O Homem Baile

Engrenagem lubrificada

Steve Hackett revive clássico disco ao vivo do Genesis com banda que beira a perfeição técnica em ótimo show no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O guitarrista Steve Hackett à frente da banda cover Genetics, revivendo a era de ouro do Genesis

O guitarrista Steve Hackett à frente da banda cover Genetics, revivendo a era de ouro do Genesis

Não é ao acaso que uma plateia de idade avançada e comportada se levanta para aplaudir de pé a performance de uma banda ainda no meio da apresentação. Banda que em uma única música consegue sintetizar não só o a carreira do artista de origem, mas todo o subgênero do rock ao qual pertence, com mudanças de andamento e evoluções e solos de cada um dos integrantes, reproduzindo exatamente a peça original, mas com a vibe certa para o quesito “ao vivo”, em um show fadado a gerar lembranças e emoções de parte a parte. É mais ou menos assim que Steve Hackett e a banda Genetics arrematam a suíte “Supper’s Ready”, mais que um clássico do Genesis – repita-se -, uma obra emblemática do rock progressivo de todas as épocas, no palco do Vivo Rio, nesta sexta (18/8).

A turnê – e ainda tem mais essa – reproduz a íntegra do álbum “Seconds Out”, um dos discos ao vivo mais bem sucedidos do planeta, cuja turnê passou pelo Brasil em 1977 (quem foi ao show do Rio no Maracanãzinho não esquece) e que marcou a despedida de Hackett do Genesis antes mesmo de o álbum ser lançado. Diferentemente das outras ocasiões em que esteve no Brasil, em 2018 e 2015 (relembre), desta feita o guitarrista não trouxe uma banda própria, mas se ajeitou junto ao grupo argentino Genetics, cover de Genesis, com quem inclusive já havia tocado em outras oportunidades. Uma banda de longa estrada com integrantes cascudos que realçam a precisão de uma performance instrumental e a capacidade de tocar cada detalhe que aparece nas versões originais das músicas. Não é o ideal, Mister Hackett, mas que funcionou, funcionou.

O vocalista chileno Thomas Price: timbre parecido com o de Peter Gabriel e boas variações vocais

O vocalista chileno Thomas Price: timbre parecido com o de Peter Gabriel e boas variações vocais

Ainda mais quando o vocalista (chileno e dublê de flautista) Thomas Price mostra um timbre vocal bem parecido com o de Peter Gabriel (ok, quem gravou “Seconds Out” foi Phil Collins), e, mais que isso, não derrapa nas difíceis variações vocais que as músicas exigem. E também da dedicação aos detalhes, a ponto de os músicos usarem instrumentos semelhantes aos da época, como o a double neck (baixo + guitarra 12 cordas) de Cláudio Lafalce, e a percussão em espécie de xilofone vertical, usada por alguns segundos em “Supper’s Ready” pelo baterista Daniel Rawsi. E a segunda bateria, em algumas músicas, é um show à parte, seja pela sincronia entre uma em outra, ou em breves duelos como o de “Dance on a Volcano”, esse um pouco mais longo, que faz a plateia aplaudir em regozijo. Destaca-se ainda a proeminência do tecladista Horácio Pozzo, deixando as guitarras em segundo plano em vários momentos. Tal qual Tony Banks, claro.

Com isso, Steve Hackett acaba por aparecer mais como músico de grupo do que como protagonista que realmente é (“um gênio”, diz o batera Rawsi ao apresentá-lo), com pouco realce para uma performance mais arrojada, exceto pelas três músicas instrumentais de sua carreia solo, que abrem a noite. São elas a ótima “Shadow of the Hierophant”, com duas baterias que resulta em um crescente dramático daqueles, conduzido ela guitarra de Hackett; a sensível “Spectral Mornings”, que parece fazer a guitarra falar; e “Ace of Wands”, na abertura da noite. Em todas, Steve Hackett desfila o modo de tocar com as mãos trocadas no braço da guitarra popularizado por Eddie Van Halen, mas que ele fazia bem antes no Genesis. Uma pena que uma carreia solo tão prolífica de quase 30 discos seja colocada de lado em prol do saudosismo. Mas é disso que o povo gosta, é isso que o povo quer.

O baixista Cláudio Lafalce com double neck semelhante usada na época pelo Genesis

O baixista Cláudio Lafalce com a double neck semelhante a usada na época pelo Genesis

E aí é jogo ganho o tempo todo, sobretudo com as mais conhecidas do repertório - e por que não dizer – as mais acessíveis do ponto de vista pop/cativante. É assim que todo mundo canta “I Know What I Like (In Your Wardrobe)”, talhada para as multidões, com um raro duelo entre os dois guitarristas; “The Carpet Crawlers”, avivada pelo verso “We’ve got to get in to get out”, que todo mundo conhece; e “Dance on a Volcano” + “Los Endos”, que arremata o repertório de “Seconds Out” com mais aplauso de pé. De quebra, em um bis até rápido, para um espetáculo que dura pouco mais de duas horas, com mais três músicas, com destaque para “The Lamb Lies Down on Broadway” faixa-título do álbum de 1974, outra muito bem recebida pelo público. Um ótimo desfecho para uma noite fadada a recordações e que cumpriu o seu papel.

Set list completo:

1- Ace of Wands
2- Spectral Mornings
3- Shadow of the Hierophant
4- Squonk
5- The Carpet Crawlers
6- Robbery, Assault and Battery
7- Afterglow
8- Firth of Fifth
9- I Know What I Like (In Your Wardrobe)
10- The Musical Box
11- Supper’s Ready
12- The Cinema Show
13- Aisle of Plenty
14- Dance on a Volcano
15- Los Endos
Bis
16- The Lamb Lies Down on Broadway
17- Fly on a Windshield
18- Broadway Melody of 1974

Toda a parafernália do tecladista do Genetics, Horácio Pozzo, tal qual a de Tony Banks no Genesis

Toda a parafernália do tecladista do Genetics, Horácio Pozzo, tal qual a de Tony Banks no Genesis

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