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Ancestralidade emo une bandas no Garage Sounds Rio; Zander é a que se sai melhor, e Esteban mira novos caminhos. Fotos: Nem Queiroz.

O guitarrista e vocalista do Hateen, Rodrigo Koala, único remanescente da formação original do grupo

O guitarrista e vocalista do Hateen, Rodrigo Koala, único remanescente da formação original do grupo

Havia um tempo em que bandas derivadas do hardcore melódico proliferavam por esse Brasilzão, o que desaguou no emocore como se isso nunca fosse ter um fim. Quem não se lembra da parada da Trama Virtual com umas 10, 15, 20 delas no topo a intrigar qualquer um com o mínimo de interesse pelo rock nacional? “Tudo passa, tudo passará”, diz o poeta, mas o elo entre esses grupos permanece, e é justamente a ancestralidade emo o ponto em comum que se salienta em algumas das atrações do eclético elenco da edição do Rio de Janeiro do Garage Sounds, que aconteceu no Hub RJ, na última sexta, 12/7. O festival é itinerante e segue por outras 10 cidades até o final desse mês.

Condição que talvez faça o vocalista do Hateen, Rodrigo Koala, usar de auto ironia para se justificar no festival, com termos como “vem mais choradeira aí” ou algo parecido, entre as músicas. Ou ao comentar sobre atrações mais pesadas do festival. Nada, contudo, que espante uma boa quantidade de público que, aderida à grade, leve várias músicas no gogó, como “Uma Vida Sem Saudade”, que chega a ter um trecho à capela, e “Quem Já Perdeu Um Sonho Aqui”, cuja cantoria acontece com um daqueles animados pula-pula. Koala é o único remanescente da formação original da banda, e o show, que a julgar pelo set list original pretendia ser maior, é calcado no DVD “Obrigado Hangar 110 - Ao Vivo”, lançado no ano passado com uma apresentação gravada no final de 2017. Termina com “Obrigado Tempestade”, num ritmo aparentemente mais veloz que a versão original, o que é ótimo.

O iluminado vocalista e guitarrista Gabriel Zander leva o Zander pra frente com carisma discreto

O iluminado vocalista e guitarrista Gabriel Zander leva o Zander pra frente com carisma discreto

Com a tal sonoridade emo menos evidente, mais ainda assim presente, o Zander, em parte por ser local, em parte por causa do bom horário, colado no Hateen, tem um ótimo apelo, com abertura de rodas e tudo o mais. Não é de hoje que o quarteto tem um bom séquito de seguidores – e parece que estavam todos saudosos do grupo -, muito por causa da boa presença de palco e do carisma discreto, por assim dizer, do vocalista e guitarrista Gabriel Zander. “Todos os Dias”, que encerra os trabalhos, é de longe a melhor deles, em composição e arranjo, mas a pesada “Bandida e Malvista”, que reserva uma bela coreografia dos integrantes na beirada do palco, tem seu valor. Em ótima atmosfera, a melódica “Dialeto” também sobressai como uma das mais cantadas pelo público, o que, afinal de contas, é o que vale, ainda mais em um festival tão diversificado.

No quesito “renovação para seguir em frente”, o Gloria tem buscado refúgio no post hardcore com mais veemência nos últimos tempos, e o show deixa isso bem claro. O que reforça a boa participação do guitarrista Elliton Reis, ao fazer um ótimo contraponto ao vocalista Mi Vieira, no maior estilo vocais limpos versus rasgados inerente ao gênero. Como se vê, por exemplo, durante a pesada “Vai Pagar Caro Por Me Conhecer”, de longe a mais aclamada pelo público, com o plus de um belo solo do outro guitarrista, Peres Kenji. Público bem reduzido quase às duas da madruga, mas que tem fãs fiéis, assim como no casso do Hateen, a cantar tudo o que é música, o que reflete em um ar de satisfação de Vieira. Outras músicas legais em cerca de 40 minutos, mesma duração da apresentação do Krisiun (veja como foi) são “A Chama” e “A Cada Dia”, pedrada das boas que traz bom impacto logo no início.

Com ênfase maior no post hardcore, o Gloria segue a vida com a liderança do bom vocalista Mi Vieira

Com ênfase maior no post hardcore, o Gloria segue a vida com a liderança do bom vocalista Mi Vieira

Um interessante ponto de vista para essa história toda de emo e afins é mostrado pelo Esteban, nome adotado para o projeto solo de Rodrigo Tavares, que durante um bom tempo foi baixista do Fresno. Sua escalação em um festival como o Garage Sounds, em meio a bandas de origens variadas, sim, mas sempre mais voltadas ao rock pesado, não deixa de ser uma surpresa. Aqui ele toca guitarra em um trio com baixista e baterista, e mostra um repertório melodramático, centrado mais em canções do que no entorno do rock propriamente dito, além de certo sotaque regional. Acaba se destacando em ótimos solos, praticamente em todas as músicas, realçando seus dotes como instrumentista; e que bela camiseta, hein? Muitas das músicas são cantadas pelo público na beirada do palco, casos de “Basta” e “Cigarros e Capitais”. Esteban também lança uma música nova, “Hoje”, com o uso de bateria eletrônica e arranjo bem cru, ao menos nesse estágio inicial. Pra ficar de olho.

Set list completo Hateen:

1- Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui
2- Eu Voltei
3- Uma Vida Sem Saudade
4- Não Vá
5- Coração de Plástico
6- Quem Já Perdeu Um Sonho Aqui
7- 1997
8- Passa o Tempo
9- Obrigado Tempestade

Agora com o Esteban, Rodrigo Tavares, ex-Fresno, aponta para caminhos bem distantes do emocore

Agora com o Esteban, Rodrigo Tavares, ex-Fresno, aponta para caminhos bem distantes do emocore

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