O Homem Baile

Reparação

Show vibrante e completo do Red Hot Chili Peppers no Rock In Rio conserta estrago feito no encerramento da edição anterior. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Fernando Schlaepfer.

O vocalista do Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, faz careta, com o batera Chad Smith no fundo

O vocalista do Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, faz careta, com o batera Chad Smith no fundo

Pode uma banda escalada em duas edições seguidas do Rock In Rio fazer um show completamente diferente de uma para a outra (relembre), mesmo sem material novo para mostrar? Pode. E é exatamente isso que acontece na retomada dessa edição do festival nesta quinta (3/10), com o Red Hot Chili Peppers. Seria o aniversário do sempre questionado guitarrista Josh Klinghoffer, que faz 40 anos, mas não quer crescer? Seria o acréscimo de seis números ao repertório em relação ao show de 2017, com citação fugaz ao Led Zeppelin, estampado na camiseta de Anthony Kiedis, resultando em quase duas horas de show? Seria a inclusão de “Just What I Needed”, do The Cars, em homenagem póstuma à Ric Ocasek? Ou tudo isso junto e muito mais?

O fato é que, logo de início, na improvisação de aquecimento que abre o show, o simples bater da baqueta de Chad Smith na caixa da bateria, com o som do Palco Mundo em volume generoso e encorpado, é a senha para uma apresentação memorável do Red Hot, a melhor dos últimos tempos no Brasil, justamente para uma banda dada a oscilações de performance; é clássico o fiasco de 2001, nesse mesmo Rock In Rio. Esqueçamos com força para realçar que o baixista e figuraça Flea e Smith, duas virtuoses explícitas em seus instrumentos, comandam a noite como se tudo fosse decidido ali na hora, sendo que boa parte das músicas começam com improvisações/arranjos diferentes feitos a partir deles, até mesmo em casos de super hits, como “Californication”, onde mesmo o desfecho ganha ares de balada pesadaça nunca antes revelados.

A banda fazendo do enorme Palco Mundo um espaço reduzido para tocar com improvisações

A banda fazendo do enorme Palco Mundo um espaço reduzido para tocar com improvisações

Por isso os melhores momentos, em um palcaço de não sei quantos metros de boca, acontecem em um modelo reduzido que gira em torno do kit de bateria, onde, já há algum tempo, temos um percussionista, um multi-instrumentista e até um segundo baixista (dois baixos!) para coreografar “Go Robot” hilariamente com Flea, justamente antes de “Californication”. E Klinghoffer se encaixa bem nessa espécie de “meio de produção freestyle”, em que a música combinada flui certinho – repita-se – como se fosse fruto de improvisação; até certo ponto é mesmo. E ainda, vamos e venhamos, o guitarrista, com 10 anos de casa, já não vive mais à sombra de ninguém. Se Anthony Kieds já não e mais aquela granada ambulante de outras épocas, segue com boa performance vocal, e canta parado no pedestal do microfone, exceto em momentos do tipo “espalha brasa”, em músicas como “By The Way”, que parece inofensiva, mas não é, e “Pea”.

O que desfaz aquele conceito de que o Red Hot, de banda inventiva e amalucada quando surgiu, se converteu em grupo de músicas lenta e baladas insossas de FM, muitas delas omitidas dessa vez – “Under The Bridge”, não, né? O que é verdade, mas, agora, se mostra um quarteto em uma terceira fase, a de rever sua obra a partir de novos arranjos/improvisos, de modo que a diversão que sai do palco sirva também para quem a produz. O que também permite que sigam no repertório – como tirá-los? – hits como a própria “By The Way” e “Goodbye Angels”, já tradicional no bis, e clássicos absolutos do cancioneiro RHCP como “Give It Away” e sua indefectível linha de baixo, para um desfecho como carimbo de satisfação do cliente, e a ótima “Aeroplane”, nem sempre incluída nos shows mais recentes, e que precisa ser mantida.

O baixista e figuraça Flea estala as cordas: uma das molas criativas do Rede Hot Chili Peppers

O baixista e figuraça Flea estala as cordas: uma das molas criativas do Rede Hot Chili Peppers

Sem muito estardalhaço, o telão do fundo do palco contribui com grafismos criados com treliças de iluminação colocadas em sua frente, mantendo luz forte, mas com várias configurações geométricas. O repertório é razoavelmente abrangente ao percorrer sete álbuns da banda, contando com três faixas do mais recente, “The Getaway”, de 2016, com destaque para a já citada “Go Robot”, mas também por sacar pérolas como “Sikamikanico”, quase inédita nos palcos, tocada “de presente” para o aniversariante Josh Klinghoffer. O guitarrista, no bis, manda sozinho uma versão tosca para “I Don’t Wanna Grow Up”, de Tom Waits, eternizada pelo Ramones. E Anthony Kieds ainda dedica “The Power of Equality” à Amazônia, possivelmente ligado nos últimos acontecimentos, em brando protesto. Um show que redime o grupo da apresentação de 2017, e – o mais importante – faz todo mundo ir embora pra casa com um sorrisão no rosto.

Set list completo:

1- Intro Jam
2- Can’t Stop
3- The Zephyr Song
4- Dark Necessities
5- Dani California
6- Hey
7- I Wanna Be Your Dog/Dazed And Confused
8- Right on Time
9- The Adventures of Rain Dance Maggie
10- Pea
11- Sikamikanico
12- Go Robot
13- Californication
14- What Is Soul?
15- Just What I Needed
16- Aeroplane
17- The Power of Equality
18- Soul to Squeeze
19- By the Way
Bis
20- I Don’t Wanna Grow Up
21- Goodbye Angels
22- Give It Away

Vista geral do palco do RHCP: Flea, Chad Smith, Anthony Kiedis e o guitarrista Josh Klinghoffer

Vista geral do palco do RHCP: Flea, Chad Smith, Anthony Kiedis e o guitarrista Josh Klinghoffer

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