Estampa rara
No morno show de Mano Brown no Rock In Rio, lenda Bootsy Collins é passageira figura decorativa. Fotos: Vinícius Pereira (1) e Diego Padilha/I Hate Flash/Divulgação Rock In Rio (2 e 3).
O show, contudo, tem outras participações que também ajudam a dar valor a veteranos na música negra, dessa vez no Brasil, além de Max de Castro, integrante fixo da banda como um dos três guitarristas. Hyldon – “aquele da rua na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê”, relembra Brown ao anunciá-lo – canta e toca guitarra em “Foi Num Baile Black”, e Carlos Dafé, o “príncipe do soul” brasileiro, participa discretamente em “Nova Jerusalém”. O show, por causa do tempo menor para o formato de festival, é só um pedaço do espetáculo “Boogie Naipe”, criado a partir do álbum de mesmo nome lançado por Brown em 2016 e que tem obtido grande sucesso de crítica; avaliação muitas vezes mais associada aos posicionamentos políticos do rapper do que pela qualidade do trabalho em si.
Porque é notável que Mano Brown, fora do rap, é cantor iniciante e vacilante, que engatinha na arte de trabalhar a voz. Não por acaso conta com a ajuda de Lino Krizz, também originário do rap, como um segundo crooner que de certo modo passa graxa na canção cantada, em contraponto ao vocal seco, duro e sem ginga de Brown. Ele, de seu lado, se sente muito mais à vontade quando o rap dá o tom nas músicas, caso mais flagrante em “Felizes/Heart to Heart”. A banda, embora garanta certo embalo do funk de raiz, nega ao público uma pegada mais forte. Ao menos nesse fragmento, não entrega o bailão da pesada que promete até pelo número de integrantes. Imagine três guitarras que não fazem o barulho de uma, ou um baixista monocórdico que funciona mais como papel de parede.Ademais, não são boas as canções – o disco, vamos e venhamos, é superestimado - de modo que o show passa longe de cativar o público menos inserido nos contextos de Brown e de sua história na música brasileira. Recai sobre Bootsy Collins, nas últimas três músicas, a esperança de um desfecho mais apimentado, por assim dizer. E a melhor delas é “Give Up the Funk (Tear the Roof off the Sucker)”, do Parliament, do colante verso/refrão “We want the funk”, que se destaca em meio ao que seria uma jam/improvisação da pesada, mas que, aparentemente, é interrompida pelo avançar do horário, já que uma das atrações do Palco Mundo estava para se iniciar. Nessa seara, melhor aguardar pelo show de Nile Rodgers na semana que vem (veja como foi em 2017), que esse positivamente não colou.
Set list completo:1- Intro Rio de Janeiro
2- Gangsta Boogie
3- Mal de Amor
4- Louis Lane
5- Dance, Dance, Dance
6- Flor do Gheto
7- Felizes/Heart to Heart
8- Foi Num Baile Black
9- Nova Jerusalém
10- Mothership Connection
11- Give Up the Funk (Tear the Roof off the Sucker)
12- I’d Rather Be With You
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