Não é preciso muito tempo para que o sujeito alinhado em um terno preto com paletó decorado com rosas berrantes e cabelo penteado demonstre sinais de emoção. É ainda a quarta música de um repertório enxuto e que tende a passar rápido demais, e vem do público a razão dos olhos marejados de Brandon Flowers, à frente do Killers, no show de encerramento da edição desse ano do Lollapalooza, neste domingo, em São Paulo. A música, “The Way It Was”, é das mais recentes e, se não chega a ser um daqueles blockbusters da banda, tem um refrão embalante que confirma a vocação para ser abraçado pelas massas. E é daí que vem o motivo principal desse momento de genuína emoção exibido nos telões.

Passaram-se cinco anos desde a última visita, e já naquele Lolla “acanhado” de 2013, com cerca de 50 mil cabeças – hoje são 100 mil, no total, por dia – Flowers já se mostrava sensível à reação da plateia (relembre). “Vocês sentiram a nossa falta? Prometemos não demorar tanto da próxima vez”, diz o vocalista, que apresenta o show como “maravilhoso”, em português mesmo. Além das músicas, as maravilhas são um painel kitsch de cabaré decadente que é a cara de Las Vegas, cidade de origem do grupo, com símbolos luminosos do masculino e feminino; raio laser a rodo, surgindo como o nascer do sol ou salpicado pelo palco; uma cascata de fogos no fundo, no bis; e o lançamento de serpentina e papel picado, já na primeira música, “The Man” e nas partes finais.

Tudo em sintonia com o invólucro retrô oitentista que segue permeando a banda, naquela vibe new romantic da vida, com sintetizadores/teclados quase que “de época”, entre outros efeitos adicionados até nas guitarras, um achado e tanto dentro do rock dos anos 00 e que segue muito bem, obrigado. Ou não, se levarmos em conta que mais da metade das músicas são dos dois primeiros álbuns, e que “Hot Fuss”, o impressionante disco de estreia deles, lançado há quase 14 anos(!), segue dominando o repertório. “Mas como vir para a América do Sul e não tocar ‘Jenny’?”, pergunta Flowers ao anunciar “Jenny Was a Friend Of Mine”, tocada em um andamento diferente, com a inclusão oficial de um cantarolar que a torna inda mais colante.

Linha de raciocínio que açambarca tranquilamente números como “When You Were Young”, com a genuína linha de teclado, reservada para o bis; “Somebody Told Me”, que inflama o mar de gente logo no início; e “For Reasons Unkown”, festejada pelo público e que merece destaque por um motivo a mais. Porque quem toca a bateria, sob a regência de um cuidadoso Ronnie Vannucci Jr., é a apresentadora de TV Dedé Teicher, que também é baterista do Scracho. Uma pena per passado a impressão para o público, de início, que era uma fã escolhida na hora, mas, também, quem tocaria tão bem ensaiado se não fosse do ramo? No show, banda é turbinada no palco com um tecladista e um guitarrista a mais, e três backing vocals que pouco aparecem em meio ao pulsar do show.

Em “All These Things That I’ve Done”, no ótimo encerramento da primeira parte, é Liam Gallagher, que havia tocado antes no mesmo palco, que aparece para dar um oi, para alegria de um Flowers de sorriso escancarado, mesmo que o convidado não tenha dado um pio. Do disco mais recente, “Wonderful Wonderful”, lançado em setembro, entram a dançante “The Man”, e “Run For Cover”, com uma indefectível bateria à Joy Division, mostrando que as referências do Killers seguem as mesmas. Uma versão pesada mais ou menos surpresa para “This River Is Wild” também cai muito bem, embora a música não seja uma das mais bombadas pelo público. Que, via de regra, participa com eloquência em quase todas as músicas, muito por conta dos ótimos refrães que o Killers sempre apresenta, com ou sem involucro retrô. Uma prova de que, mesmo nesses temos estranhos para a música, a boa canção consegue triunfar.

Set list completo:

1- The Man
2- Somebody Told Me
3- Spaceman
4- The Way It Was
5- Shot at the Night
6- Run For Cover
7- Jenny Was a Friend Of Mine
8- Smile Like You Mean It
9- For Reasons Unknown
10- Human
11- This River Is Wild
12- A Dustland Fairytale
13- Runaways
14- Read My Mind
15- All These Things That I’ve Done
Bis
16- When You Were Young
17- Mr. Brightside

Nota: a produção da banda não permitiu o trabalhos dos fotógrafos.

Tags desse texto: Lollapalooza, The Killers