Ordem na casa
Exilado do Palco Mundo, Whitesnake volta o Rock In Rio quase 35 anos depois e vigor da atual formação impressiona. Fotos: Vinicius Pereira.
Reconheça-se que foi no mínimo deselegante por parte do Rock In Rio trazer o Whitesnake de volta e deixá-lo fora do Palco Mundo, o principal. E ainda fazer a lambança de colocar o grupo em um dia inóspito, sendo que os contemporâneos que também estiveram em 1985, Iron Maiden e Scorpions, encabeçam a chamada noite do metal, na próxima sexta, dia 4. E, mesmo como atração principal do Palco Sunset, não havia tempo parar tocar o set inteiro dos shows da atual turnê. Mas palco é palco e o Whitesnake chegou colocando ordem na casa, com um poder de ação quase humilhante para as atrações anteriores. Já na introdução, daquelas que parecem encerramento de música, com os instrumentos distorcidos e o volume nos píncaros, o público se deu conta de que o bicho iria pegar.
Mesmo porque o grupo, sempre com mudanças de integrantes, está com uma das melhores formações dos últimos tempos e tocando redondinho, como se viu uma semana antes no Rockfest, em São Paulo (relembre). A dupla de guitarristas Reb Beach e Joel Hoekstra está super entrosada, enfileirando solos, quase sempre os dois em cada música. Em “Trouble Is Your Middle Name”, uma das novas, eles deitam e rolam com intensa alegria. O monstruoso baterista Tommy Aldridge segue com impressionante vigor e, meio que de surpresa, o caçula Michele Luppi realça vários trechos em que o teclado parece indispensável ao hard rock da banda. Todos, incluindo o baixista Michael Devin, fazem necessários vocais de apoio. No repertório, três pedradas do disco “Slide It In”, da época do Rock In Rio original, outras três do homônimo, de 1987, um blockbuster da carreia, e ainda duas do mais recente, “Flesh And Blood”, que saiu esse ano.Assim – e vale enfatizar – um show do Whitesnake só pode dar errado se a voz de Coverdale, 68, não suportar a tarefa de cantar com afinação e no tom certo por cerca de uma hora. E, seja pelas mudanças climáticas de última hora ou o cansaço da turnê - ele está no Brasil ha mais de 10 dias -, Mr. Feeling parece acabrunhado ao andar de lado a outro do palco, manipulando como poucos o pedestal do microfone, uma de suas marcas registradas. Mas ele aguenta firme até o desfecho sensacional com “Burn”, clássico da MKIII do Deep Purple, que liderou, quando o público enlouquece de vez. Antes, passou pelo teste de fogo de é “Here I Go Again”, da fase pré-estouro mundial, regravada em 1987, e deitou e rolou com “Love Ain’t No Stranger”, aquela mesmo do comercial de cigarros, quando cigarro era legal.

Coverdale canta à frente do baterista Tommy Aldridge; ambos estiveram na edição original do Rock In Rio
Set list completo:
1- Bad Boys
2- Slide It In
3- Love Ain’t No Stranger
4- Hey You (You Make Me Rock)
5- Slow an’ Easy
6- Trouble Is Your Middle Name
7- Solo de bateria
8- Is This Love
9- Here I Go Again
10- Still of the Night
11- Burn
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