O Homem Baile

Se esbaldou

Phoenix paga dívida com público carioca em grande noite no Circo Voador lotado. Fotos Divulgação Queremos!: Eduardo Magalhães.

O vocalista do Phoenix, Thomas Mars, esbanja carisma em show com grande interação com o público

O vocalista do Phoenix, Thomas Mars, esbanja carisma em show com grande interação com o público

Há os que se queixam pela demora de sua banda preferida em visitar a cidade, mas, com certeza científica, quando o primeiro show enfim acontece, a sensação é inexplicável. É o que acontece com o Phoenix, no palco do Circo Voador, nesta sexta, 25, que tem como efeito colateral cenas de beatlemania explícita. Depois de tocar quatro vezes em São Paulo, sem escalas por aqui – a mais recente em novembro, como headliner do Popload Festival, relembre -, o grupo francês cresceu um bocado, em repertório e performance de palco. O que, de certo modo, somado a ansiedade geral e irrestrita, contribui para a sensação de final de Copa do Mundo com a casa lotada e a vibe de que uma daquelas noites inesquecíveis que só o Circo Voador pode proporcionar está prestes a acontecer.

Sentimento turbinado por uma espera a mais. Por conta aparentemente de problemas com os equipamentos da banda, os portões foram abertos com duas horas de atraso, represando o público do lado de fora em um clima de tensão quase palpável; depois, soube-se que até o cancelamento do show foi cogitado. Banda no palco, outro deslize: o iníco com “J-Boy”, como tem acontecido nessa turnê, soa como um tiro que sai pela culatra. Ok, trata-se do single de lançamento do álbum “Ti Amo”, que saiu em junho, mas, vamos e venhamos, não tem força para sacudir uma plateia, mesmo que absolutamente nas mãos. No que a explosão de pula-pula, braços erguidos e cantoria generalizada só é inaugurada na segunda, “Lasso”, um indie hit que não deixa dúvidas sobre o que está para acontecer.

O Phoenix tocando a pleno vapor no palco de um Circo Voador jorrando gente pelo ladrão

O Phoenix tocando a pleno vapor no palco de um Circo Voador jorrando gente pelo ladrão

Porque, doravante, ainda que outras músicas novas – sete no total - salpiquem o repertório, a interação do público com a banda é de chamar atenção até de quem tem as entranhas fundidas com o ambiente. Imaginem então para o não menos animado vocalista Thomas Mars, que volta e meia desce na grade que separa o público do palco. A cada música mais encantado, ele não se aguenta ao ver que todos conhecem as músicas e cantam do início ao fim, num constante exercício de identificação de parte a parte. Antes de “Lisztomania”, uma das mais queridas pelo público, ainda na parte inicial, ele se desculpa pelo atraso na abertura dos portões e pelos 18 anos (nas contas dele) sem comparecer ao Rio. Nem precisava, mas que isso injeta mais gasolina na fogueira, não tenha dúvida. Nessas horas, mesmo que todo mundo ali sue em cataratas, o calorão do Rio nem chega a ser notícia.

Para entender o Phoenix é preciso saber que a banda não deriva das guitar bands que antecedem o indie, mas se vale dos teclados para salientar um clima dançante comum ao revival 80s que marca a geração pós anos 00. Tudo isso - guitarras e teclados - gira em torno de Laurent Brancowitz, que se reveza nos dois instrumentos e comanda a banda no palco, formando um eixo central com o ótimo baterista Thomas Hedlund, preciso e pesado até demais para uma banda como o Phoenix, e o próprio Mars. É Brancowitz, por exemplo, o responsável pelas passagens de teclado colantes na cool “Trying to be Cool” e de “Lovelife”, e pelos pequenos solos de guitarra de “Too Young”. Detalhes que, se não observados por uma plateia aerobicamente delirante e embalada pelas músicas em si, explicam a adesão do tipo bumerangue.

O guitarrista e tecladista Laurent Brancowitz ao lado de Mars: dois terços do eixo central do Phoenix

O guitarrista e tecladista Laurent Brancowitz ao lado de Mars: dois terços do eixo central do Phoenix

Entre as mais recentes, o público pira pra valer na meio brega “Fior di Latte”, quando o pedido para que se “cante só mais um refrão” é atendido antes dele – o refrão – chegar, e em “Lovelife” – de novo. No “bloco Strokes“, com “Consolation Prizes” e “Rally”, a festa é total; o encerramento com “Rome” tem instrumental poderoso; “1901″, no arremate final, é a consagração plena do hit maior da banda; e só o início do bis, acústico, com voz + guitarra xôxa, subtrai do público a animação. O show, contudo, acaba como se anunciava. Não é a primeira vez que Thomas Mars se joga sobre o público, e nem será a última. Também não se trata do primeiro mosh/body surfing de músicos no Circo Voador, que carrega essa vocação de berço. Mas navegar sobre a plateia filando cerveja e subir nas arquibancadas não pelas escadas, mas nos braços do povão, para depois fazer o caminho de volta, isso nunca se viu debaixo da lona. O público, cada um ali, se esbaldou de verdade, mas poucos se divertiram tanto como esse sujeito.

Set list completo:

1- J-Boy
2- Lasso
3- Entertainment
4- Lisztomania
5- Trying to Be Cool
6- Tuttifrutti
7- Lovelife
8- Consolation Prizes
9- Rally
10- Long Distance Call
11- Too Young/Girlfriend
12- Ti Amo
13- Armistice
14- If I Ever Feel Better
15- Rome
Bis
16- Goodbye Soleil
17- Countdown
18- Telefono
19- Fior di Latte
20- 1901
21- Ti Amo Di Piu

Thomas Mars inicia a longa caminhada sobre o público até alçar as arquibancadas sem usar as escadas

Thomas Mars inicia a longa caminhada sobre o público até alçar as arquibancadas sem usar as escadas

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