As luzes do palco ainda estão acesas quando, de um jeito low profile, os integrantes do Killers entram, como se não quisessem nada. A pompa de outras turnês, exigência do som kitsch retrô oitentista do grupo parece deixada de lado em favor do rock. Não que antes não fosse o rock o elemento primordial, mas aquele visual de “cabaré decadente, mas de pé” da turnê de 2007 foi deixado definitivamente de lado, em prol da ênfase nas músicas. Teve explosões enfumaçadas em “Miss atomic Bom”, chuva de confetes - ralinha, por sinal -, em “All These Things That I’ve Done”, e até cascata de fogos no encerramento, com a colante “When you Were Young”, mas dessa vez a força do repertório e de um vocalista com um pulmão de ouro é que prevaleceram. Só o teclado com raio luminioso de Brandon Flowers permanece, triunfante.

O visual de mordomo com as calças pescando siri e os sapatos para dançar que ele pediu para mostrar em “From Here On Out” não teriam o mesmo valor não fosse Brandon Flowers um vocalista dos bons, com um fôlego de nandador olímpico. É de se reparar como ele não arrega em músicas cujos versos parecem não ter fim, emendados uns nos outros, praticamente uma marca registrada do Killers. É o que acontece em “Runaways”, o grande hit do disco mais recente, “Battle Born”, que, se não é essa coca-cola toda, tem, sim, músicas que funcionam muito bem ao vivo, numa surpresa das mais gratas. O público - que chegou ao máximo de 52 mil no primeiro dia do festival - responde muito bem também na apenas razoável “From Here On Out” e em “Miss Atomic Bomb”, bem no começo do show.

Flowers faz o tipo tímido que se entrega sem querer se entregar. Seu verso chave pode ser o “I don’t shine, if you don’t shine”, da ótima “Read My Mind”. Ele se surpreende desde o início do show, como se não conhecesse o público brasileiro. Malandramente, solta frases em um português lido com esforço, para dizer “estamos aqui e somos todos de vocês” ou “o coração é do Brasil”. Parece algo banal, mas funciona. Não é preciso ser pós graduado em leitura labial para perceber que ele solta vários “uau”, em reação à resposta cotagainte da plateia. Também, quem manda começar o show logo com um hit do naipe de “Mr. Brightside”?

Se as músicas novas já estão na ponta da língua do povão, imaginem os hits que fazem do Killers a principal banda do cenário do rock pós anos 00… É de impressionar como o disquinho “Hot Fuss”, lançado há menos de uma década, já tenha clássicos que parecem ter sido cunhados há mais de 30 anos e quem têm sido tocados sem parar por todo esse tempo. E é bom não deixar escapar que o Killers, com pompa de veterano, tem apenas quatros discos lançados no mercado. Parece pouco para um headliner de um festival, mesmo no caso do Lolla, de perfil caca vez mais indie, mas, para o Killers, não é pouco, não senhor.

Não há muito brilho solo entre os músicos do grupo - os caras parecem jogar mais para o time -, ainda mais quando têm nas mãos músicas poderosas como “Jenny Was A Friend f Mine” e sua irresistível linha de baixo, já no bis, idêntico ao do show de Assunção, no Paraguai, realizado essa semana (veja aqui). No Brasil, por sinal, o grupo subtraiu a “Bling (Confession of a King)” e “Flesh and Bone” do set, muito provavelmente para se encaixar no necessariamente rigoroso horário do festival. Mas as que fizeram falta mesmo foram as deliciosas covers para “Forever Young” (Alphaville) e “Shadowplay” (Joy Division). Nada, entretanto, que fizesse o público fechar a cara. A expressão geral era de felicidade durante os cerca de 90 minutos em que o quarteto e seus músicos de apoio estiveram no Palco Cidade Jardim, o principal do Lollapalooza.

Set list completo:
1- Mr. Brightside
2- Spaceman
3- The Way It Was
4- Smile Like You Mean It
5- Miss Atomic Bomb
6- Human
7- Somebody Told Me
8- For Reasons Unknown
9- From Here On Out
10- A Dustland Fairytale
11- Read My Mind
12- Runaways
13- All These Things That I’ve Done
Bis
14- This Is Your Life
15- Jenny Was a Friend Of Mine
16- When You Were Young

Nota: a produção da banda não permitiu o trabalhos dos fotógrafos

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