Monstro restaurado
Em apresentação renovada cênica e musicalmente, Slipknot segue firme na dianteira da música pesada contemporânea. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Ariel Martini (1, 2 e 4) e Fernando Schlaepfer (3).

Monstro falante: o carismático vocalista Corey Taylor exibe seu novo figurino no palco do Rock In Rio
Do tal disco novo, o representativo “.5: The Gray Chapter”, lançado este ano, “The Devil in I” é de longe a que mais causa impacto na plateia. Não só pela força da canção em si, uma das mais porradas desse trabalho e que funciona muito bem ao vivo, mas por ser a primeira em que o discurso do vocalista Corey Taylor funciona. Suas falas chamando o público de “família” se tornariam repetitivas e enfadonhas durante toda noite. “Sarcastrophe” é outra das novas que vai bem, mas aí não conta muito porque, na abertura, o impacto visual atropelaria de uma forma ou de outra: uma cabeça de demônio gigante sobre a bateria, chamas lançadas que nunca se apagam em uma verdadeira grelha de churrasco gigante que cruza o palco, e os tradicionais, porém não menos impactantes kits de percussão erguidos por sistemas pantográficos, um de cada lado do palco. Tá bom pra você?
Mas tem mais. Tem a capacidade que o Slipknot desenvolveu de criar canções de fácil aceitação, com forte sotaque pop, sem retroceder um milímetro dentro da proposta pesada, horrorizante e “from hell” que o grupo adota desde os primórdios, quando ainda era tido como braço oficial do nu-metal. Por isso o crescimento para todos os lados, fora de eventuais fronteiras de subgêneros, com o noneto(!) espertamente usando tudo que é de ruim no mercado musical a seu favor. Não é ao acaso que músicas como a chicletuda “Before I Forget” e “Wait and Bleed”, só para citar duas, curiosamente separadas pela sugestiva “Killpop”, outra das novas, sejam cantadas a plenos pulmões, e não é de hoje. E aí o discurso de vencedor e a favor do heavy metal como um todo usado por Taylor em determinado momento da noite faz todo o sentido. Mas família, não, né?No contrapeso, o leque de fãs se abre tanto que uns passam a ter comportamento de seguidores de outros grupos que descambam para a fé cega. Imaginem que durante “Spit It Out”, o público já sabe que é hora em que o vocalista pede para todos na plateia se abaixarem para depois pular, e o processo já começa no momento certo, tudo ensaiadinho. E ai de quem ficar de pé. Sinal de alerta nível Los Hermanos ligado. Em “Duality” - aí, sim -, um momento inesperado, quando Corey Glover faz a multidão cantar “Parabéns Pra Você” para o palhaço Clow, que fez aniversário na véspera. Entre os integrantes, os olhos se voltam para o novo baixista, Alessandro Venturella, que não compromete e tem até um mínimo momento de dedilhado solo, e para o baterista Jay Weinberg. Com o pedigree de ser filho Max Weinberg, da banda de Bruce Springsteen, ele manda muito bem e deixa na história o genial Joy Jordison que saiu em 2103. Só falta o deslocamento da bateria que acontecia de outras épocas.
Quem segue firme e forte, e tocando muito bem é o guitarrista Mick Thomson, cujos solos renovam a força da técnica em meio à desordem generalizada que é o que interessa em um show do Slipknot. Ele debulha certinho na boa “Vermilion” e em “Psychosocial”, que tem um lindo cantarolar por parte do público, só para ficarmos em dois exemplos. Ressalta-se que a inclusão das músicas novas em nada subtrai a força do repertório escolhido pelo grupo, que não mexeu em pontos nevrálgicos do show, no que se percebe na reação do povaréu, seja nas intermináveis e felizes rodas de pogo ou nos punhos cerrados dos demais. Mas que isso, o lançamento do novo álbum e essa subsequente turnê com boa repercussão renova uma banda que quase encerrou as atividades depois da morte do baixista Paul Gray. Saber se renovar sem deixar para trás premissas e convicções. É por aí se compreende essa horda desordenada chamada Slipknot.Set list completo:
1- Sarcastrophe
2- The Heretic Anthem
3- Psychosocial
4- The Devil in I
5- AOV
6- Vermilion
7- Wait and Bleed
8- Killpop
9- Before I Forget
10- Sulfur
11- Duality
12- Disasterpiece
13- Spit It Out
14- Custer
Bis
15- (sic)
16- People = Shit
17- Surfacing
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