Inferno e bico seco
Falta de cerveja chama mais a atenção que a performance calorenta e matadora do Brujeria, no primeiro show do grupo “mexico-cubano” no Rio. Fotos: Daniel Croce.
Explica-se que o Brujeria nunca tinha tocado no Rio, mas esteve em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em 2007. O fato foi lembrado por Fantasma, que, antes de “Colas de Rata”, citou a região como uma “favela”, arrancando gargalhadas da plateia. Com boa memória, Fantasma ainda lembrou o episódio do roubo do chapéu de caubói do baixista El Cynico, fazendo subir ao palco a moça que, na época, foi responsável pela recuperação do emblemático item da indumentária cabrone. Sim, os dois vocalistas conversam muito durante os intervalos, num impagável portunhol que contribui para a difusão da temática “tex mex from hell” criada pelo Brujeria. Lembre-se que os integrantes são, na maior parte, integrantes de bandas cascudas do metal extremo, como o baixista do Napalm Death, Shane Embury, aqui convertido no guitarrista Hongo.

'Disfarçado', o baixista do Napalm Death, Shane Embury, se converte no guitarrista Hongo no Brujeria
Entre um discurso e outro, Fantasma recruta “soldados do Brujeria”, adere à inútil campanha “não vai ter Copa”, cita anti-ícones brasileiros do inacreditável MMA e tem o apoio amplo, geral e irrestrito do ressecado público. Talvez se tivesse sacado que não havia cerveja na casa, o assunto teria sido abordado com adesão ainda maior. Mas o show pega fogo mesmo em músicas como “Revolución”, que cita Zapata; na sombria e pesada “División Del Norte”, uma das melhores composições do grupo; e em “Brujerismo”, com um enlouquecimento geral por parte da plateia. Em “Consejos Narcos”, é o público quem assume um dos papéis do curioso diálogo anti cocaína e pró maconha. Tese reforçada na impagável versão para “Macarena”, convertida em “Marijuana” na maior cara de pau, em um playback de encerramento. O fim do show detonou uma frenética corrida aos isopores dos ambulantes na calçada da Lapa.
A abertura coube ao Confronto, que não se absteve de despejar altas de esporro sobre o público, boa parte já familiarizada com o metal engajado do quarteto. O grupo está lançando o novo álbum, “Imortal”, e nada menos que seis músicas novas foram tocadas num set de 45 minutos. Entre elas, destaques para “Eu Sou a Revolução”, introduzida por um belo riff/evolução de guitarra; “1h”, cuja versão do álbum tem a participação de João Gordo, num crossover radical; e “Imortal”, um petardo vomitado sem dó sobre a plateia, que, sim, mostrava grande interação com o quarteto. Citando o Brujeria como referência por cantar em espanhol, ao passo que o Confronto faz metal em português, o vocalista Felipe Chehuan não teve dívidas ao apontar o próprio grupo como “a nova cara do metal latino americano”. É por aí mesmo.Set list completo Brujeria:
1- Verga Del Brujo
2- El Desmadre
3- Colas de Rata
4- No Aceptan Imitaciones
5- Marcha de Odio
6- Hechando Chingasos
7- Ángel de la Frontera
8- La Migra
9- Pocho Aztlan
10- Sida de la Mente
11- Satongo
12- Cuiden a los Niños
13- Brujerízmo
14- Anti-Castro
15- Revolución
16- La Ley de Plomo
17- Cruza la Frontera
18- División del Norte
19- Consejos Narcos
20- Pito Wilson
21- Matando Güeros