Massa bruta
Cannibal Corpse costura músicas novas e clássicos com formação renovada, em mais um show impecável no Rio. Fotos: Daniel Croce.
Sim, a dobradinha “Stripped, Raped and Strangled” e “Hammer Smashed Face” vem de longe, da fase em que Corpsegrinder sequer tinha entrado no lugar do Chris Barnes na banda. A segunda, mais afamada ainda por aparecer com a banda tocando ao vivo no filme “Ace Ventura – Um Detetive Diferente”, estrelado por Jim Carrey, é o arremate mais que perfeito para a noite, com o público cantarolando – acreditem – aquele “ôôô” inexplicável sob vozes de arame farpado e um esporro dos diabos, tudo a custa de um riff matador que – repita-se - já faz parte da história. Não chega a ser uma novidade – foi mais ou menos assim em 2018, 2015 e 2013; clique para relembrar -, mas não é o inesperado que convence nessas horas, e sim justamente aquilo que se espera de uma banda como o Cannibal Corpse, e que ela definitivamente não pode negar.
Novidade mesmo é o guitarrista Erik Rutan, na banda desde o ano passado, que entrou no lugar de Pat O’Brien, hoje cumprindo pena depois de um surto de fúria envolvendo roubo, agressão e porte ilegal de armas e munição. Rutan, produtor de mão cheia da música extrema mundial (Krisiun, Six Feet Under e o próprio Cannibal) assume todos os solos com incrível naturalidade, em que pese as passagens intrincadas das músicas da banda, seguramente uma das mais técnicas do death metal mundial. Ele brilha com mais intensidade nas três novas apresentadas, todas do disco mais recente, “Violence Unimagined” lançado em 2021, o primeiro em que participa, inclusive compondo algumas das 11 faixas.“Inhumane Harvest”, com um trabalho de bateria impressionante de Paul Mazurkiewicz, o que, vamos e venhamos, não chega a ser uma novidade, é a que chama mais a atenção, mas a dobradinha “Necrogenic Resurrection”/“Condemnation Contagion” já na segunda metade da noite, também não deixa o pique do show cair. As outas 15 músicas de um set list que já foi maior em outras turnês pelo Brasil, refletem certo esforço para que todos os álbuns sejam representados, o que por pouco não acontece. Em meio a pancadaria sonora generalizada e até física no meio do salão, pode parecer que nada disso faz diferença, mas é notória a expectativa, a cantoria e o aumento da agitação dos die hard fans em músicas como “I Cum Blood”, de longe a mais aclamada, “A Skull Full of Maggots”, ou mesmo na ancestral “Gutted”.
Mais do que um show a mais do Cannibal Corpse, a noite mostra que mesmo dentro de um nicho tão específico – o death metal semi-splatter da Flórida, embora sejam de Nova York – e passando por troca de integrantes, é possível seguir em frente com músicas novas (e boas!), costuradas com o repertório clássico. E sem deixar de usar artifícios manjados como o da falsa última música no final do show, mas que o público adora. Na abertura, o Test, o duo mais pesado do Brasil, mostra uma face razoavelmente diferente, mais experimental, revezando momentos de silêncio e pequenos barulinhos, sobretudo do baterista Barata, com o esporro habitual. Só um passo adiante para uma banda que não subtrai o apuro técnico ao fazer música extrema. Não por acaso, exatamente como o Cannibal Corpse.Set list completo Cannibal Corpse:
1- The Time to Kill Is Now
2- Scourge of Iron
3- Inhumane Harvest N
4- Code of the Slashers
5- Fucked With a Knife
6- The Wretched Spawn
7- Gutted
8- Kill or Become
9- I Cum Blood
10- Evisceration Plague
11- Death Walking Terror
12- Necrogenic Resurrection N
13- Condemnation Contagion N
14- Unleashing the Bloodthirsty
15- Devoured by Vermin
16- A Skull Full of Maggots
17- Stripped, Raped and Strangled
18- Hammer Smashed Face
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