Ao vivaço
Garage Sounds Rio vê show urgente e barulhento do Molho Negro, duelos instrumentais do Ladrão e o Nove Zero Nove com ótima guitarrista em nova formação. Fotos: Nem Queiroz.
O trio, de Belém do Pará, pegou um ótimo horário em meio aos 16 shows programados e soube aproveitar bem a presença de muita gente que já canta os inusitados versos de “Souza Cruz” – “o meu melhor amigo encontrou Jesus enquanto eu sigo dando lucro pra Souza Cruz” -, mesmo sem o telão exibindo as letras como no show do Lollapalooza desse ano (relembre). Ou que já entende sobre o que trata “Gente Chata”, que evidencia o sarcasmo bem descolado das composições, nesses temos estranhos de humor mal feito e quase sempre pouco compreendido. O grupo carrega o Nirvana como uma de suas grandes referências, escancarada na quase cover “Fã do Nirvana”, que “investiga” quem matou Kurt Cobain, e já é uma das preferidas do público que se aglomera em um dos palcos do festival.
Não é o primeiro show do Molho Negro na cidade, mas o que oferece as melhores condições, já admitia Lemos antes de a bola rolar, mais cedo, ao circular pelo festival. E o trio aproveita bem a oportunidade praticamente emendando as músicas umas nas outras, com o som no talo. Em “Concurso”, no início, toca com aguitarra nas costas feito um guitar hero às avessas e põe o público pra cantar, e, no final, enquanto desce pra se misturar aos fãs, no tal final descrito ali em cima, é um incauto que assume os vocais de “Rui Barbosa”, também conhecida como “O Fodão da Internet”. Ficam faltando “Aparelhagem de Apartamento”, “Ela prefere o DJ” e “Black Rebel Marambaia Club”, entre outras. Ou seja, faltam é mais shows do Molho Negro por aqui.Se o tempo é curto e a noitada de rock tá só começando, o Ladrão, só a segunda atração do festival, não perde tempo com falatório e logo o trio faz o que de melhor sabe: instigantes improvisações instrumentais. Parece que a banda é talhada para tocar ao vivo, e quem comanda a farra com a autoridade pra isso já no nome é o guitarrista Farrah Santo Sé, todo trabalhado em solos e evoluções daqueles que parecem se superar a cada música. O batera Daniel Vitarelli, que também canta, não economiza na pancadaria e um Formigão soltinho, ele mesmo, titular absoluto do Planet Hemp, faz o percurso certinho. As melhores são “Poesia de Liquidificador” e “Reptilianos”, dedicada ao presidente terraplanista. E agora é oficial: “Ódio às TVs”, clássico do Coquetel Molotov, a primeira banda punk do Rio, faz parte do repertório dos shows. Com um pouquinho mais de guitarra, é claro.
Para quem não via um show da Nove Zero Nove há algum tempo, a surpresa. A banda tem formação completamente modificada, e nem a baixista figuraça Elisa Schinner - na captura do The Cure pela Europa, segundo consta – estava lá no Garage Sounds. Se a principal diferença é o vocal feminino de Maria Mergener, diametralmente oposto ao do ótimo Maurício Kyann, que deixou o posto, o que realça é a guitarrista Julianne Lima, que rouba a cena em ótimos solos e conduções, com um feeling diferenciado ao tocar, e ainda tem um momento intimista para reforçar o discurso em favor de minorias. Ela manda bem em “Cocaine”, e o público que já conhece o grupo curte as boas “Cova Rasa” e “Insana Fome”. “Sopro” tem a boa participação da cantora Sonja e um arremate esmerilhante de Julianne, uma das melhores instrumentistas do festival.Set list completo Molho Negro
1- Muito Obrigado aos Patrocinadores
2- Concurso
3- Souza Cruz
4- Gente Chata
5- Contracheque
6- Fã do Nirvana
7- O Jeito de Errar
8- Rui Barbosa
Tags desse texto: Garage Sounds, Ladrão, Molho Negro, Nove Zero Nove