álbum “Sanguinea”, e contou com boa reação da plateia, até pela postura de palco das meninas, e ainda que a guitarrista Maria Cals sofresse um bocado com o volume baixo durante quase todo o show. Já o Lâmmia, quem tem os Matanza Dony Escobar na guitarra e Jonas Cáffaro na bateria, vai na linha do stoner/metal, mas com sonoridade bem contemporânea. Entre as músicas, “Predador” e a nova “Pulling Chain” deram cabo de bastante peso. Carmen Cunha, contudo, precisa estreitar a relação com o palco, há espaço para melhorar.

A guitarrista Suzi Gardner: poucos solos e muitos riffs distorcidos em volume ensurdecedor

A guitarrista Suzi Gardner: poucos solos e muitos riffs distorcidos em volume ensurdecedor

Set list completo L7:

1- Deathwish
2- Andres
3- Everglade
4- Monster
5- Scrap
6- Fuel My Fire
7- One More Thing
8- Off the Wagon
9- I Need
10- Slide
11- Crackpot Baby
12- Must Have More
13- Drama
14- I Came Back to Bitch
15- Shove
16- Freak Magnet
17- (Righ On) Thru
18- Dispatch From Mar-a-Lago
19- Shitlist
Bis
20- American Society
21- Pretend We’re Dead
22- Fast and Frightening

Vista do palco do L7 com o público agitando pra valer, uma constante durante toda a noite de sábado

Vista do palco do L7 com o público agitando pra valer, uma constante durante toda a noite de sábado

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