Deu fé
Circo Voador lotado atesta a importância da segunda fase do Angra, em autodenominado ‘novo renascimento’. Fotos: Gustavo Maiato.
Retrato que de cara gera reflexões. Primeiro que da formação que gravou “Rebitrh”, de 2001, restam apenas Rafael Bittencourt, um dos guitarristas daqueles duelos citados ali em cima, e o baixista Felipe Andreoli. Depois, que tocar a íntegra de um disco, desde que esse artifício é usado, passa por músicas que podem não funcionar ao vivo. E, por último, a eterna dúvida: teria a fase marcada por Edu Falaschi nos vocais tanta representatividade quanto a clássica, com o saudoso Andre Matos, primeiro e único, à frente? O começo, com a extraordinária “Nothing to Say”, reforça o dilema, mas a tese se esvai quando “Nova Era”, a terceira da noite, abre a sequência “de cabo a rabo” das 11 faixas de “Rebirth”: é de impressionar a mudança de postura do público que se mete em ajustadas – o salão tá lotado - rodas de dança daquelas que nem sempre se vê, em se tratando de metal melódico.
Público que, de fato, não está nem aí pra reflexões cabeçudas em torno de tudo o que já se passou nesses agitados 31 anos de Angra. O que eles querem eles têm e endossam enfaticamente todo o repertório do álbum aniversariante, reforçando, sim, a relevância do período. E não é só em hits do naipe de “Acid Rain”, a tal em que rola o duplo duelo guitarras Rafael versus Marcelo Barbosa, ou da faixa título do álbum, ou ainda na belíssima “Heroes Of Sand”, com o baixo pulsando no peito. Mesmo faixas menos celebradas, como a diferentona “Judgement Day”, ainda que pouco reconhecida; a grooveada “Unholy Wars”, aquela em que Guga Machado arrebenta na percussão; ou o desfecho com “Visions Prelude”, espécie de frustrada tentativa de reviver “Moonlight”, música do Viper que é chave para se entender a criação do Angra, aqui em um momento Pavarotti de Fabio Lione, não deixam a peteca cair.Rafael Bittencourt não perde a deixa em uma fala de encerramento e vê o período pós pandemia como um “novo renascer”, fazendo a conexão com “Rebirth” - faz sentido -, ao mesmo tempo em que promete um novo álbum em que reflete sobres essas questões. Mas há outras novidades na terceira parte do show, porque em vez de salpicar a noite com clássicos da fase inicial, que no fim das contas só contribui com reles três músicas, a banda corajosamente aponta para uma representante de cada um dos outros discos. O que revela momentos surpreendentes como em “The Rage Of The Waters”, agregada a uma estarrecedora performance de Andreoli, ou na baba “Bleeding Heart’, que funciona bem ao vivo, mas também em outros constrangedores, como o encerramento flácido proporcionado pela falta de pegada de “Upper Leves”.
Tudo corrigido no desfecho – e no show de rock é a última impressão a que fica – no solitário bis com “Carry On”, inesgotável fonte de prazer para fãs de todas as idades, épocas, fases e formações do Angra. Vale ainda o registro de que dessa vez não teve o terrível piti de Fabio Lione (relembre 2018), que segue sofrendo para atingir as notas mais altas, e da performance animal do esbelto batera Bruno Valverde, cada vez melhor. No fim das contas – repita-se - fica a sensação de reconhecimento da segunda fase da banda, e de que o Angra é uma das poucas dessas formações longevas e muito alteradas, ao menos nessa turnê, que não apelam para os clássicos para manter a atenção no mercado e a fidelidade dos fãs. Ponto pra eles!“Alecrim! Alecrim! Alecrim!” Era o que aparentemente bradavam os fãs da banda Allen Key, na abertura. Fãs, sim, porque, pouco depois da 20h, verdadeira matinê em se tratando de Circo Voador, já tinha gente à beça para ver o grupo. Mas o show demorou um pouco para engrenar, o que só acontece na parte final, mesmo considerando que o som da banda, confuso, se aproxima de um metal de baixo impacto meio sem razão de se ser, em que pese a figura meio caricata da vocalista Karina Menasce, identificada com subgêneros menos nobres da música. Nada que abalasse a animação dos tais fãs, que, se não cantam junto, atendem às súplicas do palco para bater palmas e erguer os braços direitinho. E fica a dica: o Judas que importa é o Priest.
Set list completo Angra:1- Nothing to Say
2- Black Widow’s Web
3- Nova Era
4- Millennium Sun
5- Acid Rain
6- Heroes of Sand
7- Unholy Wars
8- Rebirth
9- Judgement Day
10- Running Alone
11- Visions Prelude
12- The Course of Nature
13- Metal Icarus
14- The Shadow Hunter
15- The Rage of the Waters
16- Bleeding Heart
17- Upper Levels
Bis
18- Carry On
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