Esquisitos, graças a Deus
Estranho no ninho no Rock In Rio, Weezer mantém modo nerd de ser com muitos covers e quase a íntegra do cultuado álbum de estreia. Fotos: Vinicius Pereira.
Qual nada. Mesmo porque, quando subiram meio sem jeito no Palco Mundo no último sábado (28/9), Rivers Cuomo e sua turma estavam dispostos a botar pra quebrar, sim, mas à maneira deles. Um modo nerd de ser que impede inclusive que as músicas dessas bandas sejam reproduzidas como decalques das versões originais, de modo que muitas delas mal foram reconhecidas pelo público. E, ademais, todas, exceção feita a “Lithium”, sacada de última hora para homenagear Dave Grohl, que tocaria depois com o Foo Fighters (veja como foi), fazem parte do “Teal Album”, um disco só de releituras, lançado no início do ano, junto com o “Black Album”, esse de inéditas, que curiosamente nada cede ao repertório.
O que de fato pouco importa se consideramos que o disco de estreia da banda, o “Blue Album”, de 1994, é tocado quase que na íntegra – oito de 10 músicas -, para a alegria dos fãs raiz mais dedicados de longa data que esperaram esse tempo todo para ver o Weezer tocando ao vivo. E que somado a isso a inclusão de uma música inédita, “The End Of The Game”, que deve fazer parte do próximo trabalho, “Van Weezer”, a ser lançado no ano que vem, tem-se o set list mais estranho e desajeitado de todos os tempos. Parece confuso (e é) e esquisito assim como o próprio Weezer, que apesar de todo o entorno, tem hits e grandes momentos de sucesso no mercadão da música que seguem desafiando a infidelidade indie; não custa lembrar que, no fim das contas, o indie só é solidário no Radiohead.Ou quem, em sã consciência esperava, a essa altura do campeonato, ver um início com “Buddy Holly”, totalmente cantarolável pelo público, ainda que com Cuomo tomado por uma expressão de pânico de dar dó? O show quase acaba sem que ele percebesse que podia se aproximar da beirada do palco e até descer pela passarela que divide o púbico ao meio sem ser repreendido, o que só acontece lá pela metade do show, na ótima “Island at the Sun”. A música, de emocionante levada, tem surpreendente ênfase nas guitarras, com solo mais arrojado e tudo. Característica visível também em “Paranoid”, do Black Sabbath (cantada pelo guitarrista Brian Bell), por motivos óbvios, mas também em várias outras partes do show, incluindo a nova “The End Of The Game”, repleta de riffs pesados; estaria o Weezer em sua fase mais enguitarrada de todas? O arremate esporrento de “Undone - The Sweater Song” que o diga.
Grandes momentos da noite também aparecem em “Hash Pipe”, quando a qualidade da composição e a sutileza dos arranjos, mesmo ao vivo, falam por si; a desalentada “In The Garage”, com inclusão da gaitinha e tudo, e outra citação ao Foo Figthers, praticamente a trilha sonora de quem começa uma banda sem ser ouvido; “My Name Is Jonas”, com Rivers Cuomo, Brian Bell e o baixista Scott Shriner tocando juntos na frente do palco; e até em uma irresistível versão para “Buddy Holly”, sim, repetida no bis, com os quatro integrantes cantando à capela em volta do microfone. A imagem mais marcante, contudo, é a de Cuomo visivelmente emocionado com a situação toda, ao deixar o palco depois da melodramática “Say It Ain’t So”, opção nada vistosa para um encerramento de show. Mas é o Weezer, né? Esquisitos, graças a Deus.Set list completo:
1- Buddy Holly
2- Beverly Hills
3- Pork and Beans
4- Africa
5- Holiday
6- In the Garage
7- Take On Me
8- Island in the Sun
9- Perfect Situation
10- Happy Together
11- The End of the Game
12- Undone - The Sweater Song
13- My Name Is Jonas
14- Paranoid
15- Hash Pipe
16- Surf Wax America
17- Lithium
Bis
18- Buddy Holly
19- Say It Ain’t So
Tags desse texto: Rock In Rio, Weezer