O Homem Baile

Eles não sabem

Na abertura para a Plebe Rude, Zero descobre que público pouco conhece o repertório, e hit maior da banda brilha solitariamente. Fotos: Nem Queiroz.

zero18-1Os que estavam ali na frente do palco decerto não se familiarizam com o repertório que está sendo executado, mas, em ao menos uma das músicas, a atmosfera é grandiosamente unânime. Não é o único hit do grupo, afastado há tempos de um dos palcos mais representativos da cultura nacional, mas seguramente o mais conhecido, para além de fã clubes e iniciados em geral. E é por isso que todo mundo, do sujeito agarrado na beirada do palco ao bilheteiro na entrada, passando pelo vendedor de amendoim torrado, absolutamente todos cantam “Agora eu Sei”, do Zero, verso por verso, enquanto a Plebe Rude não vem, em um Circo Voador com boa presença e público, neste sábado (9/6). Só faltou o Paulo Ricardo mesmo. Mentira. Tava lindo de ser ver.

Poderia ser melhor, contudo, se Guilherme Isnard, o vocalista galã do Zero, não caísse na armadilha de passar o microfone para o lado do público mais que o necessário. Porque, afinal, não se paga ingresso para ouvir a cantoria da plateia, mas a do vocalista da banda, ainda mais sendo o Zero, de raras aparições nos últimos tempos, ainda mais sendo o cantor Isnard, com o vozeirão intacto depois de tantos anos. Ainda assim, “Agora Eu Sei” monopoliza a apresentação no que tange ao público, e, vamos e venhamos, a música é realmente um primor pop, xodó de quem viveu os anos de ouro do rock nacional. Uma pena que, ao ser colocada bem antes do final, perde-se a oportunidade de um encerramento em astral altíssimo. Ainda mais com a Plebe prestes a quebrar tudo na sequência (veja como foi).

Na maior parte do tempo, o público tem comportamento contemplativo, com picos de interação em sucessos que o Zero cultiva, em um patamar menor, como acontece em “Formosa”, a primeira deles a ser tocada; e “Quimeras”, com uma insuspeita introdução decalcada de “La Villa Strangiato”, do Rush, que encerra a primeira parte. Por incrível que pareça, “Heróis”, tão executada em rádio e danceterias na década de 80, praticamente passa batida, a ponto de Guilherme Isnard abrir os braços sem entender nada. E aí, no restante da noite, parecia uma banda nova apresentando material inédito o tempo todo, em que pese a boa vontade da plateia – ao menos isso – para aplaudir ao final de cada uma das músicas. Até a versão de voz e violão para “Eu Sei”, da Legião Urbana, encontra eco, mesmo com um violão desafinado e em uma noite em que a última coisa a ser feita deveria ser tocar música de banda de Brasília.

Único remanescente da formação clássica da banda, Isnard é acompanhado pelo ótimo guitarrista Daniel Viana, que ocupa os espaços sem passar dos limites do bom gosto, e de Nivaldo Ramos (baixo), Gustavo Wermelinger (bateria) e Caius Marins (teclado). Entre as do álbum “Quinto Elemento”, laçado há cerca de 10 anos, valem as boas “A Culpa Não é o Amor”, que abriu a noite, e a colante “Canção Proibida”, com ótima pegada, ainda no bloco inicial. Uma pena que, no geral, o final do show tenha sido antecipado com “Agora Eu Sei” fora de lugar, e com um bis realmente desastroso. E que para o público tudo era novidade, menos – de novo - “Agora Eu Sei”. Se a banda engatar um agenda com mais shows, a coisa melhora. E se a tal agenda vir com um disco de inéditas, melhora mais ainda.

Set list completo:

1- A Culpa Não é o Amor
2- Centúrias
3- Canção Proibida
4- Formosa
5- Os Anjos Dizem Amém
6- Estrelas
7- Os Olhos Falam
8- Heróis
9- Abuso de Poder
10- Gravidade Zero
11- Agora Eu Sei
12- Labirinto 21
13- Quimeras
Bis
14- Eu Sei
15- A Luta e o Prazer

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