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Convertido em banda de classic rock, Slipknot mantém peso e estrutura extremos, em show que segue renovando o público com grande impacto sonoro e visual. Fotos: Daniel Croce.

O caveirão Corey Taylor no comando de mais um show de grande impacto sonoro e visual do Slipknot

O caveirão Corey Taylor no comando de mais um show de grande impacto sonoro e visual do Slipknot

A paisagem de palco não chega a ser exatamente uma novidade, mas, mesmo assim, ainda impressiona. Uma torre de cada lado do palcão com tambores tão grandes que seus tocadores passam quase o tempo todo em cima eles. No fundo, plataformas que cobrem todo o perímetro, com uma bateria nada modesta encaixada bem no meio, e um kit de DJ/teclado de cada lado. No frontispício de cada peça, tudo vira tela como se fosse um gigantesco chroma-key, fora o telão gigante no fundo, em que imagens sinistras são exibidas em meio a labaredas lançadas sem parar no fundo e na frente do coreto. Tudo isso preenchido por nove malucos com trajes cada vez menos uniformes e cada vez mais aterrorizantes que vomitam uma massa sonora de grande impacto e, curiosamente, forte apelo pop. Que show poderia ser esse senão o do Slipknot, ontem à noite (15/12), numa Jeunesse Arena cheinha de dar gosto, no Rio?

O fato de tudo ser mais ou menos bem conhecido não tira, contudo, o impacto da apresentação, mesmo porque a plateia parece bem renovada, o que se salienta na tradicional pergunto do vocalista Core Taylor, acerca de quem está vendo um show da banda pela primeira vez, com resposta bastante numerosa - o que é previsível também pelo predomínio do semblante jovial de boa parte - e pelo fato, também lembrado por Taylor, que fala pra dedéu, de que a última vez do Slipknot por aqui foi no longínquo Rock In Rio de 2015 (relembre), ou seja, há cerca de longos sete anos. Ainda assim, de lá pra cá muita coisa mudou. Além de dois discos a mais no mercado, hoje o Slipknot, segundo a tese de Mick Wall, se converte um uma banda de classic rock, não por causa do som em si, mas pelo fato de viver mais do que construiu no passado do que investir nos lançamentos mais recentes.

Dupla sinistra: o baixista Alessandro Venturella e o guitarrista Jim Root juntos no palco do Slipknot

Dupla sinistra: o baixista Alessandro Venturella e o guitarrista Jim Root juntos no palco do Slipknot

Tanto é assim que Corey Taylor quase pede desculpas para apresentar a única música do disco novo, o satisfatório “The End, So Far”, lançado há menos de três meses; em 2015, para se ter uma ideia, foram cinco de “.5: The Gray Chapter”, a novidade da vez. Ela é “The Dying Song (Time to Sing)”, que mantém a introdução pré-gravada e parece um clássico, a julgar pela participação do público, que se acaba ante ao volume sonoro da banda o tempo todo. Outra duas tidas como novidades são “All Out Life” e “Unsainted”, ambas do bom “We Are Not Your Kind”, disco pré-pandêmico de 2019. A primeira tem reação fria e quase contemplativa, mas também é faixa-bônus de edições raras do disco, e, a segunda, é reconhecida logo de cara e tem em comum com grandes hits da banda a sedução pelo refrão claramente cantarolável, sem a subtração do peso inerente à trajetória do Slipknot. Que, não esqueçamos, nasce tardiamente no derivativo metálico que ficou conhecido como nu-metal; que refrão colante, que nada.

O show antecede o Knotfest, festival da banda que acontece em São Paulo no próximo domingo, e começa na pressão com três músicas emendadas umas nas outras. O volume abissal estoura os tímpanos enquanto o clarão das chamas arde às vistas e chega a aquecer o corpo de quem está mais próximo do palco. Entre elas, “Wait And Bleed”, a primeira de várias pérolas pop da noite, que emblematiza muito bem o ponto ao que a banda chegou no paradoxo esporro dos infernos X peça cativante. E o público, novos e maduros, moças e rapazes, se esbaldam cantando tudo, verso por verso, a plenos pulmões. Outra do mesmo naipe, e que resulta em semelhante reação é “Before I Forget”, encaixada ainda na primeira parte da noite, e com o adicional de perfeita sincronia do ápice do refrão coma as cuspidas de fogo no palco. Com recepção semelhante, pesos pesados como “People = Shit”, “Psychosocial” e “Custer” ficam mais para o final e resultam na abertura de grandes rodas de dança, uma constante durante a noite, aliás.

O DJ Sid Wilson com a indumentária dessa turnê, sempre carregando nos braços sua bela companhia

O DJ Sid Wilson com a indumentária dessa turnê, sempre carregando nos braços sua bela companhia

Não tem bateria giratória até ficar de cabeça pra baixo. Não tem os tocadores de tambor partindo para o mosh no meio do povão. Nem tem ao menos Corey Taylor subindo na grade que separa o público do palco. Mas tem a indumentária personalizada, incluindo o DJ Wilson vestido de morte carregando uma cabeça decapitada pra cima e pra baixo; Taylor mandando o público se sentar pra depois pular (pra que, gente?), que o fã, entretanto, adora; tem gente sobrando no palco, sendo o Slipknot a banda com maior número de integrantes desnecessários desde os Titãs; e assim a noite vai se desenhando como inesquecível (e é mesmo!) pra todo mundo. E com um público que, diferentemente do repertório do show, se renova em grandes quantidades, o que, vamos e venhamos não é nada fácil. Ponto pra eles.

Set list completo:

1- Disasterpiece
2- Wait and Bleed
3- All Out Life
4- Sulfur
5- Before I Forget
6- The Dying Song (Time to Sing)
7- Dead Memories
8- Unsainted
9- The Heretic Anthem
10- Psychosocial
11- Duality
12- Custer
13- Spit It Out
Bis
14- People = Shit
15- Surfacing

O tamanho dos tambores em que se apoia Shawn 'Clown' Crahan, que também recebem projeções

O tamanho dos tambores em que se apoia Shawn 'Clown' Crahan, que também recebem projeções

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