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No Rock In Rio, Dave Matthews Band comprova que é possível cativar público com música bem tocada. Fotos: Vinicius Pereira.
Porque, se deixar músicos cascudos como esses soltos no palco, tocando espécie de fusion freestyle, a coisa vai longe e, do nada, escapa para o egocentrismo e, quando se vê, cada um está tocando para o próprio umbigo. É quando entra, por exemplo, um reinterpretação de “Sledgehammer”, famosa pelo videoclipe então futurista de Peter Gabriel, que chama a atenção mesmo em um lugar de gente dispersa como o Rock In Rio. Mais orgânica e calcada no funk, realça mais da canção em si do que a original, sem, no entanto, que se queira evidenciar semelhanças. Ou uma espécie de mash up ao vivo com o famoso riff de “Black in Black”, do AC/DC, com a letra de “Stayin’ Alive”, dos Bee Gees, precedida de “Sexy MF”, do Prince. Falando assim parece coisa de gosto duvidoso, mas funciona que é uma beleza.
Não é, contudo, esse punhado de citações o prato principal do show. O que conta mais é o entorno das músicas, um apanhado de toda a carreia da DMB, de uns 10 anos para trás, com o objetivo de se divertir pela música, e – o mais importante - cativar o público em um espaço de tempo curto à espera do atropelo de megahits do Bon Jovi (veja como foi), que fecharia a noite. Assim, é bom ver o desenrolar de músicas como “Too Much”, em que a dupla Rashawn Ross (trompete) e Jeff Coffin (saxofone), em que pese o incômodo desses instrumentos no rock, descambam para um jazz suingado e parecem despertar os demais integrantes para uma improvisação contagiante. Ou na inventiva linha de baixo de “Why I Am”, que conduz a um ótimo tema, incluindo desfile de guitarras e com pegada pop e assaz atraente, refrão grudento e tudo.
Matthews por si só, e positivamente, parece sempre atrapalhado pelos próprios violões e desajeitado em trejeitos bem peculiares, e se sai bem cantando trechos de músicas que exigem fôlego em dia. Caso de “Shake Me Like a Monkey”, um pop funk de branco feito pra dançar enfatizado pelos sopros e que tem o efeito desejado no meio do povão, com os vocais bem atraentes sobre a melodia. Ao baterista Carter Beauford, que se faz de morto, vem um solo técnico e gostoso de se ver em “Grey Street”, música também revestida pelos sopros e pela vocalização contínua de Dave Matthews, aqui com um violão de 12 cordas. Curiosamente o arremate do show é com “Ants Marching”, toda recheada de mini solos e com Dave possesso circulando pelo palco, assim como aconteceu há 18 anos, ali do lado, no solo sagrado do Rock In Rio original, na edição de 2001.Set list completo:
1- Don’t Drink the Water
2- So Much to Say
3- Too Much
4- Louisiana Bayou
5- Crash Into Me
6- Sledgehammer
7- Grey Street
8- Shake Me Like a Monkey
9- Why I Am
10- Jimi Thing
11- Sexy M.F.
12- Back in Black/Stayin’ Alive
13- Ants Marching
Tags desse texto: Dave Mathews Band, Rock In Rio