Gente grande
Com robustez, Foo Fighters revê história, atualiza repertório com performances alongadas das músicas e faz o primeiro grande show do Rock In Rio 2019. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Renan Olivetti (1 e 2), Fernando Schlaepfer (3) e Wesley Allen (4).
É uma noite realmente fadada a comparações e a cabeça de Grohl vai longe, afinal, foi em 2001, há 18 anos – não 17, Grohl! – que o Foo Fighters, ainda iniciante, fez o primeiro show na América do Sul, nesse mesmo festival, abrindo para o REM em outro momento histórico (fotos aqui e aqui). “Tínhamos bem menos músicas na época”, relembra Grohl antes de “My Hero”, uma das tocadas na ocasião, quando o FF já tinha três discos lançados, mas ainda vivia à sombra do sucesso planetário do Nirvana. Banda lembrada também pelo vocalista em uma versão especial de “Big Me”, toda trabalhada na emocionalidade, quando vêm à tona as lembranças do inesquecível Hollywood Rock de 1993, um dos maiores shows do Nirvana. “Chorei no backstage ao ouvir o Weezer tocando ‘Lithium’”, admite, em referência a versão apresentada por Rivers Cuomo e banda no show que antecedeu ao FF; mais um pouco e de forma inédita uma música do Nirvana entraria no set.
Mas estamos em 2019, o disco mais recente do Foo Fighters é o bom “Concrete Gold”, lançado há dois anos – diz Grohl que a banda entra em estúdio ao voltar pra casa -, e é dele naturalmente que saem 4 das 17 músicas do show. São as mesmas três – “The Sky Is a Neighborhood”, “Sunday Rain” e “Run” - tocadas no show do ano passado, no Maracanã (relembre), com “La Dee Da”, anunciada como “some shit” por Grohl, no lugar de “Make It Right”. Não que isso faça tamanha diferença, mas sim o fato se o show ser menor – 25 minutos e quatro números a menos – e da “batida de maracatu” de “Run”, ou algo que o valha, ter se tornado um dos pontos altos do show, com grande participação do público, a ponto de ter o trecho repetido mais de uma vez em versão alongada. Nada mal para uma música recente de uma banda que já pode, sim, com seus nove álbuns, ser carimbada como clássica. Segue chamando a atenção a ausência de faixas do disco/experimento “Sonic Highways”; a boa “Congregation” aparecia no set list fornecido à imprensa, mas não foi tocada.Também porque não há tempo de show em que caiba tanta música, considerando que o grupo segue tocando versões estendidas, com ênfase em investidas instrumentais que dão uma sensação de apresentação única a cada vez que um shows acontece. Vejam que “Times Like These”, por exemplo, chega a ter o dobro do tamanho da versão gravada em disco, com a inclusão de dedilhados de guitarra, viradas de bateria o tempo todo, e até a adição quase que exclusiva no show de três vozes femininas de apoio, e olha que é dela que vem a número de Hawkins com a bateria nas alturas. Solo que escancara suas referências vitais, pela ordem: a) Neil Peart, do Rush; b) Stewart Copeland, do Police; e c) Carl Palmer, do Emerson, Lake & Palmer. Na apresentação dos músicos, vem o momento de tributo/zoação de Grohl com seus acólitos, que resulta em bullyng do bem e diversão garantida para o público; muitos vêm o FF pela primeira vez, de acordo com pesquisa feita ao vivo por Dave Grohl.
Mais que um grande ícone do rock pós anos 2000 – divide a coroa com Josh Homme e Jack White -, Grohl é um showman incorrigível que, se ótimo sujeito que entretém multidões, por vezes exagera e fala demais entre as músicas. Caberia facilmente uma outra músicas no set se ele falasse menos, mas o fato é que o público adora suas tiradas, realmente boas na maior parte do tempo. Mas Dave Grohl sabe que está no Rock in Rio, um palco em que é preciso botar pra quebrar e mobilizar multidões, e dessa tarefa ele não foge, sob um ótimo som que explode no peito junto com a cantoria de refrães que ecoam pela Cidade do Rock. Acontece em “My Hero”, depois de uma acelerada inesperada; no desfecho com “Everlong”, assim como em 2001, e impressiona a dimensão dessa música hoje; em “The Best Of Me”, que tem ótima improvisação instrumental, precedida por um patético pedido de casamento de um fã em pleno palco; e até em “Monkey Wrench”, direcionada para os fãs “old school”, mas adotada pela massa sem cerimônia. Esqueçam a terrível noite de estreia na sexta que agora o Rock In Rio 2019 já tem um grande show para chamar de seu.Set list completo:
1- The Pretender
2- Learn to Fly
3- Run
4- The Sky Is a Neighborhood
5- Times Like These
6- Solo bateria
7- Sunday Rain
8- My Hero
9- These Days
10- La Dee Da
11- Walk
12- Under Pressure
13- Wheels
14- Monkey Wrench
15- Big Me
16- Best of You
17- Everlong
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