Providência certa
Show com integra do álbum de estreia do Brujeria é salvo por bis repleto de hits, em noite de novatos no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.
É a turnê que comemora o aniversário de 30 anos do impactante álbum de estreia da banda, “Matando Güeros”, aquele em que a cabeça decepada de um cidadão de bem branco aparece na capa. Para tanto, o show começa com a íntegra do disco, e, como se sabe, nem sempre todas as músicas de um disco funcionam ao vivo, ainda mais para um público salpicado de novatos (e isso é bom), classificados por João Gordo, no show anterior, do Ratos de Porão (veja como foi), como um “bando de cabaços do caralho”. Pra piorar, por estratégia, a banda deslocou a faixa-título para a segunda parte da noite, e, sabe-se lá o motivo, suprimiu nada menos que as quatro últimas músicas, todas incialmente programadas no repertório. Em suma: não funcionou.
Considerações que, de um modo ou de outro, não devem passar pela cabeça do público, um pouco menor que o do show do Ratos, que roubou a noite antes, mas seguramente o maior entre todas as três vezes em que o Brujeria tocou no Rio. As outras duas foram em 2018 e 2014 (relembre) e teve ainda afamado show de 2007, em Duque de Caxias. A banda também mudou muito, inclusive tematicamente, no quesito “integrantes de bandas famosas da música extrema em aparições ocultas”. Sem membros de Faith No More, Carcass, Fear Factory e afins, se resume ao trio de vocalistas Juan Brujo (solitário remanescente da formação original), El Sangrón e o desmascarado Pinche Peach, escorados por três músicos da pesada que seguram muito bem a onda. Nem a integrante feminina, novidade desses tempos, La Bruja Encabronada, está nessa turnê, que passa por nada menos que oito cidades brasileiras.Com isso tudo, é só com “La Migra”, que abre o bis repleto de clássicos do grupo, que o bicho pega de verdade e a aura from hell do Circo Voador retoma sua vocação para a zorra e o esporro. Em todas realça uma espécie de temática “tex mex from hell” calcada a música extrema, em bruxaria, tráfico de drogas e outras insubordinações que incomodam o sistema, sobretudo nos Estados Unidos, e com todas as letras cantadas em espanhol latino-americano. É assim com “Revolución”, outra que movimenta a turba aditivada por impagáveis dancinhas da dupla Juan Brujo/El Sangrón, e na infame “Consejos Narcos”, impondo um questionário entre banda e plateia, que responde a plenos pulmões. É antes dela que Pinche Peach pede, recebe e traga um baseado da plateia, com a cumplicidade ampla, geral e irrestrita.
O show faz parte da edição de 20 anos (já?) do Kool Metal Fest, e pega a banda às vésperas do lançamento do novo álbum, o quinto deles, “Esto Es Brujeria”, que sai no mês que vem, marcando a estreia da nova formação. Nenhuma delas entra no set, tampouco a sensacional “Covid-666”, lançada durante a pandemia e que tem a participação de João Gordo. Ele surge no palco para cantar um trecho de “Hechando Chingasos”, mas nada de relevante. O bis cresce mesmo é no arremate, com a dobradinha “Brujerizmo”, aí sim com aquela roda de dança que faz o salão ficar pequeno, e no “hino da banda”, “Matando Güeros”, que parece ser a única do disco aniversariante que o público conhece e quer ouvir, com a entrada em cena de avantajados facões. Mas ainda há tempo para a versão gravada de “Marijuana”, conversão divertida de “Macarena”, ressignificada para o mal, que lota o palco com fãs pra lá de desengonçados. Coisa linda mesmo.Set list completo
1- Leyes Narcos
2- Sacrificio
3- Santa Lucía
4- Seis Seis Seis
5- Cruza la Frontera
6- Greñudos Locos
7- Chingo de Mecos
8- Narcos-satánicos
9- Desperado
10- Culeros
11- Misas Negras
12- Chinga tu Madre
13- Verga del Brujo
Bis
14- La Migra
15- Colas de Rata
16- Hechando Chingasos
17- La Ley del Plomo
18- Marcha de Odio
19- Revolución
20- Consejos Narcos
21- Brujerizmo
22- Matando Güeros
23- Marijuana

El Sangrón e Juan Brujo são os vocalistas principais e ainda fazem impagáveis dancinhas coreografadas
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Não sou fã do Brujeria, até ouvi alguma coisa na adolescência mas não me pegou. Fui pra ver o Ratos e o Gangrena mas acabei surpreendido pelo Velho, que show! E o Ratos é sempre foda, um trator sonoro sem freio. Maior banda do mundo!