O Homem Baile

Faca nos dentes

Em prévia do Rock In Rio, Whitesnake se supera e faz o melhor show do Rockfest. Fotos: Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts.

Em grande noite, David Coverdale lidera o show do Whitesnake com o público do Rockfest nas mãos

Em grande noite, David Coverdale lidera o show do Whitesnake com o público do Rockfest nas mãos

Quando soube que, em plena véspera de aniversário, teria à disposição um palco com uma passarela daquelas que atravessa o meio do púbico, seguramente David Coverdale esfregou as mãos. Porque, sem a menor cerimônia, ocupou a região quase que solitariamente, deixando os outros cinco integrantes do Whitesnake lá atrás, como espectadores de luxo de um dos maiores frontman do rock em todas as épocas e lugares. Coverdale não faz por menos: manipula como poucos o pedestal do microfone, coloca o público para cantar, interage o tempo todo com o carisma que lhe é peculiar, recebe presentes e bandeiras do Brasil e – o mais importante – está em uma das noites em que o seu gogó funciona que é uma beleza, considerando o amplo espectro para quem completa 68 primaveras.

O show é o penúltimo do Rockfest, espécie de braço hard rock do Rock In Rio que aconteceu na noite deste sábado (21/9), no Allianz Parque, em São Paulo, para um público estimado em 37 mil pessoas. Tocaram ainda Scorpions (veja como foi), Helloween, Europe (único não escalado para o festival no Rio) e o Armored Dawn. Só que não teve pra ninguém. Com formação bem integrada e na ponta dos cascos, o Whitesnake matou a pau. Para se ter uma ideia, de cara são cinco músicas emendadas umas nas outras sem “boa noite” ou “São Paulo, we love you” em meia hora de som alto e bem equalizado batendo forte no peito. Entre elas tem até uma das novas, “Hey You (You Make Me Rock)”, mas de assimilação fácil já no título/refrão, que segura a onda entre os clássicos.

Joel Hoekstra empunha a guitarra com propriedade durante o ótimo show do Whitesnake

Joel Hoekstra empunha a guitarra com propriedade durante o ótimo show do Whitesnake

Ela faz parte do álbum “Flesh & Blood”, lançado em maio, o primeiro de inéditas com essa formação, que tem o guitarrista Joel Hoekstra no lugar de Doug Aldridge. O disco cede outras duas ao repertório do show, “Shut Up & Kiss Me” e “Trouble Is Your Middle Name”, ambas bem no Whitesnake standard, com refrães talhados para serem cantados pela massa, e é isso o que acontece. Inserir músicas novas em um show é sempre louvável, afinal de contas é para isso que um disco de inéditas é gravado, mas no fim das contas tal procedimento tem um custo, em um tempo de aproximadamente 75 minutos. E ele é caro em ausências como “Fool For Your Loving”, “Crying in the Rain” e muitas outras da fase blues, por assim dizer, e de momentos mais recentes, como o do bom disco “Forevermore”, o antecessor de “Flesh & Blood”, de 2011. Mas eis aí a limonada que se poder fazer com ama banda que desafia ano após ano a ação do tempo.

Assim sendo o copo cheio tem performances marcantes de “Love Ain’t No Stranger”, um clássico dos clássicos não só do hard rock, mas do imaginário de muitas gerações representadas em um público bastante diversificado. Ou “Slow an’ Easy”, com aquele primor de arranjo de bateria que traz a saudade de Cozy Powell, que partiu cedo demais, muito embora Tommy Aldridge espanque os tambores com propriedade. Ele ainda faz um solo daqueles de cair o queixo da massa, incluindo o já tradicional trecho em que dispensa as baquetas e bate com as mão limpas, e tudo isso aos 69. No blockbuster “Is This Love”, uma das baladas mais babas de que se ouviu falar, Hoekstra desfila em solo pela passarela, sempre escorado por Reb Beach, o mais antigo dessa encarnação mais recente, de 2002 para cá. Registre-se a descrição do baixista Michael Devin, e como o tecladista Michele Luppi ajuda a preencher o som como um todo, atuando ainda com ótimos vocais de apoio.

Tommy Aldridge e seu kit de bateria: o solo teve o tradicional espancamento de tambores com as mãos

Tommy Aldridge e seu kit de bateria: o solo teve o tradicional espancamento de tambores com as mãos

Mas a estrela da noite todos sabem quem é, e que esse tipo de show só dá errado se a voz de Coverdale falhar; e não seria a primeira vez. Só que – bingo! – o Mr. Feeling aparece no palco esbanjando vigor físico e vocal, e o resultado é que, no cômputo geral, o Whitesnake acaba deixando pra trás as demais atrações do Rockfest. A performance para “Burn”, sempre no encerramento, onde o cansaço pesa, é uma das melhores da banda nos últimos tempos. Em “Here I Go Again” – que música! - o esforço é grande, mas o visível malabarismo para manter o tom, mesmo em notas ainda altas, é recompensador. “Bad Boys” é a encarregada da abertura no gás, e “Give All Your Love Tonight” é umas das mais adoradas pelo público. No Rock In Rio, no sábado que vem (28/9), o grupo bem que poderia fazer um set especial – 1985 feelings -, mas, se repetir o atropelo do Rockfest, não tem erro.

Set list completo:

1- Bad Boys
2- Slide It In
3- Love Ain’t No Stranger
4- Hey You (You Make Me Rock)
5- Slow an’ Easy
6- Trouble Is Your Middle Name
7- Solo guitarra
8- Shut Up & Kiss Me
9- Solo bateria
10- Is This Love
11- Give Me All Your Love
12- Here I Go Again
13- Still of the Night
14- Burn

O imparável David Coverdale com o telão mostrando a marca que ele carrega em todos esses anos

O imparável David Coverdale com o telão mostrando a marca que ele carrega em todos esses anos

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