Bola é Bola Mesmo

O Brasil do segundo tempo

Como em 70, seleção brasileira nocauteia os adversários, pelo cansaço e com técnica, na segunda metade dos jogos. Foto Divulgação: Lucas Figueiredo/CBF.

coutinhoaustria-10-6-18Aos 17 minutos do segundo tempo, Neymar recebe um passe com açúcar e com afeto de Willian, domina e para em frente a um zagueiro de vermelho. Penteia a bola para a esquerda, deixa o cabeça de bagre estirado no chão, se afasta de outro que se aproxima e arremata com categoria para o fundo das redes. É o segundo gol do Brasil, que despacha de vez os carniceiros da Áustria e conta como se fosse o primeiro, já que, no anterior, Gabriel Jesus estava na banheira. Ban-nhei-rá!

Com o gol, Neymar se iguala ao próprio Gabriel como o maior goleador da seleção na chamada Era Tite, com 10 tentos, e, o mais importante, tem agora 55 gols com a Amarelinha, ao lado de ninguém menos que Romário. Daí a comemoração levantando a camisa por sobre o pescoço, como o Baixinho fazia. Acima deles, só Ronaldo, com 62, e Pelé, com 77. Não está muito difícil, vamos e venhamos, para Neymar superar o Rei, ao menos nesse quesito.

Disse carniceiros e repito: os austríacos, que não se classificaram para a Copa, só queriam saber de baixar a porrada. Por um momento, e em um lance em particular, no qual uma besta quadrada desfere um pisão em um dos pés de Neymar – e nem sei se era o pé recém operado – parecia tudo de propósito, como se existisse um plano parar tirar nosso craque – e de novo – da Copa. Bobagem. Os caras são é ruim de bola mesmo, uns grossos.

Neymar nem começou bem o jogo, errando passes a rodo e sem se desvencilhar dos adversários com a facilidade que lhe é peculiar. Sabia, contudo, que não poderia se desesperar e que precisava irritá-los com seu futebol, único e legítimo jeito de tirar vantagens sobre aqueles brutamontes. Foi o que fez, sobretudo no segundo tempo, quando a seleção deles pregou de tal forma que o lado esquerdo da defesa virou passarela de craques brasileiros. Tão duros no primeiro tempo, tão entregues no segundo. Assim é o futebol.

Por esse mesmo lado Philippe Coutinho tabela com Firmino, como nos bons tempos do Liverpool, entra pela esquerda e fecha a tampa do caixão. Cara a cara com o goleiro, com uma facilidade atroz, não de fora da área, cortando para o meio para a finalização de média distância, em sua jogada mais característica. É um Brasil que deita e rola esse do segundo tempo, ante a uma Áustria com as mãos nas cadeiras, a mesma Áustria que derrotara a Alemanha, defensora do título do Mundial na Rússia, dias antes.

Antes teve toque de letra de Wiliam, Paulinho chegando para finalizar, Fernandinho indo à linha do fundo pelo lado direito toda hora e o escambau. Ficou fácil e, mais tarde, o técnico Tite diz que o Brasil dele, que só levou gol em cinco dos 21 jogos, quase sempre só define os jogos do segundo tempo. No que me vem à cabeça a incrível seleção de 70, que nocauteava os adversários na segunda metade de cada jogo. Na época, atribuía-se a isso a preparação física da equipe, melhor preparada que as outras pra jogar na altitude do México.

Qual nada. Ou, por outra, isso também, e ressalta-se que o Brasil segue com uma das melhores preparações físicas do mundo, com ótimos profissionais, todos recrutados por Tite. Mas, além disso, tudo se decide no segundo tempo quase sempre porque temos um time que é matreiro, que fica de butuca defendendo bem – só levou gol em cinco dos 21, repita-se – e que toca a bola e com isso cansa o adversário e se cansa menos, para, na hora H, dar o bote e definir o jogo. Pode acontecer a qualquer momento, com os craques que temos, mas, na segunda etapa, com o cansaço dos adversários, o cenário é ainda mais favorável. Daí o dado de Tite.

Não foi tão bem o espevitado Willian, como no jogo contra a Croácia, mas foi bem Coutinho, talvez até o melhor em campo. Esses dois têm justificada fama de desaparecerem em uma partida, ou mesmo de alternar bons e maus momentos, de um jogo para outro. Jogando juntos, como titulares, corre-se o risco de ambos sumirem juntos, mas, se cada um funcionar quando o outro estiver desaparecido, já é um bom negócio. Com os dois dando o máximo, então, já viu.

Roberto Firmino mais uma vez entrou bem e mostra que pode ser útil, não apenas como centroavante, mas como triangulador vindo de trás. Douglas Silva, ao que parece recuperado da lesão, também entrou bem para partir pra dentro dos adversários. É arma letal justamente para o segundo tempo, com a função de encarar defesas cansadas como a de ontem, se necessário. E a nossa defesa praticamente nem viu a cor da bola, assim como o ataque de Arnautovic e asseclas. Partiu Copa.

Até a próxima que até Romário já tá ficando pra trás!

Resultado de 10/6/2018:
Brasil 3 x 0 Áustria

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