O Homem Baile

Encruzilhada à vista

Mesmo com um ótimo disco solo, Liam Gallagher se rende a sucessos do Oasis no Lollapalooza e é isso mesmo que o público quer. Fotos Divulgação Lollapalooza: MRossi/MRossi.

Liam Gallagher aponta para o futuro com a recém iniciada carreira solo, mas hits do Oasis permanecem

Liam Gallagher aponta para o futuro com a recém iniciada carreira solo, mas hits do Oasis permanecem

Sabe aquele sujeito que, assim que deixa a banda de origem e que o consagrou, decide fazer alguma coisa diferente em carreira solo, só para não ficar igual? Pois essa fase na vida de Liam Gallagher já passou. Ou, por outra, passou, mas nem tanto assim. Porque, se de um lado ele está em turnê tocando um punhado de músicas do Oasis, o que não fazia quando liderava o Beady Eye, sua primeira empreitada sem o brother Noel, ao mesmo tempo carrega um disco cheio de músicas novas para mostrar debaixo do braço, o ótimo “As You Were”, lançado em outubro. A saída é o que o público do Lollapalooza vê no Palco Principal, neste domingo (25/3), em São Paulo, o mesmo que Noel Gallagher frequentou há dois anos; relembre.

Porque são nada menos que oito petardos do Oasis contra cinco do álbum solo, em mais ou menos uma horinha que o festival lhe reserva. E, aí, não tem choro, porque é disso mesmo que o povo gosta, muito clássico e pouca novidade. Lamentação só se ouve na discussão do tipo “por que essa ou aquela não entrou”, muito embora as novas são muito bem recebidas e cantadas até por boa parte dos fãs. Supreendentemente de bermudas, Liam mantém a pose e o jeitão largado de cantar, se curvando embaixo do pedestal do microfone, numa marra só, com uma barba por fazer há 200 dias. Fala pouco com o público, e, por conta do forte sotaque norte-britânico, pouco é compreendido, a não ser na linguagem musical, muito bem assimilada e vivida pela boa quantidade de público que se aglomera à frente do palco.

Não há como não lembrar dos shows do Oasis quando a noite começa com “Rock ‘n’ Roll Star”, uma das mais marcantes do grupo, coladinha com “Morning Glory”, sem muita cerimônia. Na banda de apoio está o guitarrista Jay Mehler, ex-Kasabian e parceiro de Liam no Beady Eye, que, de longe, tem até semelhança física com Noel, e o baixista Drew McConnell, do Babyshambles. Ao que parece, a ordem é não partir para variação alguma, e cada versão é quase exatamente idêntica à original, ou, ao menos, do mesmo jeito que o Oasis tocava nos shows, para a alegria geral do público, que sabe exatamente o que quer. O quase ali em cima existe justamente por causa de Liam Gallagher.

O jeito clássico de Liam encarar o microfone, na foto ao lado do tecladista Christian Madden

O jeito clássico de Liam encarar o microfone, na foto ao lado do tecladista Christian Madden

É que ele já não exibe o mesmo viço vocal de outras épocas. Ok, vem de problemas vocais nessa turnê, e já chegou a abandoar um show pela metade no Lollapalooza do Chile, e a cancelar outro no Brasil, o que pode ter lhe prejudicado a performance como um todo. Ainda assim, é notável, em um acompanhamento mais amiúde, que a sua voz soa rascante, áspera, sem a doçura melódica que é indispensável para se entender o Oasis como um todo. Não que ele não possa seguir em frente com boas performances com o material novo, mas aquele jeito de cantar que o colocou no mapa mundi do rock e da música como um todo, mais ao vivo do que em disco, parece muito distante.

Dentre as novas, onde o olhar para ao conjunto da obra não conta, Liam vai bem na dobradinha “Greedy Soul”, um rockão britânico com pegada estradeira, e “Wall Of Glass”, primeiro single do disco que, mais cadenciada, dá um descanso para o começo acelerado do show. A melhor delas é a tensa e pesada, sobretudo tocada ao vivo, “I Get By”, com espaço para boas evoluções de guitarra e um refrão de colar fácil nos ouvidos. Ainda engatinha, mas vai se tornar logo, logo uma das preferidas nos shows. Liam avisa que só faltam quatro, e dispara o arremate que todo mundo gosta: “Wonderwall”, com os vocais repassados ao público no refrão; “Supersonic”, reconhecida antes de si própria e que rende um raro sorriso no rosto de Liam; “Cigarettes & Alcohol”, a menos cotada da série final”; e o momento emoção verdadeira de “Live Forever”. É, não dá mesmo para reclamar.

Set list completo:

1- Rock ‘n’ Roll Star
2- Morning Glory
3- Greedy Soul
4- Wall of Glass
5- Bold
6- For What It’s Worth
7- Some Might Say
8- I Get By
9- Be Here Now
10- Wonderwall
11- Supersonic
12- Cigarettes & Alcohol
13- Live Forever

Vista geral do palco de Liam Gallagher, com toda a banda alinhada, e a imagem dele ampliada no telão

Vista geral do palco de Liam Gallagher, com toda a banda alinhada, e a imagem dele ampliada no telão

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