O Homem Baile

Ao vivaço

Garage Sounds Rio vê show urgente e barulhento do Molho Negro, duelos instrumentais do Ladrão e o Nove Zero Nove com ótima guitarrista em nova formação. Fotos: Nem Queiroz.

O guitarrista e vocalista do Molho Negro, João Lemos, se esgoelando antes de pular no meio do público

O guitarrista e vocalista do Molho Negro, João Lemos, se esgoelando antes de pular no meio do público

Parece que o show já terminou, mas uma boa quantidade de esporro e de distorção ainda ecoa do palco. No meio do salão a turma se aglomera em volta do sujeito com uma guitarra em punho, ligada ao equipamento e responsável pelo estrago. Do nada, uma segunda guitarra aparece e, como se não fosse só ela, até as grades que reservam um praticável lá atrás serve para arranhar as seis, 12 cordas no desfecho da apresentação. É assim, azucrinando no meio do público, que o guitarrista e vocalista João Lemos encerra no show do Molho Negro no Garage Sounds, no Hub RJ, na última sexta, dia 12. É a primeira vez do festival no Rio, que segue itinerante por outras 10 cidades até o final do mês.

O trio, de Belém do Pará, pegou um ótimo horário em meio aos 16 shows programados e soube aproveitar bem a presença de muita gente que já canta os inusitados versos de “Souza Cruz” – “o meu melhor amigo encontrou Jesus enquanto eu sigo dando lucro pra Souza Cruz” -, mesmo sem o telão exibindo as letras como no show do Lollapalooza desse ano (relembre). Ou que já entende sobre o que trata “Gente Chata”, que evidencia o sarcasmo bem descolado das composições, nesses temos estranhos de humor mal feito e quase sempre pouco compreendido. O grupo carrega o Nirvana como uma de suas grandes referências, escancarada na quase cover “Fã do Nirvana”, que “investiga” quem matou Kurt Cobain, e já é uma das preferidas do público que se aglomera em um dos palcos do festival.

Ladrão: Formigão, Daniel Vitarelli e Farrah Santo Sé em uma das boas improvisações no palco

Ladrão: Formigão, Daniel Vitarelli e Farrah Santo Sé em uma das boas improvisações no palco

Não é o primeiro show do Molho Negro na cidade, mas o que oferece as melhores condições, já admitia Lemos antes de a bola rolar, mais cedo, ao circular pelo festival. E o trio aproveita bem a oportunidade praticamente emendando as músicas umas nas outras, com o som no talo. Em “Concurso”, no início, toca com aguitarra nas costas feito um guitar hero às avessas e põe o público pra cantar, e, no final, enquanto desce pra se misturar aos fãs, no tal final descrito ali em cima, é um incauto que assume os vocais de “Rui Barbosa”, também conhecida como “O Fodão da Internet”. Ficam faltando “Aparelhagem de Apartamento”, “Ela prefere o DJ” e “Black Rebel Marambaia Club”, entre outras. Ou seja, faltam é mais shows do Molho Negro por aqui.

Se o tempo é curto e a noitada de rock tá só começando, o Ladrão, só a segunda atração do festival, não perde tempo com falatório e logo o trio faz o que de melhor sabe: instigantes improvisações instrumentais. Parece que a banda é talhada para tocar ao vivo, e quem comanda a farra com a autoridade pra isso já no nome é o guitarrista Farrah Santo Sé, todo trabalhado em solos e evoluções daqueles que parecem se superar a cada música. O batera Daniel Vitarelli, que também canta, não economiza na pancadaria e um Formigão soltinho, ele mesmo, titular absoluto do Planet Hemp, faz o percurso certinho. As melhores são “Poesia de Liquidificador” e “Reptilianos”, dedicada ao presidente terraplanista. E agora é oficial: “Ódio às TVs”, clássico do Coquetel Molotov, a primeira banda punk do Rio, faz parte do repertório dos shows. Com um pouquinho mais de guitarra, é claro.

O feeling da ótima guitarrista Julianne Lima, uma das novidades da nova formação do Nove Zero Nove

O feeling da ótima guitarrista Julianne Lima, uma das novidades da nova formação do Nove Zero Nove

Para quem não via um show da Nove Zero Nove há algum tempo, a surpresa. A banda tem formação completamente modificada, e nem a baixista figuraça Elisa Schinner - na captura do The Cure pela Europa, segundo consta – estava lá no Garage Sounds. Se a principal diferença é o vocal feminino de Maria Mergener, diametralmente oposto ao do ótimo Maurício Kyann, que deixou o posto, o que realça é a guitarrista Julianne Lima, que rouba a cena em ótimos solos e conduções, com um feeling diferenciado ao tocar, e ainda tem um momento intimista para reforçar o discurso em favor de minorias. Ela manda bem em “Cocaine”, e o público que já conhece o grupo curte as boas “Cova Rasa” e “Insana Fome”. “Sopro” tem a boa participação da cantora Sonja e um arremate esmerilhante de Julianne, uma das melhores instrumentistas do festival.

Set list completo Molho Negro

1- Muito Obrigado aos Patrocinadores
2- Concurso
3- Souza Cruz
4- Gente Chata
5- Contracheque
6- Fã do Nirvana
7- O Jeito de Errar
8- Rui Barbosa

O bom público durante o início do show do Molho Negro, trio que vem de Belém do Pará

O bom público durante o início do show do Molho Negro, trio que vem de Belém do Pará

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