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Tocante

Fisicamente debilitado, Phil Collins estreia no Brasil e comanda super banda com hits consagrados no pop planetário. Fotos: Daniel Croce.

Phil Collins canta sentado em uma cadeira no centro do palco: saúde debilitada e voz intacta

Phil Collins canta sentado em uma cadeira no centro do palco: saúde debilitada e voz intacta

A imagem que emociona não é só a última nem quando uma música ou outra mais conhecida é tocada. O público que enche o Maracanã - cerca de 42 mil pessoas, segundo os produtores - nesta quinta (22/2) sob suspeita de dilúvio e outras ameaças mais aplaude vigorosamente um senhor que entra devagar com um a bengalinha para ocupar a cadeira central do palco, de onde, diferentemente de outros tempos, não pode sair antes do término do show. Com a voz intacta, contudo, acompanhado por uma bandaça que chega a ter 15 integrantes, Phil Collins, enfim, apresenta seu show solo no Brasil, escorado em hits consagrados pelo pop planetário sobretudo na década de 1980, quando a música boa e grudenta tinha lá seu valor. E que, por causa disso, permanece.

Talvez pela debilidade do cantor – e a escolha acaba se mostrando apropriada – o show comece não com as pedradas dançantes com a mistura de rock, funk e pop que consagrou Collins, mas com aquelas baladaças que, de outro lado, também são marcas registradas de sua carreira solo. Quem mandaria, logo no início de um show, “Against All Odds (Take a Look at Me Now)” e “Another Day in Paradise”, coladinhas? E o resultado é a cantoria ampla, geral e irrestrita, como em uma ponte para o público se refazer da tocante entrada do músico no palco. De sua cadeira giroflex com um tamborete do lado, Phil Collins imposta a voz como pode, deixa a mão esquerda trêmula ser ampliada nos telões – a direita se prende ao microfone – e o público brasileiro, enfim, se encontra com este gigante da música pop, naquela adorável sensação de “antes tarde do que nunca”.

O guitarrista Daryl Stuermer, que acompanha Collins há muitos anos, na frente do quarteto de metais

O guitarrista Daryl Stuermer, que acompanha Collins há muitos anos, na frente do quarteto de metais

Estrela por corrente sanguínea, o imberbe Nicholas Collins, com 16 anos, se sai muito bem na bateria, em uma banda de sujeitos cascudos que inclui Daryl Stuermer, guitarrista de turnês do Genesis desde mil novecentos e antigamente, e o baixista e lenda viva Leland Sklar, 70, requisitado músico de estúdio que já gravou com Deus e o mundo. É a entrada de um quarteto de metais, em “I Missed Again”, que engrena a apresentação, muitas vezes convertida em um bailaço de primeira, com os quatro vocalistas de apoio circulando pelo palco e fazendo as vezes do frontman impossível na figura de Collins. O dueto que eles fazem com o cantor no meio de “Easy Lover” é um dos melhores momentos da noite, em que pese a alta rotação do videoclipe de Philip Bailey, do Earth, Wind & Fire, no qual Phil Collins era convidado, embora coautor da música, nos tempos em que isso tinha importância.

A eficiente metaleira também deixa a saudade de “I Cannot Believe It’s True”, curiosamente omitida em toda a turnê “Not Dead Yet Live”, iniciada em junho do ano passado. O repertório, em comparação com outros shows do giro, é encurtado em três ou quatro músicas, em um cruel plus a menos para quem esperou por tanto tempo esse show no Brasil; no total, não passou de 1h40. Mas cabe a citação do Genesis mais prog, que esteve ali do lado, no Maracanãzinho, em um histórico show em 1977, com “Follow You Follow Me” transbordando imagens da banda no telão; e do Genesis mais pop, mas não menos relevante, com “Throwing It All Away” e “Invisible Touch”, uma das mais aplaudidas em toda a noite, por um público diversificado ao extremo, o que dá uma amostra do alcance do cancioneiro de Collins, mesmo no Brasil. Uma pena a omissão de músicas do ótimo álbum “Genesis”, de 1983, mas o show – relembre-se - é do Phil Collins.

Lenda viva da música, o baixista Leland Sklar, 70, requisitado músico de estúdio há mais de 50 anos

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Por isso há momentos de grande impacto em “In The Air Tonight”, uma canção climática de berço, e que se torna terreno fértil para Nicholas brilhar na entrada pulsante da bateria e para emocionar o público em uma humana sensação de continuidade que Rick Deckard não compreendeu. A música é a deixa para engatar a sequência final com um número emendado no outro, incluindo a bobinha, mas querida “You Can’t Hurry Love”, “Dance Into the Light”, de uma fase pouco representativa, mas turbinada com um show dos metais, e a inefável “Sussudio”, com direito a chuva de papel picado e serpentina. A climática “Take Me Home” preenche o bis solitariamente com razoável cantoria, em um tom de despedida marcado pela imagem de Phil Collins saindo devagar, de costas, exibida no telão. Not dead yet.

Set list completo:

1- Against All Odds (Take a Look at Me Now)
2- Another Day in Paradise
3- I Missed Again
4- Hang in Long Enough
5- Wake Up Call
6- Throwing It All Away
7- Follow You Follow Me
8- Only You Know and I Know
9- Separate Lives
10- Something Happened on the Way to Heaven
11- In the Air Tonight
12- You Can’t Hurry Love
13- Dance Into the Light
14- Invisible Touch
15- Easy Lover
16- Sussudio
Bis
17- Take Me Home

Nicholas Collins, 16, filho do Homem, e a sensação de continuidade deixada pelo show do Maracanã

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Clique aqui para ver como foi o show do Pretenders, na abertura.

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