O Homem Baile

Providência certa

Show com integra do álbum de estreia do Brujeria é salvo por bis repleto de hits, em noite de novatos no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.

O principal vocalista do Brujeria, Juan Brujo, solitário remanescente da formação original da banda

O principal vocalista do Brujeria, Juan Brujo, solitário remanescente da formação original da banda

Já passa de meia hora de show, quando, enfim, depois de uma rápida parada, uma horda de malucos emplaca uma roda de pogo de dar gosto no meio do salão. E isso em uma noite fadada a ações desse tipo, incluindo empurra-empurras, estapeamentos generalizados, estrebuchos, subidas no palco sem fim e acrobáticos saltos sobre a multidão sedenta por esporro e otras cositas más. Mas nunca é tarde para um show emplacar e é assim que o Brujeria (ou o que sobrou dele) se entende com o público que já vinha se acabando desde cedo com as atrações anteriores, em, no fim das contas, uma daquelas noites fantásticas do Circo Voador, nesta sexta (25/8). E – ainda tem mais essa – foi noite de dancinha, facão decepando cabeça, maconha ao vivo e a cores e o escambau.

É a turnê que comemora o aniversário de 30 anos do impactante álbum de estreia da banda, “Matando Güeros”, aquele em que a cabeça decepada de um cidadão de bem branco aparece na capa. Para tanto, o show começa com a íntegra do disco, e, como se sabe, nem sempre todas as músicas de um disco funcionam ao vivo, ainda mais para um público salpicado de novatos (e isso é bom), classificados por João Gordo, no show anterior, do Ratos de Porão (veja como foi), como um “bando de cabaços do caralho”. Pra piorar, por estratégia, a banda deslocou a faixa-título para a segunda parte da noite, e, sabe-se lá o motivo, suprimiu nada menos que as quatro últimas músicas, todas incialmente programadas no repertório. Em suma: não funcionou.

O trio de vocalistas do atual Brujeria: o desmascarado Pinche Peach, El Sangrón e Juan Brujo

O trio de vocalistas do atula Brujeria: o desmascarado Pinche Peach, El Sangrón e Juan Brujo

Considerações que, de um modo ou de outro, não devem passar pela cabeça do público, um pouco menor que o do show do Ratos, que roubou a noite antes, mas seguramente o maior entre todas as três vezes em que o Brujeria tocou no Rio. As outras duas foram em 2018 e 2014 (relembre) e teve ainda afamado show de 2007, em Duque de Caxias. A banda também mudou muito, inclusive tematicamente, no quesito “integrantes de bandas famosas da música extrema em aparições ocultas”. Sem membros de Faith No More, Carcass, Fear Factory e afins, se resume ao trio de vocalistas Juan Brujo (solitário remanescente da formação original), El Sangrón e o desmascarado Pinche Peach, escorados por três músicos da pesada que seguram muito bem a onda. Nem a integrante feminina, novidade desses tempos, La Bruja Encabronada, está nessa turnê, que passa por nada menos que oito cidades brasileiras.

Com isso tudo, é só com “La Migra”, que abre o bis repleto de clássicos do grupo, que o bicho pega de verdade e a aura from hell do Circo Voador retoma sua vocação para a zorra e o esporro. Em todas realça uma espécie de temática “tex mex from hell” calcada a música extrema, em bruxaria, tráfico de drogas e outras insubordinações que incomodam o sistema, sobretudo nos Estados Unidos, e com todas as letras cantadas em espanhol latino-americano. É assim com “Revolución”, outra que movimenta a turba aditivada por impagáveis dancinhas da dupla Juan Brujo/El Sangrón, e na infame “Consejos Narcos”, impondo um questionário entre banda e plateia, que responde a plenos pulmões. É antes dela que Pinche Peach pede, recebe e traga um baseado da plateia, com a cumplicidade ampla, geral e irrestrita.

El Sangrón, Brujo e o baixista oculto: show só engrenou na segunda metade, com a inclusão dos hits

El Sangrón, Brujo e o baixista oculto: show só engrenou na segunda metade, com a inclusão dos hits

O show faz parte da edição de 20 anos (já?) do Kool Metal Fest, e pega a banda às vésperas do lançamento do novo álbum, o quinto deles, “Esto Es Brujeria”, que sai no mês que vem, marcando a estreia da nova formação. Nenhuma delas entra no set, tampouco a sensacional “Covid-666”, lançada durante a pandemia e que tem a participação de João Gordo. Ele surge no palco para cantar um trecho de “Hechando Chingasos”, mas nada de relevante. O bis cresce mesmo é no arremate, com a dobradinha “Brujerizmo”, aí sim com aquela roda de dança que faz o salão ficar pequeno, e no “hino da banda”, “Matando Güeros”, que parece ser a única do disco aniversariante que o público conhece e quer ouvir, com a entrada em cena de avantajados facões. Mas ainda há tempo para a versão gravada de “Marijuana”, conversão divertida de “Macarena”, ressignificada para o mal, que lota o palco com fãs pra lá de desengonçados. Coisa linda mesmo.

Set list completo

1- Leyes Narcos
2- Sacrificio
3- Santa Lucía
4- Seis Seis Seis
5- Cruza la Frontera
6- Greñudos Locos
7- Chingo de Mecos
8- Narcos-satánicos
9- Desperado
10- Culeros
11- Misas Negras
12- Chinga tu Madre
13- Verga del Brujo
Bis
14- La Migra
15- Colas de Rata
16- Hechando Chingasos
17- La Ley del Plomo
18- Marcha de Odio
19- Revolución
20- Consejos Narcos
21- Brujerizmo
22- Matando Güeros
23- Marijuana

El Sangrón e Juan Brujo são os vocalistas principais e ainda fazem imagáveis dancinhas coreografadas

El Sangrón e Juan Brujo são os vocalistas principais e ainda fazem impagáveis dancinhas coreografadas

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Leonardo Costa em agosto 26, 2023 às 16:20
    #1

    Não sou fã do Brujeria, até ouvi alguma coisa na adolescência mas não me pegou. Fui pra ver o Ratos e o Gangrena mas acabei surpreendido pelo Velho, que show! E o Ratos é sempre foda, um trator sonoro sem freio. Maior banda do mundo!

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